A minha vida é um enorme aglomerado de momentos embaraçosos dos quais saio sempre com vontade de nunca ter existido ou de me fechar no meu quarto a ver séries e a comer piza até à morte, porque acreditem, isso era muito melhor do que ter de enfrentar imprevisíveis episódios constrangedores todos os santos dias.
Conclui, deitada na relva, que o melhor era não ter saído de casa à procura de paz, pois como sempre, correu mal.
Rezei para que aquele tal rapazeco não me tivesse visto (ou ouvido o meu berro extremamente agudo), porém reparei que era tarde demais para Satanás dar conta do meu pedido.
- Estás bem? Precisas de ajuda? - perguntou o miúdo saltando o muro e esticando a mão para me ajudar a levantar.
Segurei com força toda a dignidade que ainda me sobrava e levantei-me sozinha - Não, não preciso da tua ajuda e além disso isto é invasão de propriedade.
- Diz a rapariga que se meteu a espreitar para o meu quintal - disse ele, tirando o cabelo da frente dos olhos e sorrindo docemente. Ele tinha razão e eu sabia isso mas o meu orgulho é maior do que qualquer coisa e eu não estava disposta a dar-lhe razão.
- Ouvi-te cantar e fiquei com curiosidade, apenas isso, já tu invadiste o meu espaço pessoal.
- Para de ser orgulhosa e admite que tenho razão - parecia que me lia os pensamentos, aquele maldito, o que me deixou assustada por momentos, mas como já, disse não lhe ia dar razão. Sobrava-me pouca dignidade e não queria perde-la por nada - Já percebi, tu estás à espera que te peça desculpa para não teres de admitir que erraste. Porém não te vou fazer esse favor. Para quê alimentar-te ainda mais o ego se ele já é grande o suficiente?
BINGO! Acabara de encontrar a minha primeira vitima de Bristol. Não quis acreditar no que ele dissera, ele não me conhecia de lado nenhum e já me estava a insultar. Era impossível não odiá-lo apesar do seu gosto musical e dos olhos bonitos.
- Tu não fazes ideia do que acabaste de fazer, despertaste a fera que há em mim e agora nada a pode parar. Eu tenho punhos e sei usá-los bem, portanto aconselho-te a sair antes que te arrependas de ter nascido - ameacei-o verdadeiramente porque já estava irritada demais. Acho que ele percebeu que começava a abusar por isso levantou os braços como que a render-se e preparou-se para saltar para o outro lado - Nem penses, há um portão por alguma razão, meu caro.
Depois de ele abandonar o meu jardim, decidi fazer o mesmo e enfiar-me dentro de casa com receio que acontecesse mais alguma coisa embaraçosa. A minha mãe já tinha saído para ir às compras, o que significava que tinha a casa só para mim. Deitei-me no sofá para ver televisão e acabei por adormecer.
Só acordei à hora do jantar, quando a minha mãe me acordou para ir comer. Fiquei amuada porque queria continuar a dormir para ignorar o facto de amanhã ter de ir para uma nova escola e ser praticamente obrigada a conhecer pessoas novas, o que para mim era uma completa tortura. Tinha ainda esperança de morrer subitamente durante o sono e ser levada pelos anjos da morte para o inferno onde iria arder pela eternidade.
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Kira
Teen FictionKira é uma rapariga que adora música, arte e mitologia grega, que acaba de se mudar para Bristol onde conhece Kyle, o seu vizinho irritante mestre da astrologia que a arrastará para muitos problemas e situações divertidas.