Era finalmente sábado. Fiquei praticamente o dia todo fora com Vee. Comemos hamburguer no McDonalds, vimos centenas de vitrines de lojas e experimentamos roupas até cansarmos.
Lá pelas 16:00 da tarde estacionei meu velho Fiat na entrada de carros de casa. Fechei a porta da garagem e subi lentamente os poucos degraus que levavam até a porta dos fundos. Ouvi a voz de mamãe vinda da sala, provavelmente conversando com Hugo, seu namorado-barra-chefe. Me arrastei pelos os corredores, passando pela a cozinha para pegar um pedaço de bolo. Sentei na cadeira e considerei a hipótese de subir diretamente para o meu quarto. Dei mais uma mordida no minha fatia achocolatada e mastiguei rapidamente.
Não é que eu não gostasse de Hugo, mas é que...papai ainda estava muito presente na minha memória, apesar de ter falecido há um ano e meio. Tinha consciência de que mamãe não podia parar no tempo, e que seu coração não ficaria vazio para sempre, mas mesmo assim...
Muito lentamente arrastei a cadeira para trás. Lambendo a ponta dos dedos para retirar o chocolate, me dirigi até a sala, a fim de cumprimentá-los e socializar um pouco antes de me isolar. Porém, não era Hugo quem estava sentado no sofá, parecendo extremamente à vontade e sorrindo amigavelmente para a minha mãe.
Tirei meu dedo indicador da boca e apontei para ele. Tenho certeza que meus olhos estavam arregalados e meu rosto corado.
–Patch, o que está fazendo aqui?- Meus olhos vagavam vacilantes entre ele e minha mãe.
–Nora, venha se sentar conosco- chamou mamãe.
Caminhando hesitante me sentei ao seu lado. Meu olhar fixo nos olhos de Patch diante de mim. Mamãe pousou uma das mãos finas na minha perna esquerda. Encarei Patch e arqueei as sobrancelhas, perguntando silenciosamente o que era aqui afinal de contas.
–Seu colega me contou que você marcou com ele aqui em casa pra fazerem um trabalho de matemática.
Voltei minha atenção para ela.
–O quê?
–Nora, nós precisamos de uma nota boa em matemática, você sabe.- Cada palavra de Patch saia calmamente. Quando mamãe levantou-se para deixar a xícara de café em cima da mesa de centro, ele sorriu abertamente e me lançou uma piscadela.
–Patch me contou que a melhor nota dele é matemática. Você tirou a sorte grande em fazer dupla com ele, porque nós duas sabemos que você não é muito fã dessa dessa matéria, assim como eu- ela me deu um sorriso cúmplice.
Tirei a sorte grande? Sério?
Não esbocei nenhuma reação.
Ele estava forçando as coisas. Senti vontade de mandar ele ir embora, e pedir para mamãe nunca mais deixá-lo entrar. Que desaforo! Já não basta entrar sem permissão nos meus pensamentos, agora tinha que invadir minha residência também?
Ele havia dito a coisa certa, para a pessoa certa. Minha mãe era tão obcecada pelas as minhas notas quanto eu, e sabia da minha dificuldade nessa matéria maldita. Se eu simplesmente madasse Patch embora, o que diria para ela? Ele não me fizera mal algum (apesar de me sentir extremamente vúlneravel em sua presença). Sem sombras de duvidas ela ligaria para o colégio e verificaria a autenticidade desse trabalho.
–Sim, precisamos- disse entre os dentes.
–Querem um pedaço de bolo?- perguntou minha mãe, passando as mãos uma na outra.
–Já comi- afirmei. Mamãe fitou-me com o cenho franzido, "Onde está a sua educação, Nora?" era o que sua expressão me dizia. Como me mantive quieta, ela olhou para Patch e sorriu um pouco sem graça.
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Entre Suas Asas
أدب الهواةPatch não é o tipo de garoto que se apresenta pra família, que pensa em estudar e ter um bom emprego no futuro. Patch não é o cara "mauricinho", e que chama atenção à primeira vista por ser educado e gentil, muito pelo o contrário. Mas no...