Echo.

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No dia seguinte, depois de irmos ao mercado e ao shopping fazer algumas compras com o dinheiro adiantado que havia me restado, Ivy me deixou em casa e a mesma voltou de táxi para a empresa, esperando não levar uma bronca por chegar tarde. Nossa noite havia sido divertida, não fizemos nada além de conversar, comer pipoca e rir dos relatórios de Jean Pablo. O homem era louco e não admitia erros da parte das modelos, como se elas tivessem de ser perfeitas 24 horas por dia.

Tomo um longo banho e sento na penteadeira, utilizando as maquiagens que havia comprado. Alguns minutos mais tarde, e agora, já pronta para passar o dia em plena loucura e ar livre ao lado de Noah, preparando os detalhes do desfile que faltavam, sinto uma lembrança estalar em minha cabeça.

Chuck.

— Merda! — exclamo, pegando o celular.

Telefono para Chuck e espero cerca de 5 minutos até ouvir sua voz rouca, porém doce, do outro lado da linha.

— Ora, ora, quem resolveu ligar depois de dias!

— Chuck! Por Deus, me desculpe! — falo, aflita. — Estou tão ocupada com todas as coisas da empresa e do desfile que me esqueci completamente. Como vão as coisas?

Ele suspira.

— Tudo bem. As coisas estão fluindo, o restaurante está crescendo bastante. E como está sua nova vida?

— Perfeita! — deixo claro. — Hoje à noite quero que venha jantar comigo. Podemos?

— Desculpe, tenho um compromisso. — diz, com ar de tédio. — Pode ser depois de amanhã?

Sorrio, aliviada.

— Sim!

— Ótimo! Preciso ir agora. — ele fala. — Até mais.

— Até, Chuck.

A conversa de longe fora longa, fora menos do que pequena, mas eu me sentia aliviada por saber que ele não havia se chateado pela minha repentina ausência. Eu não podia sumir assim da vida de Chuck. Ele foi a única pessoa, de muitas, que decidiu estender a mão para mim e me erguer enquanto outros pisavam em mim e riam da minha desgraça. E além do mais, ele era meu amigo agora. Não abandonamos amigos de uma hora para outra.

Decido comprar um presente para ele. Talvez um perfume.

Olho para o relógio e está perto do horário do almoço. Onde está Noah? As minhas pernas balançam nervosa e começo a ouvir o murmuro de fome de minha barriga. Alguma coisa aconteceu ontem e agora, para melhorar tudo, ele estava sumido. Tomo a liberdade de pegar minhas coisas e descer até seu apartamento. Estranhamente, encontro à porta do mesma aberta.

— Noah? — falo alto. — Noah! Está tudo bem?

Nenhuma resposta.

Caminho em direção ao corredor e antes que possa chegar até o mesmo, uma mulher sai em disparada de seu quarto, pondo as roupas de qualquer forma e correndo para fora dali, gritando algo sobre ela não ter nada a ver com aquilo.

Noah aparece na porta também, com olhar desesperado e cabelo desgrenhado.

— Echo? O que você está fazendo aqui?

— Nós tínhamos combinado de... — sinto minha garganta dar um nó. — Quer saber? Esqueça. Está claro que está se divertindo aqui.

Caminho em direção à porta, mas a mão grande e forte de Noah agarra meu braço e me puxa de volta para si. Ele está só de cueca e eu poderia dizer que aquele momento era um dos mais excitantes de toda minha vida se ele não estivesse com hálito de bebida e olheiras terríveis.

— Me larga! — grito, puxando meu braço de volta.

— Eu posso explicar Echo. Espere!

— Não. — caminho para a porta. — Você não tem nada para me explicar, não sou nada sua. Ponha logo a merda do seu terno, pois você tem muito que resolver hoje. E aconselho que arrume outra pessoa para te ajudar, odeio homem com bafo de bebida. Vou para empresa terminar os relatórios de Jean Pablo e fazer o que estiver faltando fazer de lá mesmo.

Bato a porta e saio enfurecida.

Como ele pode fazer algo assim? Esperava tudo de Noah, menos aquilo. Aquele seu lado não conhecia e meu maior erro foi crer que ele era o protótipo de homem perfeito. Sem paciência para esperar o elevador desço pelas escadas, mas paro depois de dois lances e sento ali mesmo. Não conseguia descer de salto e não conseguia pensar depois de ver aquela cena. Ele flertou comigo. Disse que queria algo sério e que queria sair comigo. E então, depois de alguma ligação, ele corre para os braços de uma puta e se esquece de tudo o que disse para mim.

O seu hálito fedia como os dos homens que chegavam bêbados ao prostíbulo de Kirk, o jeito que segurou meu braço era como os homens faziam quando me negava a lhe dar prazer. Por mais que eu tentasse esquecer, não conseguia. O meu passado fazia parte de mim. As cicatrizes deste passado estavam cravejadas em minha alma e eu jamais as esqueceria. Era parte de mim. De quem eu sou. Quando me dou conta, estou soluçando e a maquiagem escorre por todo meu rosto.

Subo as escadas sem sapato até o último andar.

— Echo! Echo abre essa porta! — Noah está lá, batendo na porta. — Por favor, abra a porta! — agora seu tom deixa de ser rígido para algo mais choroso. Ele senta na porta e inclina sua cabeça. — Eu sei que fui um idiota, mas eu posso explicar. Eu gosto de você... — sussurra quase inaudível.

— Gosta tanto de mim que estava na cama com uma mulher? — digo, saindo das escadarias. — Esqueceu-se de tudo que falou para mim? Sobre relacionamento sério e me conhecer melhor?

— Echo! — ele levanta, correndo em minha direção e me abraçando com força. Permaneço parada. — Por favor, vamos conversar. Por que você está chorando?

O soco no peito.

— Por que eu odeio você! — grito. Dando-lhe várias tapas. — Odeio, odeio, odeio!

Ele agarra minhas mãos e as põe para baixo, passando a mão disponível em meu rosto, limpando a maquiagem borrada. Seu polegar toca minha boca, e seus olhos negros estão fixos em mim. Com minhas mãos presas perto de seu peito, posso sentir sua respiração descontrolada.

— Meu amigo sofreu um acidente. Sei que fui errado, mas enlouqueci e acabei passando da conta, aquela mulher se aproveitou do meu momento de fraqueza. Perdoe-me! — ele diz, suplicando, mas continua sussurrando.

— Sinto pelo seu amigo, mas isso não justifica.

— Echo, por favor! — ele suplica novamente. — Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa para você me perdoar, é só me dizer o que.

Sem aguentar mais seus lábios tão próximos do meu, seu corpo tão quente colado ao meu, sussurro:

— Mostre que está arrependido, Sr. Wood.

Sem mais de longas, seu olhar se ergue em um tom clichê e pervertido, me empurrando contra a parede e agarrando minha coxa, que ele põe perto de sua cintura, seus lábios cobrem o meu em um beijo fervoroso, quase violento, mas ao mesmo tempo com paixão e intensidade. Finco as unhas em sua cintura, por cima da blusa e o trago mais para perto, era nítido sentir o arrependimento no gosto das suas lágrimas salgadas que se misturavam em nosso beijo úmido e quente.

E naquele momento eu soube que estava perdida. Naquele momento eu soube que não havia mais nada no mundo que eu quisesse, a não ser Noah. 


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