Capítulo 10

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As pessoas abusavam da minha serenidade para com os outros, pouco ou nada existente, e depois não queriam que eu me passasse da cabeça e ficasse ainda pior do que 5 pitbulls esfomeados quando vêem um pedaço de carne. Só me faltava andar à dentada (o que em casos extremos podia muito bem acontecer e provocar uma dor aguda à vítima o que me fazia acreditar que era descendente do Conde Drácula).

Estava relaxadíssima a ir para a aula de matemática com Ally, porque felizmente, o parvo do Kyle tinha ido não sei onde fazer não sei o quê - nem lhe prestei atenção pela simples razão de ele ser de uma raça de abutres extremamente desinteressante e enfadonha. A minha barriga estava a fazer barulhos estranhos porque, mais uma vez, não tinha comido nada, graças à (falta de) qualidade da comida da cantina, que conseguia surpreendentemente ser pior do que a da minha escola antiga.

Um pé estranho veio a interromper toda essa paz e pensamentos sobre a deliciosa comida da cantina, quando me fez tropeçar e cair no chão, pela 4ª vez em 3 dias. Mas, para variar um bocado, desta vez caí de cara e o meu rabiosque, já dorido de tantas quedas, ficou empinado no ar.

Alicia mandou um berro como se até tivesse sido a cara dela que tivesse tido um encontro inesperado com o chão que era espezinhado por centenas, senão milhares, de alunos/professores/funcionários todos os santos dias e ainda por cima, depois da minha queda, suspeitei que aquele piso não tivesse tipo qualquer tipo de contacto com uma esfregona ou algo do género desde o início do ano letivo, e olhem que já era Fevereiro. Ouvi Kyle dizer 'autch' pelo que percebi logo quem era o culpado de eu estar ali estendida no chão a sofrer a minha 27ª crise existencial diária. O engraçado é que a maior parte das outras também tinham sido causadas por ele. Aquele rapaz irrita-me como nunca ninguém irritou. E irritar as pessoas era o meu trabalho!

Quando me lenvantei, senti uma vontade tremenda de lhe arrancar os olhos, triturá-los e obrigá-lo a beber a substância repulsiva resultante para me vingar de toda aquela humilhação que ele já me tinha feito passar desde a minha lastimável chegada a Bristol.

- Estás bem? - perguntou Ally ajudando-me a levantar e depois dirigiu-se para o desmiolado num tom repreensivo - Nunca te vi agir assim com ninguém. Mas que raio é que tu tens contra ela afinal?

- Tudo - respondeu como se já soubesse o que lhe ia ser perguntado. Lancei-lhe um olhar matador - Desde que chegou não para de me chatear a cabeça, já não a aguento. Por favor, ela que volte para Londres e que seja muito feliz lá.

- Isso é poesia para os meus ouvidos. Só prova que estou a fazer bem aquilo que pretendo - afirmei deixando-o confuso.

- E o que é que pretendes?

- Arruinar-te - esclareci.

- Não o conseguirás fazer, se eu te arruinar primeiro - ripostou tentando intimidar-me.

- Veremos - provoquei-o, sorrindo perversamente.

Ally olhava para nós impaciente como uma mãe que espera que as suas crias repugnantes acabem com a sua discussão ridícula enquanto lamenta tê-las trazido ao mundo. Nenhum de nós lhe ligou minimamente porque nós estávamos bastante dedicados à nossa discussão pouco ou nada lucrativa. Apenas paramos quando uma voz grossa nos interrompeu bruscamente como se houvessem assuntos mais importantes a tratar (o que era verdade, porque aquilo estava a ser tão ridículo que até me deixou embaraçada por lhe estar a dar corda).

- Não sei se sabem mas já tocou para a entrada e convém que entrem na sala porque estar à porta não é o suficiente para terem presença - proferiu o professor de matemática tentando transmitir o aspeto de um adulto exigente e severo o que era impossível devido às suas roupas que nem sequer sabiam o que era um ferro de engomar.

Sem dizer uma palavra que fosse, Kyle e eu entrámos na sala apenas olhando maliciosamente um para o outro. Ally seguiu-nos abanando a cabeça negativamente.

Para piorar o dia e a minha vida toda basicamente, teria de o aturar durante aquela aula e nas outras todas, lamentavelmente. Parecia que o destino tinha feito de propósito só para me ver sofrer e poder rir-se às minhas custas. A minha vida já era má o suficiente em Londres, mas ter conhecido Kyle piorou tudo. Ainda por cima ele parecia um rapaz insistente e eu sabia que não ia parar de me humilhar até que se cansasse. Para pena dele, eu era mil vezes pior e não estava disposta a deixar que ele fizesse de mim bobo da corte. Kyle não sabia com quem se estava a meter.

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O stor ainda não tinha parado de falar sobre coisas matemáticas desde o início da aula o que me deixou entediada. Não me interpretem mal, eu valorizo a escola e a aprendizagem mas as aulas são aborrecidas, têm de admitir.

De repente, o olhar do professor caiu sob a nossa direção o que me fez sentar em condições de forma automática para parecer minimamente atenta e aplicada.

- Kyle, se não te importares, vem ao quadrado resolver o exercício 7.

- Importar até me importo - resmungou enquanto se levantava. Era o momento ideal para me vingar e sujeitar Kyle a uma humilhação pública como ele me fizera já duas vezes naquele dia.

Era a hora da vingança.

KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora