Capítulo 20 - A queda

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A queda

Posicionado acima da torre mais alta do castelo do Rei Rufus, o Chefe contemplava o manto sombrio que cobria não apenas o campo de batalha, mas também envolvia o baluarte e os acampamentos, tanto dos rebeldes quanto dos aliados. Ele observou o chicote que Sayen lhe entregou para que cumprisse a tarefa ordenada por Gabhar: conduzir de volta a Tartharius as almas que o próprio governador havia libertado do Castelo de Chabon para que instigassem a ira e o desejo de vingança entre os guerreiros. Ele não compreendia o motivo pelo qual deveria retirar aquela massa de espíritos desgraçados dali, antes da vitória estar garantida, mas não ousou questionar o governador com suas dúvidas tolas. O que importava, era que o açoite em suas mãos lhe outorgava autoridade sobre aqueles infelizes. Um feixe de luz capaz de paralizá-los momentaneamente, mas que os mantinham conscientes enquanto percebiam seus átomos se desestabilizarem. A sensação era agonizante, dando-lhes a impressão de que estavam se dissolvendo. Um simples toque da ponta do chicote era suficiente para que entendessem que deveriam obedecer. Por um instante, o Chefe desejou que Salac estivesse ali para invejar sua posição, mas já tinha em mente entregá-lo a Gabhar, esmagando qualquer delírio do comparsa em debandar para o outro lado, se ainda não o tivesse feito.

Sentindo-se poderoso, ele se deixou levar pela excitação, entregando-se completamente à tarefa de conduzir o rebanho espúrio de volta a Tartharius. Cada estalar do chicote era seguido de sons agudos que lhe causavam tanto prazer, que ele poderia passar o resto da eternidade fazendo aquilo. De repente, ele viu de longe uma luz que contornava todo o cenário e foi tomado pelo desconforto de saber que os enviados de Luvelann estariam espreitando entre os guerreiros, esperando qualquer vago pensamento que os atraísse, como insetos que buscam fagulhas de luminosidade na escuridão. O Chefe sentia tanta repulsa pela claridade que emanavam, que odiou Salac com todas as forças, apenas por imaginar que ele a estivesse desejando ou, pior, que tivesse sido levado para Quartarius.

- Andem, cabritos! - Ele bravejou acertando mais alguns azarados. - O governador os quer de volta ao castelo, já! Ousem desobedecê-lo e o calabouço será o lar de vocês para sempre! - Sem se conter, ele deixou uma gargalhada fluir e pensou que a sensação que lhe percorria o ser, certamente, era o que chamavam de felicidade.

Afastados, os voluntários apenas observaram o exército sombrio do Castelo de Chabon se retirar do local sob o comando do Chefe e, logo, começaram a ouvir os pedidos de conselhos, os clamores por ajuda, os arrependimentos e os desejos sinceros de que a guerra acabasse. Imediatamente, alguns se aproximaram e incentivaram o Rei Apso e seus companheiros a falarem com os rebeldes.

Uma vez unidos, a vitória sobre lobos e fenecos foi rápida, levando os primeiros a fugirem, enquanto os outros preferiram mudar de lado. Para os lobos, era inconcebível receber ordens de qualquer outra espécie. Eles preferiam morrer a se subjugarem aos líderes rebeldes, mas os fenecos tinham outra forma de pensar. Para eles, o importante era sobreviver, de preferência, de uma forma vantajosa. Assim, quando perceberam que o jogo havia virado, eles baixaram as armas e se ofereceram para colaborar. Em fila, os fenecos foram conduzidos ao calabouço, até que as coisas se organizassem novamente. Os lobos que conseguiram escapar, deixaram um rastro de sangue, corpos mutilados e muitas cabeças decepadas. Protegido no interior das galerias secretas, o General Signatus conseguiu se locomover com certa dificuldade, devido à escuridão, até um ponto onde teria contato visual com a parte externa do castelo e acompanhou a fuga de seus soldados, conseguindo chamar a atenção de seu capitão que, para seu alívio, estava vivo e ileso.

Ambos conversaram rapidamente por uma falha entre os blocos de pedra e o capitão designou quatro guerreiros para permanecerem na galeria junto ao general. Eles tinham a missão de ajudá-lo a encontrar o rei, que certamente estaria perambulando pelos corredores ocultos de forma aleatória. Separaram-se rapidamente, evitando que qualquer rebelde pudesse desconfiar da existência do esconderijo. O capitão levaria o exército dos lobos, ou o que sobrara dele, para o interior de uma mina de aurita abandonada e, lá, eles aguardariam até que o general os encontrasse, levando consigo o Rei Rufus.

O Portal de Anaya - Livro 3 - A evoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora