Capítulo 6

118 7 0
                                    

Como uma desgraça nunca vem só, apesar de ser vizinha daquele palerma, ele era da minha turma e ainda tinha de partilhar a carteira com ele. Isso era, de facto, angustiante, não só para mim como para ele, portanto por que não pegar nisso e torná-lo ainda mais degradante para ele? Consigo ser uma completa máquina de tortura em pessoa e ao mesmo tempo ter uma cara angelical, esse é um dos meus talentos em conjunto com a minha capacidade para dormir durante 5 semanas seguidas e comer por 7 bois. Sou uma pessoa prendada.

Já tinha dado aquela matéria há séculos em Londres, portanto aproveitei para relaxar e desenhar um bocado. Estava quase a adormecer quando uma alminha se vira para trás e pergunta:

- De quem é o funeral? - perguntou, devido à minha roupa, com um sorriso estúpido estampado na fronha morena.

- Ainda não decidi, mas tu és um potencial candidato - respondi sem esconder a minha impaciência para comentários tão infantis como aqueles, o que fez Kyle rir-se baixinho como o rapaz, que se virou para a frente.

Passado um bocado, o maluco do stor entregou-me uma folha para eu preencher com os meus dados pessoais. Aquilo era super aborecido mas pelo menos assim não tinha de me esforçar para estar com atenção à aula, que era ainda mais aborrecida.

- Áries? Interessante... Isso explica muito de facto - disse Kyle a espreitar para a folha que tapei imediatamente com o braço para impedir que visse o resto. Ele riu-se - Afinal também não gostas que invadam o teu espaço, irónico.

- Fode-te - respondi fazendo uma careta, mesmo que ele tivesse razão. Eu sou, de facto, uma hipócrita mesquinha.
Odeio-me por ser assim.
Odeio-o por ter razão.

*****

A minha incapacidade para socializar inibiu-me de criar as amizades que a minha mãe tanto ansiava que criasse. Limitava-me a sentar-me num canto a ouvir música durante os intervalos com a intenção de que não reparassem em mim, coisa que realmente aconteceu.

No refeitório, serviam uma espécie de carne semi crua com uma porcaria pastosa que eu diria ser uma imitação barata de arroz. Sentei-me numa mesa na qual se encontrava apenas uma rapariga. Comecei a brincar com o garfo na "comida" já que não ia comer nada. Fui interrompida por uma cabra histérica que se dirigiu à outra rapariga.

- Sai daqui, nós queremos almoçar nesta mesa.

- Não vês que ainda estou a comer?

- Eu acho que já acabaste - dizendo isto sorriu maliciosamente e empurrou o tabuleiro da miúda para o chão. Estas pessoas deixaram o respeito em casa, só pode.

- Sinceramente hoje não estou com paciência para as tuas merdas - disse a outra, indo embora.

A cabra sentou-se exatamente à minha frente com o gang de aspirantes a modelos a rodeá-la, o que me deu vontade de vomitar - acreditem em mim, não era (só) por causa da "comida". Lançou-me um sorriso mesmo falso, que topava até a kilometros de distância.

- Olá, és nova na escola não és? Eu sou a Riley.

- E? Queres um biscoito?

- Não, tola, como é que te chamas? - riu-se histericamente, o que, apesar de me ter feito doer os ouvidos, me deu vontade de lhe espetar 3 estalos naquela cara extremamente maquilhada.

- Chamo-me Kira - suspirei.

- Prazer - disse estendendo-me a mão.

- Quem me dera poder dizer o mesmo - estalei. Se fui má? Fui. Se queria saber? Nem por isso. Ela esperava que a tratasse como depois de ter assistido àquilo? Esperava que lhe fizesse uma vénia lhe beijasse os pés? Ela que se enxergue, a minha paciência para criaturas como aquela cabra é inferior à temperatura em graus celsius de Neptuno.

KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora