O escolhido

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#Hist#

Sinceramente o momento de maior tensão é o processo da decolagem, quando os motores e turbinas, a toda potência, vencem a força da gravidade, rompendo o ar, vencendo o arrasto na razão de subida, até o teto. São muitas as variáveis nesta equação. Meu nome é Klaus Werner Von Falles, 42 anos, doutor em física e astronomia, indicado ao premio Nobel, mas sem lograr o êxito, talvez a concorrência daquele ano tenha me impedido de chegar à Suécia. Talvez, se fosse judeu e não fosse brasileiro, já o teria ganho há muito tempo. Apesar de pais alemães e esse nome bárbaro, sou brasileiro nascido em Salvador-BA, quando meu pai, empresário, foi cônsul honorário da Alemanha por alguns anos, naquela cidade. Mais de trinta anos sem retornar ao Brasil, estou indo de volta para averiguar um sinal eletromagnético, que captei na semana passada.

Estava estudando astronomia com o telescópio da universidade de Berlim, quando um sinal estranho me chamou a atenção. Observando melhor, notei que indicava um ponto específico no hemisfério sul, no qual me pareceu estranho. Analisando os dados astronômicos e convertendo-os para coordenadas geográficas, constatei que estava exatamente na região da Chapada Diamantina, centro do estado da Bahia, no Brasil. Após alguns estudos, constatei sua veracidade, o que me encheu de curiosidade a respeito. Consegui também, com uso de um amplificador de sinais, demodular alguns sinais audíveis, como uma espécie de mensagem, ainda indecifráveis para mim.

Em velocidade e teto de cruzeiro, já em pleno voo, fui tentar dormir para descansar e passar o tempo.

Já acordei em pleno processo de descida e não precisa ser um físico renomado, para saber que o pouso, com certeza, não deixa de ser, também, um procedimento preocupante, pois não se pode errar e não estar no comando nessas horas, me provoca dúvida. Aterrissagem feita, passei pela alfândega e aluguei um carro no próprio aeroporto de Salvador; como não tenho parentes no Brasil, me dirigi para a Chapada Diamantina de imediato. Com informações e um mapa em mãos, sete horas depois estava lá, parei num posto de combustível e pousada, chamado Pai Inácio, como já estava escuro, jantei e fui dormir.

No dia seguinte, contratei um guia no mesmo posto, e pelas coordenadas seguimos viagem até um determinado ponto, onde começamos a subir um morro para o ponto equidistante. Realmente senti uma grande energia naquele local, e ficando mais forte à medida que se ia subindo. Paramos o veículo num determinado patamar e continuamos o resto da subida a pé. Chegando ao cume, instalei os equipamentos que trouxe comigo e ficamos esperando algo acontecer.

Acampamos no alto do maior morro da região, com uma espécie de barraca ou tenda, fiquei olhando aquele céu maravilhoso, há muitos anos não via um céu tão completo assim, a olho nu. Horas se passaram e de repente o meu medidor de ondas eletromagnéticas deu um sinal. Como falo algo que se parece muito com o português, disse para o guia ficar calmo, e que estava tudo sob controle. O instrumento deu um alarme sonoro, então corri, peguei uma pequena antena parabólica e apontei para cima, quando uma nuvem com relâmpagos se formou bem no alto e uma luz concentrada desceu até onde estávamos. Caí no chão por simples medo do que presenciava ali e o guia sem pestanejar correu desesperadamente morro a baixo, sumindo na ladeira escura. Não podia me dar ao luxo de ter medo, então me ergui e fiquei olhando, perplexo, até a luz se apagar. Tudo sumiu, e alguns minutos depois da taquicardia provocada passar, descansei, e fui dormir.

Pela manhã, quando acordei, coloquei o instrumental novamente no modo ativo e passei o dia inteiro dando um passeio pelo morro e a imensidão silenciosa do lugar. Quando a noite caiu novamente, acendi uma fogueira e me sentei. Meia-noite em ponto, tudo de novo, outra nuvem, relâmpagos e uma luz concentrada, bem perto da barraca montada, descia com o foco bem no centro do morro. Após um tempo me aproximei, a luz cessou e foi só. Por não ter mais ocorrências, já mais calmo, relaxei e deitei para tentar dormir.

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