11 SEGREDOS

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T H É O

Sempre há mais do que as pessoas pensam.

- Pretty Little Liars

Não consigo parar de pensar no quão ridiculamente irônico tudo isso está se tornando. Sair de Florianópolis e morar no Rio de Janeiro não está saindo bem como o planejado. Não estou reclamando do modo como as coisas estão acontecendo ou onde cheguei até agora. Digo, o quão melhor eu poderia estar sem tudo isso a minha volta? De certa forma, tinha seguido meus planos onde acabei encontrando um trabalho maneiro, amigos incríveis e conquistado uma independência que me dá a liberdade de ser quem eu realmente sou. O fato, é que Nicolas jamais fez parte dos planos, muito menos sua família e principalmente o dinheiro dela. A parte da ironia, é que Joana D'Ávila provavelmente estaria rindo da minha cara pelo simples fato de estar envolvido com uma família como a de Nicolas, que literalmente está muito bem de vida, pois quem diabos teria uma cachoeira particular? Mas por outro lado, fico tranquilo por estar conseguindo esconder um pouco de minha vida infeliz que, comparada a família Meireles, não era absolutamente nada.

- Você não precisa fazer isso, querido. – Isabel diz enquanto volta a cozinha para pegar mais uma das travessas. Nós havíamos voltado a cachoeira algumas horas antes e depois de tomar um banho e conseguir fugir mais uma vez das garras sexuais de Nicolas, tinha me oferecido para ajudar Isabel com o jantar. Ela relutou um pouco, numa tentativa de mimar a minha estadia no lugar, mas consegui ser persuasivo o suficiente para convencê-la de que essa seria uma ótima oportunidade para aprender alguns truques culinários.

- Não tem problema algum. Odeio ficar parado. – explico, lembrando que todos desmaiaram em seus quartos quando chegamos do passeio. A tia de Nicolas havia chamado todos há alguns minutos, mas ninguém ainda tinha descido.

- Ora, então você sempre foi um garoto ativo? – ela me pergunta e me recrimino mentalmente por pensar numa resposta irônica. Força do habito.

- Meu avô sempre falava que eu era movido a algum tipo de super pilhas que nunca acabavam a bateria. – falo, encolhendo os ombros quando Isabel dá boas gargalhadas enquanto afirma com a cabeça.

- Ah sim! Consigo imaginar o tipo de criança que você era. – ela diz enquanto organiza a cozinha. Eu estou sentado em um dos bancos, a assistindo. – Enzo também sempre foi um garoto muito dinâmico! – Isabel comenta.

Dinâmico? Eu diria que ele é um garoto... Pretensioso!

- Minha família não tinha muita paciência comigo, minha avó principalmente. – só percebo as palavras ditas quando vejo as sobrancelhas de Isabel erguidas em surpresa. Não estou realmente certo sobre sua expressão, mas tento manter a cabeça erguida o suficiente para convencê-la de que isso é apenas uma conversa formal.

- Vocês não têm uma boa relação? – ela tenta e eu mantenho o corpo rígido, sem piscar os olhos.

- É complicado. – digo, finalmente piscando, mas sem deixar de encará-la. De alguma forma, Isabel parece entender perfeitamente a minha hesitação, pois solta um longo suspiro e se aproxima alguns passos de onde estou, enquanto seca suas mãos com um pano.

- Nós todos já entendemos que você e sua família tem uma relação muito complicada. Não é algo difícil de se notar. Não precisa se preocupar em estar evitando falar sobre sua vida. Nós respeitamos e compreendemos, por isso não se sinta pressionado se alguém andar lhe fazendo perguntas que não se sinta confortável em responder. Tudo ao seu tempo. – a voz da Tia de Nicolas é tão reconfortante e compreensiva, que quase começo a desembuchar tudo de uma vez para ela, falando sobre minha vida insignificante, mas sou freado quando Sofia entra na cozinha, logo chamando nossa atenção. A única coisa que Isabel faz, é me lançar um olhar significativo que retribuo com um rápido sorriso de agradecimento.

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