Assim que acordei, a primeira coisa que fiz foi desejar voltar para o meu estado de sono profundo e ignorar o facto de ter de passar a tarde a limpar a porcaria que um bando de adolescentes asquerosos deixavam naquela espelunca à qual chamam escola e, como se isso ainda não fosse mau o suficiente, teria de partilhar esse maravilhoso momento com o deslavado de Kyle. Que desperdício de uma tarde livre em que podia hibernar embrulhada nos cobertores até à manhã seguinte. Ou até à minha tão esperada morte.
Eram 2:25 h da tarde e eu estava com Ally e Kyle sentada numa escadaria perto da portaria a ouvir música enquanto eles conversavam sobre um assunto qualquer do qual eu não tinha conhecimento devido ao facto de estar com o fones nos ouvidos quando todos os cantos da escola foram literalmente preenchidos pela voz da sublime diretora da Bristol High School.
- Antes de mais, boa tarde. Peço que Kyle Spencer e Kira Walker se dirijam ao meu gabinete imediatamente, por favor - pediu como se fossemos 2 criminosos fugitivos, só faltava dizer que nos queria lá vivos ou mortos.
O desmiolado olhou para mim furioso como se a culpa daquilo tudo fosse minha, o que por acaso era verdade. Mas só tive de pôr em prática os meus planos vingativos devido à sua completa estupidez derivada da sua falta de neurónios, ou mesmo da falta de um cérebro. Logo, parte da culpa também era dele portanto ele que não me olhasse daquela maneira porque se habilitava a levar dois pares de estalos e um pontapé. No final de contas eu também saí prejudicada daquela confusão toda.
A diretora encarou-me com o mesmo olhar matador do dia anterior e calculei que 2 terços dos seres humanos existentes naquela sala me queriam assassinar pelo que até eu mesma quis mandar um tiro na minha própria cabeça, fazendo, assim, com que 3 terços das pessoas ali presentes me quisessem na cova. Já me considerava um cadáver.
- Hoje, vão começar por limpar as casas de banho do primeiro piso do bloco A, tanto a feminina como a masculina - informou com o seu olhar severo ainda suspenso em nós sem nos desejar uma boa tarde sequer, coisa que me deixou revoltada - Pensei em deixar-vos ainda as casas de banho dos outros dois pisos mas devido a outras detenções não vos pôde dar essa dádiva.
- Que pena - disse imitando o tom irónico da senhora de cabelos pintados de ruivo que se encontrava exatamente à minha frente.
- Não há problema, fica para próxima. Decerto que vai haver uma próxima - ripostou na hora e eu desconfiei de que esta tivesse conhecimento do meu passado ligeiramente problemático em Londres o que pensando bem tinha lógica porque, sendo ela a diretora, tinha livre acesso ao meu processo e informações pessoais.
Estava prestes a retorquir quando Kyle me interrompeu bruscamente o que, apesar de ter contribuído para me enfurecer ainda mais, me salvou de uma possível suspensão. Nota mental: pensar antes de abrir a boca, especialmente se for para dizer porcaria.
- Podemos começar já? - perguntou Kyle que, mesmo tendo-me ajudado, conscientemente ou não, continuava a ser um enorme idiota.
- Claro, quando terminarem chamem a Sra. Rose para ver se está tudo bem e se sim, podem ir embora.
- Obrigada - agradeceu Kyle, como se a senhora tivesse feito algo de bom por nós, já levantado dando-me uma palmada leve no braço pedindo que me pusesse de pé também.
Assim que saímos do gabinete da víbora, bati com força no braço de Kyle para que aprendesse a parar de invadir o meu espaço pessoal para fazer contacto físico comigo. Humanos estúpidos!
Depois de irmos buscar o material de limpeza à arrumação do 1º piso dirigimo-nos à casa de banho masculina prontos para limpar aquela porcaria toda. Mentira. Eu estava assustada/ apavorada/aterrada só de imaginar o que poderia encontrar naquele cubículo. Não tinha grande conhecimento sobre o cérebro oco dos seres humanos do sexo masculino, e honestamente não pretendia ter, mas uma coisa que eu sabia era que o excesso de testosterona produzida podia levar os rapazes a ter de fazer coisas nas casas de banho escolas, coisas das quais só de pensar me dão vontade de vomitar tudo o que digeri nas últimas horas e, se possível, os meus órgãos vitais também.
- Tu começas por ai e eu por aqui - ordenou Kyle apontando já com as luvas de latex calçadas.
- Desculpa? O teu cérebro minorca deve estar um pouco confundido mas eu vou explicar devagarinho para tu entenderes - disse completamente irritada com o facto de um atrasado como Kyle pensar que pode mandar em mim; ninguém manda em mim - Quem dá ordens aqui sou eu, tu limitas-te a obedecer. Percebido? - Kyle revirou os olhos perante a minha explicação mas eu continuei sem ligar minimamente ao seu gesto antipático. Quando eu fosse a rainha de Inglaterra ele ia ser verdadeiramente penalizado por tratar a sua futura governadora daquele modo - Eu limpo isto e tu isso aí.
- Foi isso que eu disse - bufou impaciente.
- Sim, mas o que tu dizes a mim não interessa. Podes começar.
Quando já estava tudo em silencio e eu me começava a sentir menos enojada com aquela situação toda, o desmiolado decidiu abrir a sua boca irritante.
- És sempre assim? Tão mandona e agressiva? - perguntou e depois parou para pensar - Bem, há uma explicação lógica para seres assim.
- Ai sim? E qual é, oh inteligência?
- És áries.
- A sério? A tua "explicação lógica" são os signos do zodíaco? Cala-te, por favor, só ganhas com isso.
- Não mandas em... - enquanto ele falava enfiei o pano molhado que tinha na mão na sua boca porque verdade seja dita, ele é extremamente entediante e ainda por cima estava a questionar o meu poder.
- Tu és doida. Completamente doida - disse ele depois de eu ter retirado o bocado de tecido coberto de H2O e detergente da sua boca enquanto eu me ria que nem uma bêbeda quando vê cachorrinhos - Se eu morrer por causa disto, tu vais pagar o funeral.
- Não dramatizes tanto - pedi, ainda rindo, enquanto ele bochachava e cuspia repetidamente a água na tentativa de eliminar toda aquela substância purificadora - No máximo, isso vai queimar-te o aparelho digestivo - disse calmamente o que o fez repetir o que estava já a fazer mas com mais velocidade. Eu ri-me ainda mais porque, primeiro, era assim que lidava com a maioria das situações e, segundo, porque o desespero do texugo falante era deveras hilariante.
Assim que Kyle acalmou e parou de dramatizar continuamos a limpeza e sem ele a perturbar foi tudo muito mais rápido portanto rapidamente passamos para a casa de banho feminina.
- Estou cansada, vamos despachar isto - disse pois, para além de estar realmente estafada, estava a respirar o mesmo ar do abutre depenado há tempo suficiente para a doença mental dele se começar a propagar até se infiltrar nos meus pobres neurónios e me tornar tão estúpida quanto ele.
- Gosto mais de ti quando estas calada, sabes?
- Sinto feliz por poder dizer o mesmo sobre ti, portanto cala-te, caralho - retorqui sem a mínima paciência para confissões daquele género.
- Rude... - queixou-se - No teu aniversário ofereço-te um bocado de paciência, não te preocupes.
- Oferece-me mas é uma arma para eu te matar.
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Olá!!
Este foi o meu máximo de palavras até agora e posso dizer que estou farta de escrever. Na verdade o capítulo estava para ser maior mas já era demasiado comprido.
Espero que estejam a gostar.
Beijinhos, Mariana
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Kira
Teen FictionKira é uma rapariga que adora música, arte e mitologia grega, que acaba de se mudar para Bristol onde conhece Kyle, o seu vizinho irritante mestre da astrologia que a arrastará para muitos problemas e situações divertidas.