17 - Ravenna

29.6K 1.9K 171
                                    

Quando dá a hora do meu trabalho, Kyle me leva até a livraria e se despede dizendo que vai voltar para os estudos.

Meu amigo ficou chateado de verdade e vê-lo tão cabisbaixo, diferente daquela alegria contagiante e natural dele me deixa incomodada também.

Mais tarde ligarei pra Cindy e teremos um séria conversa.

Falando em ligar, meu telefone toca.

E é minha mãe!
Ah que saudade!

- Oi mãe! Que saudade, a gente não se fala tem quase duas semanas! Tudo certinho com você? - acho estranho usar o português quando só falo, vejo e ouço inglês todos os dias.

- Oi, filha. É verdade, você esquece que tem mãe. O que eu posso fazer... - sua voz é doce como sempre, mas brincalhona também. - E eu estou bem, está tudo bem por aqui.

- Desculpa, dona Rita. É que as coisas aqui viraram de cabeça pra baixo e você me conhece, eu só atraio confusão. - realmente, até vocês já repararam.

Ela solta aquela risada alta e extravagante que eu amo:

- Realmente! Mas me conta, como anda tudo aí, além das suas confusões?

- Ah... Tudo legal... - eu com certeza não vou contar pra minha mãe sobre o Eric, pelo menos não agora. - Ah! Tive uma aprensetação em uma boate sexta passada e foi um arraso, mãe! Amanhã teremos outra e tudo indica que o lugar vai encher ainda mais, acredita? Estou tão animada... - eu jogo toda essa informação em cima dela pra ver se a distraio.

- É mesmo, querida? Que maravilha, meus parabéns! Eu não esperava diferente, você é uma artista e tanto. - Ahh, dona Rita sempre tão meiga e companheira.

- Muito obrigada, mãe. Você sabe como seu apio é importante pra mim.

Sim, o apoio dela é o que me mantém de pé também.

Quando cheguei aqui estava cheia de medo e muito insegura. Por mais que estivesse super empolgada com essa oportunidade de ouro eu estava assustada pra cacete também.

Imaginem, nunca tinha sequer morado sozinha e do nada me mudo pra outro país longe de tudo, completamente tudo que conhecia!

Aí entra minha rainha, me dando todo o estímulo que eu precisava.

No início eu ficava acordada madrugadas e madrugadas sem fim, ansiosa, com uma insônia dos infernos. Quem me fazia companhia acordada?

Pois é, ela ficava ao telefone comigo durante toda a madrugada, me acalentando e dando forças pra correr atrás dos meus sonhos.
Meu pai já é mais sério, mas não por isso menos carinhoso.

Falando nele...

- E meu pai, como está?

- Ótimo! Está aqui assistindo os lances do jogo de ontem do Fluminense, como sempre. - ouço uma voz ao fundo, minha mãe fala alguma coisa longe do telefone e depois volta pra nossa conversa. - Ele acabou de mandar um enorme beijo e pediu pra perguntar como você está sobrevivendo só com esse "futebol americano estranho e sem sentido" daí. 

Eu solto uma risada e minha mãe ri comigo.

Meu pai é uma figura, ele diz que futebol de verdade é o nosso, do Brasil.
Implica comigo horrores por eu até ter um time de futebol americano aqui, o San Francisco 49ers.

É estranho, eu sei, torcer pra um time da Califórnia se estou em Nova York, mas foi o Kyle que me apresentou logo depois que nos conhecemos, aí eu gostei.

- Manda outro beijo pra ele, mãe. Ah, e fala que eu mandei ele assistir ao lance da Super Bowl XXIII quando o Joe Montana lançou aquele disco de 42 jardas dando a vitória pro 49ers em cima do Bengals. - eu solto uma gargalhada, doida pra poder ver a cara do meu pai nesse momento.

Te Encontrei Quando Não Procurava - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora