Capítulo 18

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A vida gosta de me oferecer presentes mas não daqueles que vêm numa caixinha embrulhados com um papel cor-de-rosa piroso com um bilhete onde está escrito "Para Kira, com carinho da Vida" e um ramo de rosas cheirosas a acompanhar. Os presentes que eu recebia vinham em forma de pessoas cujo o único objetivo era arruinar-me a vida e proporcionar-me dores de cabeça imagináveis. E não, não estou só a falar de Kyle e do professor de matemática, mas também de um mamíferos saltitante que conheci naquele dia miserável.

Estava a caminho da casa de banho feminina para satisfazer as minhas necessidades pessoais, como seria de esperar, mas também para fugir da confusão dos corredores, admito. Estava a pensar em quanto dinheiro teria de poupar para comprar todos os cds da minha lista mental quando algo líquido e quente caiu sobre as minhas roupas molhando a minha camisola completamente.

- Desculpa, a sério, não foi por mal - pediu o rapaz ruivo culpado pelo triste incidente, ajeitando os seus óculos - Estava à procura da sala e distraí-me. A culpa é toda minha.

- Merda - bufei tentando limpar o café da minha camisola, que felizmente era preta, com um lenço de papel que guardava no bolso das calças, ignorando o rapaz que tinha acabado de me estragar ainda mais o dia.

- Desculpa - pediu ele pelo que pareceu a décima sétima vez.

- Deixa lá - disse e continuei a andar.

- Onde vais?

- Limpar isto - respondi tentando parecer menos rude do que deveria ser realmente, quer dizer a minha camisola está coberta de café, onde é que era suposto eu ir? À NASA comprar um bilhete só de ida para um planeta bem longínquo? De facto, esta nem parece uma má ideia...

- Espera - pediu e apressou o passo parando, novamente, à minha frente, sorridente - Chamo-me Oliver e sou da Austrália. É o meu primeiro dia cá.

- Sou a Kira. Bem-vindo ao inferno, canguru.

- Sabes onde é que é a sala 15?

- Claro, sou basicamente um fóssil aqui. Cerca 20 metros à frente e viras à direita - virei-lhe a cara assim que acabei de responder, já a desejar morrer. Era impossível contar as crises existenciais que tinha tido em apenas uma semana, desde a minha chegada a Bristol porém, quanto a isso não havia nada a fazer porque em Londres era a mesma treta. Os desejos suicidas mantêm-se independentemente da paisagem.

Refilava com a minha vida, baixinho,enquanto secava a minha camisola com o secador das mãos quando reparei, através do espelho, que uma rapariga olhava para mim ligeiramente confusa com as minhas expressões faciais de revolta e com os meus sussurros a Satanás, embora, com o barulho do secador, ela não fizesse ideia do que eu estaria para lá a dizer. Olhei para ela e fiz uma cara maquiavélica fazendo-a desviar o olhar.

Analisei mentalmente o meu horário escolar chegando à conclusão que estava 5 minutos atrasada para filosofia. Bati à porta pedindo à professora, que olhava para mim com desprezo, licença para entrar.

- Estou ansiosa para ver o teu teste - comentou ironicamente - Quero saber o que é que apanhas nas aulas sendo que estás sempre distraída.

- Não se preocupe, professora, creio que vai ficar surpreendida - respondi lançando-lhe uma praga. Podia até falecer de tanto estudar mas eu tinha de fazer a pseudo filósofa engolir o que estava a dizer, porque eu era a Kira Walker e não havia nada mais importante para mim do que o meu maldito orgulho.

- Veremos.

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Dado o toque preparei-me para ir almoçar mas, sabendo que me ia recusar a comer o que quer que estivessem a servir na cantina, apenas me sentei num canto para ouvir música e desenhar em paz porém os deuses raramente estão do meu lado portanto pouco demorou para que os meus fãs dedicados me encontrassem.

KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora