09 de Fevereiro, 2018

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Sexta-feira.

Fazia alguns dias desde que o falecimento de Emma Walker completara um mês.

Todos estavam desolados.

Kara estava tão abalada, que não conseguia dormir na casa que teve tantos momentos bons com a filha. A cada objeto, tinha uma lembrança e, essas lembranças ardiam como brasa em seu peito.

Ela preferiu mudar-se de casa, de cidade, de estado.

Não queria que o passado a assombrasse em cada olhar de piedade. Não queria ver que seus feitos como mãe e esposa falharam miseravelmente.

De toda uma família estruturada e recheada de amor, sobrara apenas David, que nem de seu ventre era.

Mas, ele era o que ainda a mantinha em pé, dia após dia.

- Kara, não se vá - pediu Eva à irmã. - Esse sofrimento não passará sozinho. Você precisa de nós, da sua família.

Kara fitou os olhos de Eva, com uma expressão que a irmã sabia que a decisão era irrefutável.

- Não há felicidade para mim e David aqui em Berkeley.

Hanna, que acabava de chegar em casa, escutou as palavras da tia como se um soco a ferisse.

- Você não pode ir embora! - gritou, a voz desesperada. - Não pode tirar David de mim! Por Deus, tia!

Os olhos castanhos de Hanna imploravam por misericórdia. Além da culpa a consumindo, não poderia perder o único fio de sanidade que ainda mantinha.

Seu filho, seu menino. Ele ainda era uma criança. E a amava tanto! Seria um desastre emocional para ambos.

- Hanna! Não fale assim com sua tia. - repreendeu Eva. - Também sentirei a falta deles, mas não é uma decisão nossa, querida.

- David é meu filho - Kara disse de tal forma o pronome possessivo, que Hanna calou-se no mesmo instante. - Caso queira visitar-nos, Portland não é tão longe. Será sempre bem-vinda. Todos vocês - fitou agora o rosto da irmã. - Preciso ir, só vim avisar-lhes sobre minha mudança.

Eva sentiu que os olhos enchiam-se de lágrimas. Não gostava nada de ter a irmã tão longe em um momento difícil como aquele, mas, Kara não era uma criança. Ela sabia de seus limites e em Berkeley, todos eles estavam sendo ultrapassados.

- Boa sorte, minha irmã.

Com um abraço entre irmãs, elas selaram o fim de um elo tão bonito e intenso que sempre tiveram.

Kara olhou para Hanna, que estava petrificada, chorando lágrimas silenciosas.

- Hanna - chamou-a baixinho. - Sinto muito.

A morena apenas soluçou ruidosamente, enquanto via a tia partir. Tudo estava a esmagando pouco a pouco. Seus erros pesavam uma tonelada e ainda assim, mesmo sufocando, era obrigada a manter-se em pé. Talvez não por muito tempo.







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