Compras? Lá vamos nós!

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-Ai!- Vee exclamou ao repousar a boca na xícara que segurava com as duas mãos. Seu rosto ficou vermelho e ela deixou o recipiente em cima da mesa e cruzou os braços.-Nem quero mais essa porcaria.

Sorri para ela.

-Você é muito ansiosa, sabia que estava quente, porque não esperou um pouquinho?

Vee pôs seus óculos escuros, recostando-se na cadeira do Enzo's.

-Não gosto de esperar - murmurou.

Revirei os olhos.

-Está nublado, frio e estamos dentro de um local fechado -falei.

Beberiquei a beiradinha da xícara. O chocolate quente do Enzo's era uma delícia. Lambi os lábios.

Ela deu de ombros, a expressão mostrava impaciência.

-Então posso saber o motivo dos óculos escuros?- Concluí.

Ponderou por alguns segundos e abriu um sorriso cheio de dentes branquissimos.

-Baby, eu já sou linda sem óculos escuros, mas com eles...eu sou um arraso.

Sabe, às vezes eu gostaria de ter pelo menos um terço da autoestima de minha melhor amiga.

-Nossa, você andou com Marcie Millar por acaso?- Debochei.

Vee me fuzilou com os olhos e jogou seus cabelos finos e louros para trás.

-Nem vem! Não me faça parecer uma egocêntrica, que se acha. Apenas me valorizo, coisa que você não faz.

Soprei o líquido marrom escuro de dentro da xícara e observei por um instante as minimas ondas que formaram. Suspirei e a encarei.

-Ótimo, está dizendo que não tenho autoestima?

Minha testa e lábios estavam franzidos. Ela ergueu as mãos até a altura dos ombros, dando a entender que não tinha dito nada demais.

-Quando foi que você comprou alguma roupa ousada? Quando foi que você não reclamou do seu cabelo?- Vee apontou para o meu sueter- Olhe pra isso! Parece que herdou isso da sua avó!

Meu instinto natural era negar até a morte. Arranjar argumentos, discordar de suas palavras e brigar com ela. Mas a verdade é que talvez Vee tenha razão. Dei de ombros e me rescostei na cadeira vermelho sangue bruscamente, fazendo com que os pés de madeira dela fossem arrastados minimamente para trás.

Ficamos em silêncio por um momento.

-E fique você sabendo que este sueter é da minha mãe, e não da minha avó- soltei por fim.

Ela começou a rir. Tentei bancar a durona e tal, ficar encarando-a e fingir indiferença, mas não deu nem cinco segundos e eu já estava rindo também.

-Hoje iremos fazer compras - avisou assim que ergueu um pouco seus óculos de marca e limpou as lágrimas abaixo dos olhos com a ponta do seu polegar.

Ergui uma sobrancelha.

-Estou sem dinheiro, gastei a minha mesada comprando um celular novo, se lembra?

Vee deu-se um tapinha estalado na testa.

-Droga. Mas e sua mãe?

-Mamãe vive reclamando que está sem dinheiro. E também nós brigamos ontem, não quero pedir nada para ela.

Vee pegou novamente sua xícara e com todo o cuidado do mundo, tomou um gole do seu chocolate quente. Depois de se certificar que não ficaria com nenhuma queimadura mais grave na língua, envergou-a e bebeu rapidamente tudo.

Entre Suas AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora