O3 LEMBRANÇAS

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N I C O L A S

O tempo tenta sequestrar meu sorriso, mas resisto como uma criança com medo da mãe ao ralar o joelho. Engulo o choro, para não doer mais.

Clarice Lispector

É quarta feira e estou parado em frente ao escritório, observando o prédio intensamente até que um longo e forte suspiro escapa de meus lábios. Isso é uma terapia que venho adotando desde o primeiro dia de trabalho. Assistir a minha mais bela conquista e o maior sonho realizado faz com que eu acredite que tudo vai ficar bem. Às vezes, até arrisco imaginar papai ao meu lado, também admirando minha obra e apertando meu ombro, como se falasse: Eu sempre soube que você conseguiria! E um sorriso sempre me escapa quando imagino a cena, pois é uma de minhas poucas imaginações que não me deixa melancólico.

A Meireles Architecture&Designer tem crescido de forma tão assustadora, que vez ou outra é difícil acreditar que tudo está correndo como planejado. A empresa começou de forma tão tímida e reservada, que se quer esperei que as coisas acontecem tão rápido. O dinheiro que papai havia me deixado não foi o suficiente para bancar todo o projeto, mas Tio Lorenzo havia acreditado em mim e que eu era capaz de fazer aquilo, por isso havia investido da MA&D, e se não fosse por ele, talvez o negócio não estivesse funcionando tão bem. Mas claro, havia outras pessoas por trás do grande sucesso e uma delas é Stella, que se uniu a mim, tornando-se a administradora e advogada da empresa, que está na mais perfeita ordem graças a ela.

- Bom dia! – falo assim que passo por Lena, a secretária. Ele sorri simpaticamente para mim enquanto caminho em direção a sala de Stella, que sempre acorda muito cedo, sendo a primeira a chegar no lugar. – Oi! – falo, depois de bater na porta e colocar a cabeça dentro da sala. Stella está de cabeça baixa, parecendo muito concentrada em sua papelada quando ergue seus olhos verdes para mim. A expressão séria logo se desfaz e ela acaba rendendo um sorriso.

- Você parece muito disposto essa manhã! – ela observa enquanto deixo minha pasta sobre a cadeira e caminho até sua mesa onde há café. É como uma rotina. Sempre ir à sala de Stella antes de começar todo o trabalho e conversamos sobre nós, ou pelo menos sobre o que estamos dispostos a dizer.

- Mesmo? Minha noite não foi muito agradável. – revelo, ciente de que Stella está com seus olhos fixos em mim, enquanto eu, pareço mais interessado em meu café. Sento na cadeira em sua frente e apenas tento me sentir confortável, bebericando os primeiros goles da bebida fumegante.

- Os pesadelos continuam? – ela pergunta e fico calado por um instante, pensando na melhor forma de respondê-la.

- Com mais frequência do que gostaria. – digo, tentando sorrir de uma forma que não a deixe preocupada. Stella afirma com a cabeça cautelosamente, como se analisasse minha resposta. Eu a observo por um instante e sorrio internamente, pois nunca me canso de admirar sua beleza tão intensa. Seus olhos muito verdades e seu cabelo muito vermelho, criando uma combinação que faz dela uma mulher tão sexy e misteriosa, que quase me faz ficar interessado, mas acabo rindo ironicamente em minha cabeça, pois sei que Stella jamais seria capaz de me satisfazer na cama e muito menos eu seria digno de sua sedução.

- É a primeira vez que você tem tido esses sonhos nessa época do ano. – ela diz e eu afirmo com a cabeça, pois é a verdade.

- Acho que estou pensando nele com mais frequência do que gostaria, nos últimos dias. – revelo, vendo Stella recostar na cadeira e me assistir com mais atenção, como se estivesse muito interessada no que eu estava aberto a dizer.

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