Capítulo 14 - A máquina do destino II

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A máquina do destino II

Quando Mestre Carama entrou no quarto acompanhado por Mila, Dathí Daoud estava acordado. O corpo deformado sobre a cama não os impressionou, mas seu olhar, sim. Depois de receber uma dose extra de Inhibere em Luvelann para não pensar na Rainha Zerda, Dathí havia sido transferido para a Colônia Provisória e estava internado em uma ala criada especialmente para os voluntários que retornassem de Wicnion. A ala era protegida e vigiada ininterruptamente. Nenhuma informação ou imagem eram transmitidas para fora dela e o acesso se dava por um portal a partir da sala do diretor Ras Yerodin, garantindo que sua existência permanecesse em segredo. Tão logo despertou, Dathí iniciou uma bateria de perguntas sobre o local onde estava, sua anomalia física e porque não conseguia se lembrar de nada, mas o isolamento da área de internação permitiu a remoção gradual do Inhibere, devolvendo-lhe não apenas as memórias de Dathí Daoud, como toda a história de vida de Lui Mandrós.

- Como você está? – Mestre Carama foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- Nem um pouco bem. – Ele olhou para as pernas.

- Eu o ajudarei a resolver isso. – Mila quis tranquilizá-lo.

- Você cumpriu sua parte no acordo. – O governador sorriu. – Suas dívidas foram quitadas e sua casa estará reformada quando você retornar. – Mestre Carama piscou o olho. – Lui, eu preciso dizer que sua participação na missão foi incrível e lhe rendeu muitos bônus de energia!

- Desculpe-me, Mestre Carama, mas depois de tudo o que eu passei, não há como voltar para aquela casa. – O homem não fez nenhum esforço para esconder seu sofrimento.

- Não? – O governador perguntou com sincera curiosidade. – E o que você quer, Lui? Talvez eu possa conseguir.

- Senhor, com todo respeito, não existe mais Lui Mandrós. Essa pessoa morreu no dia que eu entrei na cápsula para renascer em Wicnion. – Pela primeira vez em sua existência, ele decidiu ir além. – Eu preciso de ajuda.

- Sim, eu vou ajudá-lo. – Mila mostrou o novo mapa genético de Dathí. – Nós podemos consertar isso sem problemas.

- Não quero que você conserte!

- Não!? – Mila recuou confusa.

- O que exatamente você quer, Dathí Daoud? – Mestre Carama se aproximou. – Você não pode retornar a Wicnion.

- Eu não quero retornar, mestre, mas eu abro mão da casa e de todos os meus bônus de energia em troca de sua palavra de que Zerda será resgatada. – Dathí o olhou com súplica.

- Você sabe que não depende de mim, não sabe? Ela tem que querer. – O governador encarou Dathí, que retribuiu o olhar com a certeza de que Mestre Carama estava lendo seus pensamentos.

Mas algo os silenciou. As luzes começaram a piscar e o ambiente em volta deles oscilou como uma imagem que sofre interferência, eles sentiram um forte tremor, então, tudo voltou ao normal.

- O que está acontecendo? – Mila estava assustada, jamais havia presenciado algo similar no Portal ou em seus anexos.

- Não se incomode com isso. – Mestre Carama disse sem dar muita importância. – Creio que sei do que se trata, irei resolver assim que possível. – Ele se voltou para Dathí. – Zerda precisa pedir ajuda para poder recebê-la.

- Acredito que entre tantos destinos possíveis, exista algum no qual ela possa ser resgatada. – Dathí morava há muito tempo no Anexo dos Condomínios. Tempo suficiente para conhecer os segredos do Portal.

Os dois permaneceram conectados pelo olhar, deixando Mila sem entender muito bem o que estava acontecendo.

- Prometo que farei o que estiver ao meu alcance. – O governador sorriu sem demonstrar nenhum constrangimento com o comentário de Dathí. – Agora, poderia explicar porque não quer que Mila corrija seu mapa genético?

O Portal de Anaya - Livro 3 - A evoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora