Capítulo 5

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O nervosismo vinha de todos os lados, mesmo assim tentava assumir uma postura superior e relaxada como sempre faço. Sai de casa antes que a minha mãe acordasse para não ter de ouvir os seus conselhos sobre como criar novas amizades e etc. Juro-vos que os meus pobres neurónios não iam aguentar essa tortura toda, muito menos logo pela manhã. Além disso tinha de chegar cedo para passar pela secretaria.

Da casa até à escola são só 10 minutos a pé, portanto cheguei lá muito antes do toque o que me dava mais que tempo para fazer tudo o que tinha para fazer antes das aulas. Demorei um bom bocado a encontrar a secretaria, o que não teria acontecido se tivesse perguntado a alguém onde ficava, mas já ia ter de falar com demasiados desconhecidos naquele dia e não queria que o número aumentásse desnecessáriamente. Assim que saí de lá, após a senhora com olhos de carneiro mal morto me dar todas as informações de que precisava de um modo muito superficial, procurei pelo meu cacifo tentando lembrar-me das indicações que me tinham sido dadas anteriormente.

Finalmente tinha-o encontrado quando ouvi alguém.

- Por favor digam-me que isto não está a acontecer - virei-me para trás, sem sequer saber se estavam a falar comigo, e lá estava o aborto mal feito. Queria voltar para Londres só mesmo por aquela alminha e eu andarmos na mesma escola, no entanto ver que a minha presença lá também o incomodava, dava-me uma certa alegria.

- Bom dia também para ti, criatura mística do além - respondi eu sem mostrar o meu constrangimento. Abri o cacifo sem esperar uma resposta e comecei a arrumar as minhas coisas, virando-lhe as costas.

- Bom dia?? Uma bruxa acabou de aterrar nesta escola que já por si era uma desgraça, como assim bom dia? - respirei fundo antes que dissesse algo de que me arrependesse.

- Ainda ai estás? - perguntei, demonstrando o meu desinteresse.

Quando finalmente fechei o cacifo e me voltei para trás, ele já não estava lá. Agradeci a Satanás e fui em busca da sala oculta, também conhecida como sala 24 pelos alunos de Bristol High School. Cheguei quando já toda a turma lá estava dentro e quando estava a entrar, a porta fechou-se na minha cara com tanta força que caí para trás. A minha vida é um completo desastre. Um homem de meia-idade, que supus ser o professor de matemática, abriu a porta e olhou para mim um tanto confuso.

- Ah! Já entendi, tu és a miúda nova - disse ele como se não fosse óbvio, enquanto eu ainda estava estendida no chão. Como percebi que ele não me ia ajudar por estar demasiado ocupado a glorificar-se por aquela descoberta extraordinária, levantei-me sozinha e entrei na sala ignorando os meus colegas que ainda nem me conheciam e já deviam pensar que eu era uma atrasada mental. Ouvi alguns cochichos e risinhos da parte deles mas não liguei.

O stor avariado da cabeça apresentou-me à turma, enquanto eu ocupava rapidamente a única carteira livre - odeio ser o centro das atenções, porquê é que não respeitam isso? No momento em que o stor tinha começado a ditar o sumário, alguém entrou na sala. Era o desmiolado! Rezei para que ele se tivesse enganado na sala mas não me parecia o caso devido à sua descontração. Ele pediu desculpa pelo atraso e começou a dirigir-se até mim, parando mesmo à minha frente.

- Como se já não bastasse esta miúda andar na minha escola, está na minha turma e a ocupar a minha mesa - disse aborrecido, o que me deu imensa vontade de rir. Primeiro, "esta miúda" não é o termo indicado para se referir a uma deusa como eu; Segundo, a mesa não é dele, é propriedade da escola, que também não é dele, e estando vazia eu posso ocupá-la quando quiser, não há lugares reservados para ninguém.

- Kyle, essa é a Kira, a tua nova colega e aparentemente vizinha de carteira.

- Se fosse só de carteira... - reclamou ele baixinho mas foi o suficiente para o stor ouvir.

- Como assim? Vocês são vizinhos? - perguntou confuso, semicerrando os olhos. Ambos sussurramos "infelizmente" ao mesmo tempo. De repente a palavra "alegria" ficou estampada na cara do stor doido - Que ótimo! Assim podes passar pela casa do Kyle para ele te situar na matéria.

- Não me parece uma boa ideia.

- Não é de todo! - consentiu o desmiolado, agora também conhecido como Kyle (para ser sincera 'desmiolado' assenta-lhe melhor)

- Sabes que mais? Conta comigo lá às 7h - ele olhou para mim como quem diz "que merda é que estás para aí a dizer?", contudo limitei-me a fazer um sorisso doce. Só tinha feito aquilo para o irritar e aparentemente tinha resultado, o que me fez ficar automaticamente feliz porque esse é um dos meus hobbies preferidos.



KiraOnde histórias criam vida. Descubra agora