Capítulo 16 - O terceiro ataque

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O terceiro ataque

Sentado do lado de fora da tenda, Barbarus devorava uma enorme coxa de ave. A noite com Malah tinha sido maravilhosa e ele se sentia pleno e ainda mais apaixonado por ela. Lembrou-se do dia em que a conheceu, tão fragilizada e machucada que quase não resistiu. Seu encantamento em encontrar uma fêmea da sua espécie foi tanto que logo se apaixonou. Foram dias sofridos, com ela lutando pela vida. Depois, veio a descoberta da gravidez, o medo da separação, as complicações do parto, onde, mais uma vez, ela precisou lutar pela vida, e o momento em que ele segurou Aura e Lokele nos braços. A guerra os impedia de viverem livremente, no lugar que escolhessem, mas Barbarus transbordava gratidão. O Salvador concedera a visão às meninas e as havia libertado da anomalia que as mantinham presas uma a outra. Ele também tinha muito o que agradecer pela vida de Usama. O filho estivera em dois ataques e sobrevivera a ambos, tendo sempre Malah a defendê-lo com sua própria vida. Mas, agora, os deuses o queriam como embaixador dos povos e isso, certamente, o afastaria deles.

- Pensando no destino de nosso filho? – Malah se sentou ao lado dele comendo um pedaço de pão e lhe oferecendo outro. – Quer?

- Sim, eu não penso em outra coisa. – Ele pegou o pão e antes de mordê-lo o usou para limpar os dedos da gordura deixada pela coxa de ave que, a essa altura, tornara-se apenas um osso desprovido de qualquer vestígio de carne.

- Eu acho que deveríamos conversar logo com Immutef.

- Você está certa. – Barbarus falou com a boca cheia de pão. – Será que ele vai aceitar?

- Eu não tenho dúvidas. – Ela disse confiante. – Se ele precisa aprender sobre ciência e medicina, quem melhor para iniciar seus ensinamentos?

- Quanto a isso, eu concordo! Mas ele precisará aprender línguas, manejo de armas, magia... – Ele arregalou os olhos. – É muita coisa para um ser tão pequeno ainda!

- Não se preocupe. – Ela passou a mão na cabeça de Barbarus. – Os baladinos se desenvolvem muito rápido. Infelizmente, a maturidade chega muito cedo para a nossa espécie.

- Você tem razão. – Barbarus sorriu. – E temos que aproveitar os recursos desta aldeia! Muitas espécies juntas, não sabemos quanto tempo isso irá durar.

- Então, o que estamos esperando? – Malah se levantou de um pulo. – Vamos à tenda de Immutef, quero ver minhas meninas também.

- Nossas. – Ele a corrigiu, levantando-se e segurando a mão dela.

Os dois caminharam de mãos dadas e, por um momento, esqueceram as preocupações da guerra. Barbarus colheu uma flor e a colocou no cabelo de Malah que retribuiu com um beijo apaixonado. Cantarolaram juntos uma canção baladina e chegaram à tenda de Immutef às gargalhadas, relembrando histórias engraçadas envolvendo gafes que ambos haviam cometido em situações passadas. Iam chamar o amigo antes de entrarem, mas ouviram o choro de Aura e Lokele, então, invadiram a tenda e se depararam com as meninas abraçadas ao estrígio, enquanto Shiyali parecia concentrado escrevendo algo em suas folhas e Usama estava sentado quieto, apenas observando assustado.

- O que está acontecendo aqui? – Barbarus bravejou nervoso.

- Filhas! – Malah correu para as meninas que soltaram Immutef e se agarraram a ela. – O que foi? Por que estão assim?

- Tedros, mamãe! Ele foi embora!

- Hã!? – Barbarus e Malah exclamaram juntos. – O que vocês estão dizendo? Não, não, ele deve estar meditando em algum canto reservado da aldeia. – A mãe continuava abraçada a elas e enxugava suas lágrimas.

- Vocês não compreendem. – Lokele se irritou. – Ele foi embora e nos encarregou de contarmos sobre sua partida a Shiyali para que ele escreva sobre isso.

O Portal de Anaya - Livro 3 - A evoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora