25 SOZINHO

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N I C O L A S

Abandono: uma jangada que sai sem você dentro dela.

- Adriana Falcão

Pergunto-me quando isso aconteceu. Quando me tornei tão dependente de outra pessoa a esse ponto. Lembro da minha juventude, época da faculdade quando meus tios me cobravam um relacionamento estável. Naquelas ocasiões, costumava pensar o quão ridículo aquela ideia parecia ser. Nicolas Meireles apaixonado? Preso a um relacionamento? Amor? Isso era baboseira para mim, mas olha em que barco estou agora. Isso só faz com que eu me lembre do impacto que Théo causou em minha vida quando nos conhecemos. O sentimento foi tão sorrateiro e engenhoso que se quer me dei conta do que estava fazendo. Entregando meu corpo e minha alma para alguém dessa forma sempre me pareceu ser algo tão ridículo que acabei caindo em minha própria armadilha.

Encaro o teto do meu escritório e encaro as luzes com o olhar perdido. Meu corpo está exausto e minha cabeça um redemoinho de pensamentos apavorantes que não consigo afastar. Passei o dia inteiro tentar me ocupar e tirar minha cabeça de Théo. Passei cada minuto repetindo mentalmente para mim mesmo que o retorno do acordo com a prefeitura era um sinal de que as coisas estavam voltando aos eixos e que logo receberia uma mensagem ou uma ligação de Théo, mas isso não aconteceu. Seu celular continua desligado e não há qualquer sinal do meu namorado.

Deve ser por volta das seis da tarde quando estou deitado no sofá da minha sala. O cansaço tinha finalmente me vencido depois da longa e desgastante reunião com os engenheiros responsáveis pela obra da prefeitura. Poderia simplesmente ter pegado minha pasta e ido direto para o apartamento de Théo, mas algo me impediu de fazer isso. É como se eu estivesse evitando o inevitável. E estou quase deixando o sono me vencer quando o som oco de saltos sobre o piso me desperta. Ergo um dos braços e espio quando Stella caminha de forma confiante até a poltrona ao meu lado e senta sem dizer qualquer palavra. Solto um lento suspiro e tento deixar que o silêncio tome conta de tudo e que em algum momento ela perceba que não quero conversar. Não com ela. Mas é inevitável. Stella tem uma aura cintilante demais para que não seja notada, por isso sugo todo o ar antes de dizer algo.

- Você não foi a reunião. Foi importante. – a lembro, dizendo mentalmente para mim mesmo que isso é uma tentativa falha de irritá-la, pois Stella nunca deu motivos para que eu pudesse reclamar de seu trabalho. Mas minhas palavras não a afetam, claro.

- Tinha coisas mais importantes para resolver. – ela diz, com uma voz estranhamente tensa. Isso aguça minha curiosidade.

- O quê? – pergunto.

- Estou coletando informações sobre a sabotagem que sofremos. – ela diz e é como se meu corpo tivesse um distúrbio automático. Sento rapidamente e levo minhas mãos ao meu rosto. Não acho que sou capaz de entrar em mais uma discussão com quem quer que seja, por isso tento ter o mais direto possível com Stella.

- Nós já conversamos sobre isso, Stella... Por favor... – aviso, torcendo para que ela entenda e consiga sentir que estou completamente exausto e sem forças para continuar, mas Stella apenas mantém seus olhos verdes fixos em mim, como se estivesse travando uma guerra interna consigo mesma e só depois de um momento é que ela solta um leve suspiro, fecha seus olhos por um segunda e fala.

- O que sabe sobre a família D'Ávila? – a pergunta chega de uma forma estranha até mim. Abro a boca e as palavras quase saem automaticamente da minha boca, mas a fecho rapidamente e franzo a testa. Tento assimilar sua pergunta com a estranha sensação de reconhecimento daquele nome.

- É familiar, mas não consigo me lembrar. – falo, a encarando e vendo uma leve decepção passar por seu rosto. – Porquê está me perguntando isso? Quem são eles? – pergunto e Stella se põe de pé no mesmo instante.

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