Uma semana que Hanna não conseguia colar os pedaços de seu coração destruído. Como fora capaz de acreditar que o professor gostava dela ao menos um pouco? Nessa semana que havia passado, ele mal a tinha olhado nos olhos.
- Hanna, você precisa relaxar e vai ser hoje.
Hanna ergueu o rosto do travesseiro macio dela e fitou os olhos verdes afiados de Tess. A amiga não aguentava mais ver Hanna debulhando-se por um cara imbecil. Está bem, ela incentivou a amiga a mergulhar nessa história sórdida, mas não pensava que a ingenuidade de Hanna fosse tão grande. Homens querem apenas uma coisa: sexo. Sentimentos são para os fofos.
- Relaxar como?
Tess suspirou e deitou-se ao lado da amiga, olhando para o teto coberto por posteres de bandas indie. As duas eram tão iguais e diferentes ao mesmo tempo. Hanna ficava rondando Emma como uma sombra, por causa da obsessão da mãe em tê-las como melhores amigas. Depois de um tempo, Tess percebeu que aquela garota não era mais uma seguidora fiel da imaculada Emma, mas era um ser vibrante precisando se descobrir. Um tropeço, palavras xingadas ao vento e a amizade começou.
- Hoje tem uma festa de uns amigos do meu irmão. Você precisa ir comigo.
- Não. - gemeu, fechando os olhos. - Não quero ir.
- Só álcool irá te desintoxicar desse professorzinho de merda. Hanna, por favor, você precisa relaxar... Quem sabe um novo romance?
Hanna riu amarga, porém, não recusou. Álcool iria sim ajudá-la a esquecer-se ao menos o quanto Diego é quente. Argh! Já tinha pensado nele de novo.
Mais tarde, com uma calça jeans justa e top de couro, Hanna maquiava-se. Ela nunca gostava de passar "reboco" no rosto, mas queria esquecer. Esquecer-se de tudo. Então, seria uma Hanna Watt que ninguém conhecia.
Eva e Paul tinham saído para um jantar importante com alguns artistas plásticos. Eva estava investindo em uma galeria de arte, queria estar mais jovem, e, as riquezas que conseguia expor na galeria, trazia mais vivacidade à pele cansada.
O telefone tocou quando Hanna estava para sair, o carro de Tess já buzinava ferozmente na rua. Revirando os olhos, a morena voltou e pegou o telefone sem fio, mas já tinha caído na mensagem de voz.
- Família, aqui é Janine! Sim, sei que faz tempo, mas eu estou voltando para minha pátria - riu. - Volto no verão, fui convidada para um filme e LA será minha casa, porém, também visitarei meus pais amados e minha irmãzinha remelenta favorita. Amo muito vocês, apesar de tudo.
- Puta que pariu, Janine está de volta.
Janine Watt é a irmã mais velha de Hanna. Quando tinha dez anos, soube que teria uma irmãzinha, adorou a ideia, já estava mocinha e entendia que a irmã seria sua princesa. Com quinze anos, foi descoberta como modelo. Ela já fazia alguns books fotográficos, até que uma companhia de sapatos, no início, a convidaram para desfilar.
Eva não queria que a filha se aventurasse pelo mundo em busca de uma carreira instável. Já tinha planejado tudo, a filha se formaria como advogada e seria o orgulho da família. Bem, Janine bateu o pé até conseguir ser emancipada. Depois que a filha mais velha largou os estudos para seguir carreira de modelo, nunca mais voltou. Apesar de ficar famosa, essa era a primeira vez que Janine Watt falava com a família em anos.
Ainda sem muita reação, Hanna saiu e entrou no carro da amiga. Estavam atrasadas para a festa.
- Que cara é essa? Parece que viu fantasmas.
- Minha irmã está voltando.
Tess freou o carro, chocada. Como assim irmã?!
- Você tem uma irmã?!
Hanna sentiu as bochechas esquentarem, olhou para a janela antes de responder.
- Sim. Ela é mais velha.
- Por que nunca me contou? Hanna, não sei se você sabe, mas amigas contam coisas importantes umas para as outras! Eu super acho a existência de uma irmã, algo importante.
- Nunca falei porque você ficaria louca. Minha irmã é Janine Watt.
A ruiva arregalou os olhos. Porra! Ela odiava Janine Watt! Uma modelo que vivia estampando capas de revistas de Emma, que era símbolo de consumismo americano. Deus! Sua amiga era irmã da modelo que tinha casas no sul da França com o namorado da vez, um diretor de cinema famoso.
- Vadia, sua irmã é Janine Watt.
- Pois é - apertou as mãos, nervosa. - Será que podemos fingir que isso não aconteceu? Estamos indo para uma festa e quero esquecer quem sou.
- Você está certa... Mas... Janine Watt! Isso é difícil de acreditar.
Respirando fundo, Hanna deixou que Tess falasse a vontade, mesmo que estivesse perdida em pensamentos. A irmã tinha ido embora quando Hanna tinha apenas cinco anos, mal se lembrava da fisionomia dela, além de algumas fotos escondidas. A mãe tinha jogado quase tudo fora.
- Chegamos.
A casa estava movimentada, música explodindo pela rua. O gramado tão verde estaria abarrotado de copos vazios e corpos desmaiados na manhã seguinte. Luzes piscavam na batida da música envolvente.
- De quem é essa festa mesmo?
- Gil, amigo do meu irmão. Você sabe, essa é uma festa universitária, então se divirta!
Tess entrou na casa gritando no ritmo da música, pegou um copo de bebida alcoólica e tomou enquanto dançava, deixando tudo a flor da pele. Luke também estaria na festa, então ela tinha que aproveitar antes que ele ficasse cheio de ciúme.
Já Hanna estava meio sem jeito, encostada perto da escada, um copo com bebida na mão. Apesar de a bebida entorpecer alguns sentidos, não a deixava tão louca para dançar como Tess estava dançando.
- Você é nova - uma voz disse perto do ouvido dela.
Levantou os olhos e fitou aquele rosto com um sorrisinho cafajeste. Era alto, magro, mas tinha seus músculos. O cabelo castanho estava bagunçado como se tivesse acabado de sair de uma transa, e, talvez fosse esse o caso.
- Faço dezoito em julho!
- Ei, calma - levantou as mãos, o sorriso ainda no rosto. - Eu quis dizer que não te conhecia.
- Ah, entendi - sussurrou constrangida.
Por que quis mesmo ir naquela festa? A imagem do professor de espanhol dizendo à esposa que ela era só um simples caso, alguém disponível, queimou em sua mente. Ela queria exorcizar aquele dia. Percebeu que o cara ainda falava com ela, mas não lembrava o quê.
- Desculpe, poderia repetir?
- Eu perguntei se você não queria subir... Para o meu quarto.
Ele devia ser o anfitrião, o amigo do irmão de Tess. Qual era mesmo o nome dele? Bill? Phil? Não sabia e nem precisava saber. Estava ali para esquecer os problemas e esqueceria. Por que não fazendo algo com que era boa? Sexo, ela era boa nisso. O outro dizia isso ao pé do ouvido dela toda vez após uma rodada agitada.
- Claro, vamos nessa.
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EMMA
Teen FictionO que fazer quando sua vida é toda manchada por erros? Será o ódio e a inveja maior que o próprio sangue? Só rivalidade traz o que há de pior no ser humano: a crueldade.