O Portal de Anaya - Livro 3 - A evolução

Capítulo 5 - O sequestro

O sequestro

Por mais bonita que fosse a natureza em Wicnion, naquele momento, Eik não podia imaginar nada mais belo do que o corpo nu de Marianna estendido sobre o leito. Os cabelos escuros, soltos e esparramados, brilhando avermelhados sob a luminosidade de Rugx, as curvas que ele não se cansava de contornar com as mãos, e muitas vezes com a boca, os pelos pubianos que tentavam esconder aquilo que ele era capaz de enxergar de olhos fechados, o tom moreno da pele. Mesmo as cicatrizes que ela trazia no corpo despertavam nele o desejo de possuir aquela mulher de personalidade forte e arredia, mas que também sabia ser meiga e carinhosa.

Quando terminou de se vestir, Eik sentou ao lado dela, afastando-lhe os cabelos do rosto para poder lhe beijar a boca. Ela espreguiçou e o espiou com os olhos entreabertos, fechando-os em seguida. Tateou em busca da mão dele e a colocou sobre o próprio seio.

- Os conselheiros estão me esperando na tenda de Vetus. – Ele disse sorrindo.

Ignorando o comentário de Eik, Marianna conduziu a mão dele pelo seu ventre até pousá-la sobre os pelos negros. Ele suspirou, aceitando o fato de que aquela era uma batalha perdida, por isso, nem tentaria lutá-la. Despiu-se novamente e se deitou parcialmente sobre a esposa, que entreabriu outra vez os olhos com um sorriso ainda maior.

- Eu te amo.

- Eu também te amo. – Ele falou, sentindo um leve beliscar nos dedos, já afogados entre as pernas dela.

§

- Os tempos são outros, agora! – Eik declarou enfático aos conselheiros.

- Mas essa é a nossa lei. – Um deles respondeu sem se alterar. – O que você deseja não está correto.

- Nossas leis estão ultrapassadas. – Eik estava determinado a convencê-los. – Desde que os rebelados chegaram a nossa aldeia que ficou claro que machos e fêmeas devem ter os mesmos direitos.

- Isso é um absurdo! – Um outro conselheiro reagiu como se tivessem lhe ofendido.

- Eik está certo. – Vetus interviu. – Durante a invasão, Marianna abateu lobos tanto quanto qualquer guerreiro. Eu sou a favor que ela fique na liderança da aldeia enquanto eu e meu irmão acompanhamos Barbarus no resgate de Malah.

- E como podem ter certeza de que não foi apenas um sonho mesmo? – Um conselheiro de nariz protuberante e cego de um olho falou pela primeira vez. – O baladino está sofrendo pela perda da companheira e tudo pode não passar de imaginação. Estamos nos expondo a um risco desnecessário!

- Creio que os deuses já nos deram provas suficientes de que estão do nosso lado e usam os sonhos para se comunicarem conosco. – Eik falou desafiando-os.

Os três conselheiros humanos sobreviventes foram para um canto da tenda discutir a proposta de Vetus e Eik que sugeriam deixar Marianna na liderança da aldeia enquanto eles iam em busca da líder baladina. Ansioso e angustiado, Barbarus aguardava a resposta na tenda de Eik, sentindo que perdia um tempo muito grande enquanto sua esposa estava exposta a todos os perigos possíveis. Marianna praticava a mira com sua adaga usando uma cabeça de lobo como alvo, mas enfrentava alguma dificuldade para se concentrar, distraindo-se com o nervosismo do baladino, que caminhava de um lado para o outro. Decidido a não esperar mais, Barbarus deixou escapar um sonoro "Chega!". Ele juntou tudo que julgou útil levar consigo sem tornar sua bagagem um fardo e saiu sem se despedir, deixando o filho aos cuidados da mãe e irmãs de Ubax.

Marianna achou melhor não ir atrás dele e aguardar a resposta do Conselho, mas sentia o coração dividido, amedrontada pela responsabilidade que lhe recairia sobre os ombros, chegando a desejar que os conselheiros negassem o pedido. Além do mais, se eles não concordassem, Eik ficaria na aldeia e somente Vetus seguiria com Barbarus, o que para ela seria bom, apesar de reconhecer o quanto esse pensamento era egoísta. Ela caminhou até a cabeça de lobo e arrancou a adaga que estava cravada em um dos olhos do objeto inerte, observando com desprezo os restos do animal. Sem se conter, arremessou-lhe um jato de cuspe.