Noah

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A sirene da policia se desligou e senti meu sangue ferver quando fiquei de frente para a porta da casa daquele desgraçado do Frederick. Eu esperava que ele tivesse morrido de overdose, pós-arrependimento. Assim pouparia a todos do sacrifício.

— Tem certeza que é aqui? — um dos policiais pergunta.

— Sim. Por quê?

Ele baixa a cabeça e busca seu rádio.

— A casa está vazia, invadimos pelo fundo. — diz, com desprezo. — Mas entraremos com o serviço de busca, ele pode estar em alguma cidade próxima. O carro dele não está na garagem.

Abro a porta do carro com força.

— Descrevo o carro e a placa com todo prazer. — digo.

— Claro senhor.

Depois de descrever o carro decido voltar para o hospital. Minha vontade de vingança e justiça era mil vezes menor do que minha vontade de ficar ao lado da minha noiva e lhe dar suporte. Fiz o trajeto rápido, como se meu carro fosse um foguete cortando o espaço.

O celular toca.

— Você disse que estaria aqui quando acordasse... — ouço uma voz adormecida e fraca.

— Desculpa meu amor, estou estacionando o carro e subindo para o quarto.

— Não precisa, o enfermeiro está descendo comigo. Recebi alta.

— Você não está internada nem 24 horas direito, Echo...

Ela abre a porta do carro e entra, com dificuldade. Deita o banco do carro e suspira fundo, soltando um obrigado enfraquecido para o enfermeiro, que lhe dá bom dia e volta com a cadeira de rodas para o elevador.

— Sua mãe ligou para o médico que cuidava de mim.

— Deus, eu sabia... — reviro os olhos.

— Ela contratou um enfermeiro do hospital para cuidar de mim durante suas semanas.

Arregalo os olhos.

— Ela o quê?

— Eu adorei. — ela sussurra, prendendo o cabelo castanho sujo.

— Você o quê?

— Noah, acorde! — ela belisca meu braço e eu urro de dor. — Estava cansada de ficar nesse hospital. As paredes brancas me enlouquecem. Pelo menos lá, posso ver pessoas, conversar com alguém que não sejam médicos e não me espetem agulhas de cinco em cinco minutos.

Suspiro.

— Tudo bem, vou te deixar lá agora mesmo e volto para casa para fazer nossas malas.

— Bem...

— Ela conseguiu fazer com que Joshua e Ivy fossem lá e cuidassem disso, não foi? — interrompo.

Ela faz que sim, rindo.

— Ela só está preocupada.

— Você está adorando.

— Estou. — sussurra sonolenta.

Sorrio.

— Então eu estou bem também.

...

Somos recebidos por minha mãe de forma mais alegre que o normal. O enfermeiro colocou Echo na cadeira de rodas e a levou para dentro da casa. Depois de almoçar ouvindo mais e mais recomendações de minha mãe e ver Caleb, Joshua e todos os outros da mesa se divertindo com isso, menos eu, finalmente, pude ir para o quarto com Echo descansar.

— Você está tenso. — ela diz, apertando meus ombros.

— Frederick está soltos por aí. Não vou pregar os olhos de noite.

Ela suspira.

— Esqueça isso. Que mal ele pode fazer? É um alcoólatra tentando sustentar seu vício. O principal perigo está preso numa cadeia de segurança máxima, pelo que vi no jornal.

— E você não quer saber como Frederick soube de você aqui e te entregou para Kirk? Como ele soube do próprio Kirk e sua história?

— Sim, Noah. Óbvio. — diz, em tom de tédio. — Mas algumas coisas, para o nosso bem, precisamos deixar a policia resolver. E quando resolver, podemos viajar e curtir nossa lua de mel.

Viro-me, com um sorriso largo em meu rosto e beijo sua barriga delicadamente.

— Quer curtir nossa lua de mel?

Pisco.

Ela ri me dando uma tapinha no ombro.

— Deixa de ser bobo!

— Fico bobo por que estou diante da mulher mais bonita do planeta. E o melhor, a tenho só para mim! — digo, avançando para cima dela e a beijando, com cuidado para não tocar seu machucado recente.

— Com certeza, um bobo.

Balanço a cabeça, sorrindo.

Duas semanas depois.

Depois de levar Echo para tirar os pontos, estávamos voltando para casa e nos preparando para fazer as malas. Entramos em um consenso e decidimos que por mais inútil que Frederick pudesse ser não sabíamos se Kirk tinha capangas de sobra à solta e se poderiam seguir Echo. Por tanto, estávamos partindo para nossas viagens de lua de mel, que serviriam para despistar qualquer um que tentasse nos seguir, já que não ficaríamos em um só lugar e sim, passeando o tempo todo.

Cuidei para que minha mãe e o resto da família viajassem para algum outro lugar também, logicamente, em segredo. Fechamos a empresa temporariamente e, agora, estávamos sentados no sofá.

— Acha que essa cicatriz vai ficar para sempre aqui? — Echo pergunta.

— Não me importo. Você fica linda de qualquer forma, meu anjo.

Ela ri.

— Ansiosa para viajar?

— Sim. Aonde vamos primeiro?

— É uma surpresa.

Ela me olha com ar de riso, e ao mesmo tempo, incrédula. Como pude fazer isso com ela, ela deveria estar pensando. Mas eu me divertia com aquele seu jeito curioso de ser.

— Quer pipoca? Podemos ver um filme até dar o tempo de irmos para o aeroporto.

— Tudo bem. —diz, derrotada.

Beijo-a e levanto do sofá, indo fazer a tal pipoca enquanto ela murmura "não" repetidamente ao passar por diversos nomes de filme. E, de repente, ela pula do sofá, gritando:

— Sim, sim, sim! — e pondo a mão na perna. — Ai, ai, ai!

Rio.

— Ei, cuidado aí, donzela em repouso.

Ela me lança um olhar furioso, como se fosse receber um soco ou algo muito pior, mas ao invés disso, me dá língua e se joga no sofá fazendo careta feito uma criança.

Depois de alguns minutos, sento ao seu lado e levo um pouco de pipoca à sua boca, beijando sua bochecha. Sinto ela se elevar um pouco, então sei que está sorrindo.

— O que vamos assistir?

— Transformers! — ela diz, batendo palmas.

Rio.

Aquele era o nosso filme preferido em comum.

— Amo você. — digo.


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