Sabes aqueles dias em que o melhor era nem sequer levantares-te da cama, pois já sabes que o dia vai ser um enorme desperdício de tempo e vais chegar ao fim com vontade de nunca ter saído do útero? Bem, este era um desses dias. Assim que acordei só quis voltar a adormecer mas os berros da minha progenitora não me permitiam fazer tal coisa. Fingi por uns cinco minutos ainda estar a dormir até os meus ouvidos sensíveis já não aguentarem mais o barulho que a minha mãe fazia a verificar se estava tudo em ordem para podermos partir.
- Mãe, que mal é que eu te fiz para fazeres este barulho todo logo pela manhã? Tu sabes que nunca acordo bem disposta e assim torno-me ainda mais insuportável.
- Tu sabias muito bem que tinhas de acordar cedo hoje, temos de sair o mais rápido possível porque esta é uma viagem longa e ainda temos muito que fa... - não deixei a minha mãe terminar porque as minhas dores de cabeça matinais já eram muitas e ela pouco contribuía para que elas acabassem.
- Ok ok, já percebi, agora vou arranjar-me - pedi para que ela se calasse uns minutos pelo bem dos meus neurónios que não conseguem processar tanta informação logo pela manhã mas não demorou até que ela tornasse a gritar, o que me deu vontade de ir para a minha caminha confortável novamente e acordar dali a 26 anos.
- KIRA, EU NÃO ACREDITO NISTO - gritou ela quando viu que ainda não tinha arrumado os meus objetos pessoas numa caixa de papelão, como ela me pedira no dia anterior - ESPERO QUE TE DESPACHES A ARRUMAR ESTA PORCARIA TODA PORQUE EU QUERO SAIR DAQUI A UMA HORA E NÃO VOU ESPERAR POR TI SE NÃO ESTIVERES PRONTA.
Respirei fundo e pensei cautelosamente nas minha palavras em vez de responder a primeira coisa que me vem à cabeça como faço na maioria das vezes, pois em 98% dos casos acabo por me arrepender.
- Primeiro, não são porcarias, são as minhas coisas e sendo minhas, são valiosas. Segundo, não tive tempo para arrumar ontem, tive que despedir-me dos meus amigos. Eles iam ficar sentidos se fosse embora sem lhes dizer nada - inventei uma desculpa porque na verdade estive a ver programas sobre aliens na televisão, para obter mais argumentos à cerca da existência dos mesmos. Nunca se sabe quando vou ser convocada para um debate sobre esse assunto que tanto me impressiona.
A minha mãe olhou para mim desconfiada e eu enfiei-me na casa de banho após lhe mostrar o sorriso mais angelical que um discípulo de Satanás como eu poderia alguma vez fazer. Vesti apressadamente o único conjunto que ainda tinha naquela casa, nos arredores de Londres, já que todo o resto da minha (pouca) roupa estava num camião a caminho de Bristol, para onde ia viver dali a umas horas porque uns loucos quaisquer tiveram a estúpida ideia de oferecer à minha mãe uma promoção de trabalho, no outro lado do país. Não é que eu tivesse algo que me prendesse a Londres, apenas gostava da cidade e além disso era um pouco difícil largar o local onde vivi durante 16 anos. A parte boa era que me ia libertar um pouquinho da confusão e encontrar um pouco de paz.
Entrei no carro com a minha mãe e preparei-me para me despedir da minha cidade natal e para começar uma nova vida, em Bristol.
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Kira
Teen FictionKira é uma rapariga que adora música, arte e mitologia grega, que acaba de se mudar para Bristol onde conhece Kyle, o seu vizinho irritante mestre da astrologia que a arrastará para muitos problemas e situações divertidas.