Capítulo 19

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Devo dizer que estava mais morta que viva quando cheguei a casa, e sim isso já era normal, mas naquele dia sentia-me mais morta ainda e a vontade de aterrar na cama e ficar lá até ser nada mais nada menos do que um monte de ossos era maior que o costume. Obviamente a vida não estava do meu lado e assim que me a minha cara teve um encontro súbito com a almofada, o telemóvel vibrou no meu bolso. Após soltar um grito de frustração, atendi um pouco contra a minha vontade.

- Olá, é a Alicia - cumprimentou toda simpática como se não estivesse a arruinar ainda mais a minha vida que já estava a ser suficientemente destruída pela poluição oceânica que todos os dias mata centenas senão milhares de tartarugas (ps: dados não confirmados) - Quanto aquilo do Kyle...

- Pois, quanto a isso, apetece-me matar-vos aos dois.

- Estás à vontade mas, por favor, só depois de sábado porque eu prometi à Sra. Spencer que ia fazer com que o dia do Kyle valesse a pena - pediu lixando-se para a minha ameaça o que diminuiu um pouquinho o meu ego, mas, sejamos sinceros, alguém o tinha de fazer.

- Só o facto de ele ter de ir à escola vai fazer com que o dia seja uma merda automaticamente, lamento desiludir-te - suspirei, não com pena daquele desmiolado obviamente, mas sim porque não era apenas o dia dele que as aulas iriam arruinar.

- Então temos de fazer com que a noite não seja uma porcaria autêntica. Passando à frente - fez uma pausa como que a avisar que um grande discurso viria a caminho e finalmente continuou - Ele de certeza que vai ficar em casa portanto às 10 horas vou ter a tua casa para seguirmos para a dele juntas ok? E não te preocupes com a comida e as bebidas, já tenho tudo preparado. Em princípio não vamos ser as únicas mas não te quero dar spoilers, depois vais ver - fiquei surpreendida com toda a atenção que Alicia estava a dar ao aniversário de Kyle, a começar pelo facto de ele ser uma pessoa detestável que nem merecia metade daquilo, mas pelo menos não era eu que estava a ter trabalho.

- Então está tudo combinado, certo? - perguntei após Alicia ter acabado de enumerar tudo aquilo em que tinha pensado e, depois dela ter confirmado, continuei - Ótimo, então posso ir dormir, certo?

- Claro... Podes fazer o que quiseres. Só tenta não morrer antes de sábado, porque eu preciso mesmo de ti.

- Vou tentar - prometi, arrependendo-me cerca de 5 minutos depois.

Num abrir e fechar de olhos já estava embaixo dos cobertores, escondida como uma criança com medo do Bicho Papão quando na verdade era uma adolescente de 16 anos com medo da vida e do futuro fracassado que me esperava. Mas isso não era o verdadeiro problema quando estava à espera de uma nova temporada de American Horror Story há tanto tempo.

Um grito histérico da minha mãe fez-me saltar e acidentalmente bater com a cabeça na parede, para além de me ter provocado uma dor aguda nos tímpanos mas aquilo ainda lhe parecia pouco portanto ela insistiu como se a minha companhia fosse o bem mais precioso do universo. Após alguns segundos de tortura, decidi então arruinar os meus planos para o resto do dia e levantei-me para poupar o meu cérebro já danificado pela voz aguda da minha querida mãe. Claro que, com a sorte que eu tinha, algo de mau tinha que acontecer para que eu detestasse ainda mais a minha vida.

Quando ia descer as escadas que davam para a sala de estar não reparei na presença de um par de sapatilhas e, como seria de esperar, tropecei e desci as escadas a rebolar. A minha mãe assustada com o meu berro foi ver o que se passava e em vez de me ajudar a levantar ficou a olhar e a limpar as mãos molhadas ao seu avental decorado com desenhos de galinhas como se nada tivesse acontecido.

- Estou bem, obrigada pela preocupação - resmunguei tentado levantar-me ainda com as costas um bocado doridas e só depois dei conta de uma terceira presença naquela casa - Olá, Kyle! Gostaste do espetáculo?

KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora