Capítulo 6- Adeus, cachinhos dourados

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A insônia ainda é um malefício que a psicologia e a medicina não conseguem explicar. É claro que o nosso cérebro se mantém ativo quando estamos com várias descargas elétricas causadas por sentimentos, mas como esses podem ser tão fortes a ponto de barrarem algo biológico tão essencial?

Quando Emma a recém tinha pego no sono, o sinal do campo tocou. O sinal que indicava mais um dia de trabalho que estava por vir, talvez o último de muitos, que não mais conseguiam descansar com a pequena noite de sono.

A loira resmungou e balbuciou palavras em protesto, mas sabia que tinha que levantar logo se não quisesse apanhar pelo seu atrasado. Apesar de terem sido poucos minutos, conseguiu dormir confortavelmente na cama de palha do pequeno quartinho do estábulo, que aconchegante. E o melhor: só para ela, diferente dos alojamentos do Gueto que ela dividia com outras dúzias.

Calçou as botas que Regina lhe dera para trabalhar e partiu em disparada à Praça. Várias garotas já se encaminhavam em fila, cabisbaixas. Diminuiu a velocidade e começou a caminhar. Um guarda a fitou, mas assim que viu o broche da comandante, levantou a cabeça e deixou com que Emma passasse.

Manteve-se imóvel até o final da chamada. Achou que seria interrogada pelas botas que usava e seu paradeiro, mas ninguém o fez.

Assim que retornou ao estabulo, Herr Comandante estava lá. Ela tinha tirado o cavalo para fora, e o escovava enquanto o animal parecia estar relaxado e com os olhos meio fechados.

O coração de Emma estava disparado: não sabia como se portar daqui pra frente, nem como separar o que tinha acontecido na noite passada com as suas responsabilidades no trabalho. Como, em tão pouco tempo, aquela mulher a sua frente tinha bagunçado tanto a sua mente?

-Bom dia, Herr. Comandante. Em que posso ajudá-la? - disse firme, saudando a morena quando ela largou a escova e se virou para observá-la.

-Preciso tratar de assuntos urgentes com o pelotão, mas antes disso quero montar o Perseu na arena. Preciso que o encilhe para mim, Srta. Swan.- disse, gesticulando cada palavra. Mas uma em especial saiu ressaltada: preciso.

-Eu... eu...- Emma gaguejava, tentando se recompor. Respirou fundo, sabia que teria de separar o pessoal do seu trabalho se quisesse se manter viva, mesmo Regina protegendo-na.- Vou encilhá-lo agora mesmo e acompanhar a senhorita na arena.

Regina sorriu em resposta, nada precisava ser dito. Gostava da companhia de Emma e do jeito com que ela lidava com os cavalos. Sentou-se num banco e lustrou as suas botas enquanto esperava pelo cavalo. Geralmente, o alto escalão e até mesmo os soldados tinham um judeu que fizesse isso por eles. Mas ela parecia não fazer questão que o fizessem, e sim ela mesma, o que fez com que Emma pensasse em milhares de razões pelas quais ela estava ali.

Swan apertou bem os arreios do tordilho e segurou suas rédeas para que a comandante o montasse, o que ela fez num só impulso. Logo, estava imponente, com as costas eriçadas e retas, deixando seu peso bem equilibrado nas costas do animal.

Seguiram para a pista de areia e Regina deixou que o cavalo a reconhecesse caminhando, sem forçá-lo mas ao mesmo tempo firme em sua sela, exatamente como Emma havia lhe dito. Ao perceber que o tordilho estava relaxado, puxou um trote alongado, fez um círculo, fazendo com que ele cedesse o pescoço.

Tudo parecia correr incrivelmente bem, a comandante tinha um dom nato com cavalos e conhecia bem o adestramento. Mas quando ela colocou o animal num galope rápido, foi quando Emma se impressionou. Sem coices e corcoves, nada. Perseu galopava como uma pena, fazendo com que a poeira voasse.

Para finalizar o exercício, Regina colocou-o no centro da pista e fez com que alongasse ainda mais, e depois juntou os joelhos na sela e segurou forte as rédeas para baixo, da exata maneira que deveria fazer para recuar o animal. Mas assim que Perseu sentiu-se pressionado para baixo, reagiu e empinou, fazendo com que a comandante parasse em seu pescoço.

No Amor e na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora