Capítulo 3- O Interrogatório

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 A escuridão já fazia parte daqueles dias. Emma tentava se lembrar a todos os momentos de como era deitar em uma macia cama, de como era escovar os dentes, pentear o cabelo... Ser amada por alguém. Os últimos dois anos da sua vida foram horríveis naquele gueto. Mas ela ainda ficava feliz por usar suas próprias roupas e não ter que ver uma câmara de gás.

Foi no dia do seu vigésimo aniversário que ela foi acordada por um soldado da SS. Ela, juntamente com as suas colegas de alojamento, haviam sido transferidas para um campo de concentração.

A visão do trem, escuro e anteriormente para carregar gado, a esperava, assim como da última vez. No entanto, desta vez Regina não estava lá, e Emma ficou cabisbaixa. Regina havia lhe dado uma sensação de segurança, de uma maneira que ela nunca entenderia. Podia sentir que, não importava o que aquela mulher fosse capaz de fazer, ela não lhe faria mal, e sim os seus subordinados, aqueles que a embarcavam e todos os outros no trem. Na verdade, Emma tentava negar, mas a verdade era que todos ali eram um rebanho indo para o abatedouro.

Já passavam-se 1 semana desde que ela havia embarcado naquele trem, sem conseguir dormir mais do que trinta minutos todos os dias, pois ela sempre acordava com um barulho de choro, muitas vezes dela mesma. Não havia como dizer quantas outras pessoas haviam naquele vagão, muito menos em todo o trem. O cheiro de urina impregnava suas narinas e a deixava enjoada, fazendo com que não conseguisse se alimentar. Suas esperanças eram de que, ao menos, ela pudesse ver novamente a luz do sol e, em seguida, acabar com tudo.

No entanto, foi à noite que o trem parou em Auschwitz. Emma foi quase esmagada com a multidão que saiu correndo. Mas ela não pensava em sair do trem. Sabia o seu destino. Guardas da SS separaram as crianças das mães, os maridos das esposas... Cada grupo, de crianças, homens, mulheres e idosos foram para um rumo diferente.

Seus olhos encheram-se de lágrimas quando ela viu um grupo de crianças de mãos dados marchando rumo a uma torre em que se via fumaça saindo de uma grande chaminé.

Foi obrigada a marchar por cerca de duas horas até chegar em Storybrooke, um campo feminino. Mas que validade tinha a vida dali pra frente? Já subnutrida, desumanizada e agora escravizada. Não tinha vontade de viver.

Enquanto o sol saia, ela começou a acostumar-se a seguir a multidão pelos sons, visto que seus olhos já adaptaram-se a escuridão e a claridade quase a cegou por alguns instantes. Na entrada do campo, via-se escrito "O trabalho liberta", como se Emma realmente tivesse cometido algum crime. Ela não havia, mas agora, apesar de tudo, ela era uma prisioneira.

Todas as detentas foram obrigadas a deixar seus pertences pessoais em uma sala, enquanto se dirigiam à outra. Lá, havia outras, que a julgar pela sua aparência, já deviam estar ali por mais tempo. Era possível ver suas costelas e alguns ossos muito a vista. Em seguida, a ordem foi de que todas tirassem as suas roupas. Emma não mexia um centímetro sequer se seu corpo, não piscava nem mesmo mal respirava.

Pensar que ela iria tomar um "banho" quando, na verdade, ela seria levada para uma câmara de gás, levando-a a morte sem antes poder ver os seus pais novamente, a apavorou de todas as maneiras possíveis.

No entanto, ela e todas as outras detentas permanecerem nuas por quase 20 minutos, sem nenhum sinal de gás ou qualquer outra substância dentro daquele cubículo. Seu corpo tremia, ela torcia para que a qualquer momento morresse pelo choque.

Um homem de médio porte e que aparentava usar um jaleco com um avental preto entrou porta adentro. Caminhava firmemente e devagar pelo salão, observando cada centímetro do corpo das mulheres. Emma pode jurar que ele as molestaria, mas ele só ficou lá, olhando.

Depois de alguns minutos, a porta abriu-se novamente e Emma ouviu uma voz muito familiar pronunciar:

–Desculpe, Dr. Whale, estou atrasada.- Emma voltou a si novamente, somente o som daquela voz já a deixou espantada, só que ela não conseguia saber se esse espanto era bom ou ruim.

–O meu presente para vocês, será as suas vidas. Quem tiver informações sobre Mary Margareth, principalmente sua localização aqui no campo, terá privilégios. No entanto, se eu descobrir que alguém aqui ajudou a em sua fuga essa manhã para Auschwitz, eu juro destruir o último pingo da sua felicidade, nem que seja a última coisa que eu faça. Sem rações por uma semana.-Falou Regina, gesticulando cada palavra com um olhar penetrante. Ele havia mudado, não era mais aquele que havia visto na estação.

Emma observou cada movimento que a boca dela fez e como a morena a observava ao pronunciar cada som. Podia-se perceber uma marcante cicatriz no canto esquerdo da sua boca, além de um inconfundível batom vermelho.

Regina começou a olhar com muita atenção cada detenta, em acompanhamento do outro homem. Eles observavam o porte físico e os dentes de cada uma. Algumas eram separadas em um grupo, composto na maior parte pelas antigas e fracas detentas que foram conduzidas porta afora. As outras foram levadas para o chuveiro, naquela sala mesmo.

Emma achava horrível aquela sensação de fragilidade, muitas mulheres tentavam tapar seus seios vistos se sentiam expostas, mas sem sucesso.

Quando a examinaram, a loira continuava imóvel. Algumas lágrimas correram de seu rosto, visto que ela havia descobrindo que a sua mãe estava viva.

Nem sabia o que havia se passado por todos esses anos, só que a ironia do destino era maior do que ela imaginou um dia ocorrer. Devia ter feito realmente algo de errado para merecer tudo aquilo."Onde ela está? Será que ela está bem? Será que conseguirei vê-la novamente?" As palavras giravam e giravam em sua mente, sem resposta alguma.

–Essa não, Dr. Whale. Tenho outra função especial para ela.- falou a comandante, estampando um sorriso maldoso.

Um guarda agarrou Emma pelos dois braços e a levou para uma sala, de interrogatório, provavelmente. Regina entrou porta adentro e sentou-se bem na frente da loira. A morena a encarava com um olhar que Emma preferia não olhar, pois a lembrava de Ruby. Eram os mesmos olhos, a mesma penetração ao olhar. Depois de alguns segundos encarando-a, a comandante esperava que a loira falasse algo, mas ela não o fez.

–Você sabe quem eu sou?- falou. Emma balançou a cabeça positivamente.-Não se preocupe, eu não vou comê-la viva se você abrir a boca.- falou Regina aos risos.

Emma não podia acreditar que ela fosse capaz de qualquer maldade, ela via Regina de uma maneira diferente, como se ela estivesse fingindo ser outra pessoa ou algo do tipo.

–Comandante, eu não sei o motivo da senhora ter me chamado aqui- falou Emma em um tom de voz baixa.

–Engraçado... Sabe que eu me faço a mesma pergunta? Por que você está aqui, senhorita Swan?

–Como você sabe o meu nome? E por que me quer presa aqui, isolada, Regina?- implicou Emma, assustada.

– Herr Comandante é melhor. O fato não é por que eu a quero presa, mas como você veio parar aqui. Tem um motivo. E você não me engana com esses belos olhos verdes e esses cachinhos dourados, sei que você não é judia. Veio aqui infiltrada. E por quê? Para ajudar a sua mãe, é claro.- O sarcasmo na voz dela fez Emma repensar as suas primeiras impressões sobre ela. Sobre o fato de provavelmente a sua cabeça estar criando uma grande loucura, que haveria alguma bondade em meio de toda aquela escuridão.

–Olha, Regina, eu não vejo a minha mãe desde que eu me lembre. Não sei nem onde fui batizada. Fui criada por uma família britânica e voltei para Alemanha porque uma bomba do seu exército destruiu a única pessoa que realmente se importava comigo. Eu tenho me virado como posso é sempre por mim mesma. Eu sou uma órfã! E agora estou aqui única e exclusivamente porque seus soldados me capturaram, porque parece que a minha família é culpada por algum crime de guerra que não lhe diz respeito.- explodiu, fitando Regina a cada palavra. Aliás, não conseguia parar de chamá-la assim: Regina. Sua origem significava "A Rainha", aquela que nasceu para governar. E a comandante se esquadrava bem nesse quesito. Só um olhar seu já era capaz de subordinar, mas por algum motivo Emma não se deixava dominar.

–Sabe, se fosse qualquer outro aqui nesta sala na sua frente, você já estaria morta. Realmente, pode não ser judia mas é arrogante como uma.- A morena levantou e posicionou-se a poucos centímetros do rosto de Emma. -Não me subestime, senhorita Swan. Você não tem ideia do que eu sou capaz.

Um capuz cobriu a cabeça de Emma e ela podia ouvir a voz de Regina, bem próximo a sua boca:

–Vamos ver o que você pensará de mim amanhã, senhorita Swan.- A morena a agarrou pelos braços, algemando-na e a levando para outra sala...

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