05 de Janeiro, 2018

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O céu chorava. Cada gota de chuva em Berkeley, era como uma lágrima de dor. Uma manhã que deveria ser a véspera de um acontecimento tão ansiado, tornou-se um lamento cinzento.

Emma Walker estava sendo enterrada.

Desespero.

Essa é a palavra que resumia o sentimento de Kara quando viu o gelo quebrado no lago há dois dias. Ela sentia que a filha estava ali, nas profundezas gélidas daquelas águas.

Gritou uma, duas, três vezes.

Correu. Escorregou. Chorou. Tentou jogar-se nas águas para encontrar a filha.

Matt ouviu os gritos e sentiu a dor no momento que viu o desespero da sogra.

Procuraram por um traço de vida e encontraram apenas um corpo frio.

Emma teve a vida seifada pouco antes do casamento, em uma tragédia colossal na vida dos Walker e Watt.

Hanna chorou enquanto cuidava de David. Se sentia culpada, mas não tinha como voltar no tempo. Teria que conviver com o ódio dirigido a si mesma.

Se sentia uma assassina. E talvez o era. Negou socorro. Mentiu.

Bem... que tipo de mãe seria ela para o pequeno que a agarrava com as mãos firmes? Kara sempre foi a melhor opção. Como foi tola ao acreditar que um filho substituiria outro! Porra!

Ela faria o quê? Contaria a verdade? Fingiria estar surpresa? Morreria de remorso? De qualquer forma, nenhuma alternativa era boa.

Então preferiu o silêncio. E nele ficou até o enterro.

No cemitério municipal de Berkeley, encontrava-se todos que um dia teve o prazer de conhecer Emma. Ela era uma pessoa querida.

- Céus! Eu não gostava dela, mas nunca desejei mal - comentou Tess, ao lado da amiga, embaixo de um guarda-chuva. - Que puta tragédia.

Hanna mordeu o lábio trêmulo para segurar o choro. Já tinha os olhos inchados e avermelhados por um bom tempo. E teria que se acostumar a isso.

- Emma não merecia nada disso - sussurrou, apoiando-se nos ombros da ruiva. - Tess, não consigo mais ficar aqui. Leva-me para casa, por favor?

Tess assentiu, dando um beijo na bochecha da melhor amiga.

Hanna despediu-se dos pais com um aceno, eles entenderam que a filha precisava de um tempo sozinha. Era tudo muito denso e triste, Hanna sempre foi emocional demais para aguentar essas coisas.

A última cena que a morena viu antes de ir embora com Tess, a marcou profundamente: os tios chorando, apoiando-se um no outro, enquanto o coveiro jogava terra no caixão da prima.

Não aguentou mais segurar as lágrimas.

Culpada!

Você é a culpada!

Deveria ter sido você no lugar de Emma.

Hanna tapou os ouvidos, mesmo que as vozes estivessem em sua própria cabeça.

Ela não sabia o quanto faltava para ficar louca. Talvez algumas horas, constatou, quando entrou no carro de Tess.

A culpa sempre a perseguiria.







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