PRÓLOGO

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NATAL DE 1995

NICOLAS

Era noite de Natal estávamos nos preparando para ir à pizzaria do Beny. Papai e mamãe falavam que meu padrinho havia preparado uma enorme festa para que todos nós comemorássemos juntos. Bernardo e eu estávamos eufóricos e quase não conseguíamos esconder toda a excitação que sentíamos com aquilo. Meu irmãozinho adorava festas mais do que qualquer outra pessoa e eu apenas gostava de vê-lo agitado daquela forma. Era divertido!

Bernardo Barcellos era filho da namorada e futura esposa de papai. Nós dois havíamos nos conhecido há alguns meses, tempo suficiente para que duas crianças se tornassem inseparáveis. Bernardo era um garoto miúdo de cinco anos que tinha os cabelos encaracolados e olhos claros muito grandes que se destacam em seu rosto redondo. E ao contrário de mim, uma criança de oito anos, ele era completamente hiperativo, fazendo qualquer um ir à exaustão com seu pique.

Tomas Meireles, meu pai, um arquiteto bonitão e divorciado. Minha mãe havia nos deixado quando eu tinha dois anos. Não conseguia ter alguma lembrança dela e, talvez, tenha sido esse um dos motivos por ela nunca ter feito falta em minha vida. Papai jamais costumava falar dela e mesmo criança, sabia que aquilo o incomodava, por essa razão me tornava um menino bonzinho que não gostava de irritá-lo. Ele sempre havia cuidado de mim e antes de conhecer Lívia e Bernardo, Tom sempre havia sido o suficiente para mim. Papai era um homem carinhoso, um pai daqueles que te colocam para dormir, que contam uma história antes de você pegar no sono e que te dá um beijo de boa noite. E claro, tudo o que eu queria ser quando crescesse, era ser como ele: um grande arquiteto!

Lívia Barcellos, que eu havia adotado como mãe, era uma advogada divorciada que papai havia conhecido na empresa onde trabalhava. Havia me apaixonado por ela na primeira noite em que papai a levou para jantar em casa. Era notável a preocupação dele com minha reação ao conhecê-la, afinal, nunca precisei dividi-lo com ninguém, mas a ideia de ter uma mãe tinha me animado tanto, que naquela noite a roubei de meu pai, tomando toda sua atenção para mim. E Lívia era a mãe de Bernardo, que acabei conhecendo duas semanas depois do primeiro jantar.

Nós dois nos amamos assim que nossos olhos se encontraram. Simplesmente, fiquei tomado pela energia que emanava daquele garoto ativo e com um sorriso malandro no rosto, que no primeiro instante se manteve escondido atrás de sua mãe, até passar os olhos pelo ambiente e ter certeza de que aquele lugar era seguro. Papai e mamãe, claro, ficaram mais do que surpresos com a rapidez na qual nos aproximamos, já que dias depois, Bernardo e eu éramos duas crianças inseparáveis, e com o passar do tempo, nós já não conseguíamos ficar mais de um dia sem nos vermos, o que deve ter causado certa dor de cabeça em papai, que acabou me transferindo para mesma escola que Bernardo, para que pudéssemos passar mais tempo juntos.

Meu irmão e eu levávamos as professoras a loucura. Elas sempre estranharam a ligação que nós dois tínhamos, pois Bernardo podia se tornar uma criança muito irritante quando não facilitavam as coisas para ele, principalmente no intervalo, quando faltavam poucos minutos para que o sinal tocasse. Todos os dias, enquanto a professora se preparava para nos liberar, meu irmão se materializava na porta da sala, com as pernas magrelas entrelaçadas uma na outra, as mãos inquietas escondidas atrás do corpo e olhando sempre entre mim e a professora, que ficava nervosa com sua presença ali. Quem o visse, acharia que Bernardo estava apertado para ir ao banheiro, mas tudo isso não passava da ansiedade que sentia para que eu me juntasse a ele, e passarmos o intervalo inteiro juntos debaixo de uma arvore no fundo da escola. E quando finalmente o sinal estrondava, eu era o primeiro a levantar e ir ao seu encontro, segurar sua mão e, juntos, nós dois corríamos em direção ao nosso lugar favorito e lá ficávamos por vinte minutos inteiros, comendo, rindo e conversando sobre coisas banais de crianças da nossa idade.

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