13 REALIDADE OU SONHO?

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T H É O

Dizem que o universo tem um grande senso de humor. E quando sonhos se realizam, parecem um pesadelo. Porque ter o que deseja sempre vem com condições.

- Gossip Girl

É por volta de duas horas da madrugada quando me dou conta de que estou encarando o teto do quarto há várias horas. O quarto está escuro, iluminado apenas pela luz noturna da noite, que atravessa a enorme janela de vidro do quarto. A água da piscina reflete sobre o teto e observo os raios de luz estranhamente alinhados. Nicolas está dormindo profundamente ao meu lado, com os braços fortes largados para cima. Parte de seu peito está exposto e o cobertor cobre sua nudez. Nós dois passamos grande parte da noite alternando entre fazer amor e conversamos sobre sua família, já que ouvi-lo falar sobre eles sempre me fascina. É hipnotizante a forma como seus olhos sempre brilha ao falar de seus pais e seu irmão. Nicolas obviamente ainda não superou sua perda, mesmo depois de tantos anos. Segundo Alice, que é a única a me dar mais detalhes sobre o assunto, sua infância foi um pouco conturbada após a morte de sua família e contou que durante o tempo em que o conhece, já o viu ter um ataque de pânico duas vezes, sempre as vésperas de natal. E é impossível não sentir meu peito sendo dilacerado toda vez que descubro essas coisas, pois é como se eu soubesse exatamente a dor que Nicolas sente, mesmo que isso seja ridículo.

Depois de mais um instante, me dou conta de que o motivo de minha insônia, tem a ver com o som dos grilos na noite. Em Florianópolis, isolado na mansão dos D'Ávilas, ouvir qualquer som além das reclamações de vovó era praticamente impossível. Somente as vezes, é que escutava o sussurro dos empregados, que jamais tinham permissão para falar comigo, apesar de que eu vivia desabafando com eles, mesmo que permanecessem o tempo todo em silêncio, pois quem, em sã consciência (além de mim) ousaria desobedecer uma ordem de Joana D'Ávila? Mas o fato, é que ouvir esse tipo de barulho ainda é completamente novo para mim, da mesma forma que levei algum tempo para me acostumar com o barulho do trânsito no Rio.

Quando decido levantar da cama, tomo cuidado para não acordar Nicolas, já que ele parece estar num sono profundo. Ando ligeiramente pelo quarto, em busca de meu short. Em seguida, visto um moletom que encontro em um dos armários, já que o frio domina essa noite. Então, silenciosamente, saio do quarto e encaro o corredor que é iluminado apenas por um abajur que está sobre uma mesa, decorada com um jarro de flores. Fecho a porta atrás de mim depois de dar uma última olhada em Nicolas e ter certeza de que ele ainda está dormindo.

A casa está silenciosa e a única luz que encontro acesa ao passar pelo corredor, é a do quarto dos tios de Nicolas, o que faz com que eu me pergunte o que eles fazem acordados a essa hora. Hesito por uma fração de segundos diante o quarto deles, mas quando a ideia do que quer que eles estejam fazendo surge em minha cabeça, faço uma careta e apresso o passo, me afastando o mais silenciosamente possível. Passo rapidamente pela cozinha em busca de água e em seguida saio para a varanda da casa, onde o som da noite inunda o lugar. Encaro o campo diante de meus olhos e apoio meus braços sobre a grade da varanda, suspirando a admirando a beleza noturna do lugar. Um sorriso escapa facilmente de mim quando percebo que jamais estive num lugar tão calmo quanto esse antes.

Mas toda calma tem um preço e o meu, nesse momento, é a avalanche de pensamentos que invadem minha cabeça. Meus segredos. Isso ainda ronda por minha cabeça e continuo pensando numa forma que passar por cima de meu medo e me abrir com Nicolas, porque simplesmente é o mínimo que ele merece de mim, já que sou covarde o suficiente para admitir a ele o que sinto em relação a nós dois. A simplesmente menção da palavra AMOR saindo de minha boca parece algo completamente ridículo, pois se há alguns meses me perguntasse se acreditava que um dia me apaixonaria por um cara, provavelmente passaria o dia inteiro rindo feito um louco. Mas aqui estou eu, remoendo e me sentindo culpado por não ser bom o suficiente para Nicolas que, obviamente, espera muito mais de mim do que malditos segredos. Mas todos esses pensamentos evaporam de minha cabeça quando um barulho chama minha atenção.

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