Capítulo 9 - O segundo ataque

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O segundo ataque

Quando Novus rolou pelas escadas embolado a dois lobos sentiu a segunda espada atravessá-lo. Ele sabia que nada mais lhe restava além de tentar retardar os guardas, o máximo que pudesse, para que Malah conseguisse alguma vantagem de tempo em sua fuga. A cada movimento da lâmina dentro do seu corpo, ele clamava pelo fim daquele sofrimento com o desejo sincero de que nenhum de seus companheiros tivesse que sentir aquela dor. Finalmente, estirado ao chão, com a espada saindo de seu peito e atravessando o corpo inerte de um lobo debruçado sobre ele, Novus se concentrou e tentou empurrá-lo para cima. De olhos fechados, sentiu como se estivesse sendo rasgado ao meio. Gritou tão alto quanto pôde e no mesmo instante que se soltou, percebeu o alívio do peso, da pressão, da dor...

- Pode abrir os olhos agora. Está tudo bem.

A voz que ouvira era tão suave e acolhedora que o fez se sentir criança novamente, aconchegado ao colo de sua mãe. Um calor brando o extasiou e sua mente percorreu lugares há tanto tempo esquecidos. Ele abriu os olhos, mas tudo que viu foram rostos borrados e uma luz forte a lhe cegar. Quis reagir, perguntar, falar qualquer coisa, mas foi tomado por um sono incontrolável, difícil de combater. – Eles teriam vindo resgatá-lo?

- Sim, nós viemos levá-lo para um lugar seguro. Agora, descanse um pouco. – Novus ouviu a resposta, mesmo que a pergunta tivesse sido formulada apenas em seu pensamento.

Um rapaz e uma moça haviam acomodado Novus sobre uma maca e observavam os outros dois companheiros que do alto da escada sinalizavam que tinham feito o mesmo com Dathí.

- Podemos ir.

- Melhor fazermos isso juntos. – Os dois responderam pedindo que os amigos viessem até eles.

- Está certo, vamos descer.

Quando os quatro se reuniram, eles apoiaram as macas no chão lado a lado sem soltá-las.

- Cuidado! – Um deles alertou aos demais. – Não tirem as mãos das macas de jeito nenhum! Os espectros que nos rodeiam esperam apenas por um descuido nosso para levarem Novus e Dathí para Tartharius.

- É verdade! Um deles quase arrancou Novus do corpo antes do fio vital se romper completamente.

Eles haviam criado um círculo de energia em volta das macas e sentiam o poder da escuridão crescendo em todo o ambiente, aumentando a pressão para que a luz que irradiavam se tornasse apenas uma chama de vela perdida nas trevas, por isso, precisavam sair dali imediatamente, antes que ficassem exaustos e, uma vez enfraquecidos, falhassem na missão de proteger Novus e Dathí. Os quatro se ajoelharam e se entreolharam sinalizando que estavam prontos, era primordial que sincronizassem pensamentos e emoções. Quando emanaram os fluidos do desejo em comum e se conectaram efetivamente, bastou um piscar de olhos para chegarem a Quartarius pela flugitação. Materializaram-se sob uma tenda grande e branca repleta de camas ocupadas, com enfermeiros e voluntários assistindo os pacientes. A supervisora se aproximou e identificando quem eram os resgatados, conduzi-os para uma área reservada da tenda.

- Vou dar o sinal para desativarem o campo de proteção. Sigam para Luvelann sem demora!

Instantes após a supervisora ter saído dali a luminosidade do local se expandiu e novamente os quatro companheiros se entreolharam e acenaram com a cabeça. Vigílio os esperava no portão de entrada da Colônia Wicniana e, rapidamente, todos foram acolhidos. Novus e Dathí permaneciam inconscientes e foram internados em quartos separados. Não deveriam se ver quando acordassem, pois, poderiam estimular lembranças desagradáveis um no outro e isso só atrapalharia a recuperação de ambos.

Cada um teria dois energizadores se revezando para ajudá-los a se recuperarem. A dor sofrida enquanto estavam presos a um corpo físico precisava ser anestesiada antes de despertarem e as memórias deveriam ser liberadas gradualmente, à medida que mente e espírito se fortalecessem.

O Portal de Anaya - Livro 3 - A evoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora