Capítulo 2

117 9 0
                                    

Apesar de a Inglaterra não ser um país propriamente quente, eu estava a suar que nem um porco dentro daquela estufa ambulante à qual chamam carro. A minha mãe estava sempre a tagarelar sobre a casa nova, mas sinceramente eu só queria um pouco de silêncio para aceitar tudo o que estava a acontecer, porque no fundo, eu pensava que tudo aquilo não passava de um sonho e eu ia acordar na minha caminha em Londres. Mas pouco demorou até que eu percebesse que aquilo era mesmo real e estavamos apenas a uma hora de Bristol, quando a minha mãe fez uma travagem repentina e eu quase saltei pelo pára-brisas.

- SEU FILHO DA MÃE, E CONDUZIR COM CUIDADO, NÃO? - gritou ela, bastante irritada, e eu tive de segurar o riso o que parecia impossível pois a cara de revoltada dela é muito cómica - Ai de ti que te rias, Kira, graças àquele desnorteado podíamos estar mortas neste preciso momento.

Não aguentei e comecei a rir-me tanto que me começou a doer a barriga, não só devido ao exagero da minha mãe, mas também devido à sua expressão séria e aos seus olhos extremamente arregalados.

- Agora falando a sério, não estás ansiosa? - perguntou-me mudando a sua cara séria para uma expressão entusiasmada que podia ser comparada à cara de uma criança de 7 anos quando vai à gelataria. - Quer dizer, cidade nova, escola nova. Deve ser entusiasmante para ti.

Naquele momento duvidei se aquela era mesmo a minha mãe ou se era um clone extremamente bem feito que deixaram no lugar dela após a raptarem para ninguém dar pela sua ausência. É óbvio que não estava entusiasmada, pelo contrário, estava apavorada, e ela como minha progenitora e tendo-me carregado 8 meses na sua barriga devia saber isso. Apesar disso, estou a tentar pensar nisto como uma segunda oportunidade, principalmente para conhecer pessoas novas e criar amizades. Duvido (por experiência) que isso vá acontecer, mas ter esperança é tudo.

- Honestamente, não muito. Já me tinha adaptado à escola, lá em Londres...

- Que engraçadinha - riu-se ironicamente e eu olhei para ela com uma expressão confusa - Estavas sempre a queixar-te de tudo, desde os colegas, dos professores e até da comida da cantina.

- Ei! Não me julgues, tenho a certeza de que aquilo não era comestível - disse, seriamente. Mas a minha mãe tinha razão, eu odiava aquela escola assim como também odiava a de Bristol apesar de nunca lá ter posto os pés, no final de contas são todas iguais.

- Pelo menos esta é uma maneira de quebrar a rotina de que tanto te queixavas.

- Quebrar a rotina de Londres para iniciar uma semelhante em Bristol - bati palmas ironicamente e revirei os olhos.

- Ai, que chata, para de te queixar de tudo e ser tão pessimista se não afogo-te no rio Avon - ameaçou-me a minha mãe obrigando-me a fingir uma cara de assustada e ambas nos começamos a rir.

Durante a viagem entendi que tenho mesmo de pensar em tudo isto de uma maneira mais optimista se não vou mesmo arruinar tudo, como sempre acontece. Desta vez as coisas vão ser diferentes, nem que eu tenha de apontar uma arma ao destino.



KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora