Capítulo 8

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"A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço."

Sun Tzu.


Igor fez o portal abrir-se no quarto da sua casa, onde a probabilidade de haver alguém era quase nula e teve razão, mas a sua sensibilidade aos fluxos da magia era suficiente para sentir que Samuel andou muitas vezes por ali, talvez tendo se adonado da casa por intermédio da capacidade de imitar a sua aparência. Por via das dúvidas, manteve erguida a sua barreira pessoal e foi revistando a residência. Na cozinha, notou que estava tudo muito arrumado e, pelo pó que havia na mesa, o mais provável é que não aparecia ninguém na casa há cerca de um mês.

Verificou as horas e concluiu que havia uma forte probabilidade de estar na faculdade... talvez até com ela, o que vinha a calhar. Decidiu ir para lá utilizando o caminho mais rápido, ou seja, desapareceu da cozinha da sua casa e reapareceu na universidade. Contudo, ao materializar-se num dos sanitários, mudou para outra aparência que era a de um completo estranho, esperando com isso ganhar tempo, caso se deparasse com o adversário. Comportando-se com a naturalidade de qualquer aluno regular, foi ao diretório acadêmico procurar por ela, mas o lugar estava vazio e o campus era demasiado grande para fazer uma revista em regra. Pensativo, começou a andar ao acaso pelos corredores, tentando imaginar uma forma de encontrar o que desejava. Dobrou uma esquina para ir ao Centro de Vivência e esbarrou em alguém, começando a pedir desculpa quando reconheceu Valdo.

– Valdinho! – exclamou, esquecendo-se que estava com outra aparência. – Cara, que bom te ver!

O amigo virou-se, achando a voz conhecida, porém nunca tinha visto o sujeito que colidira com ele, um homem baixo, quase raquítico, de ombros encolhidos, rosto muito enrugado e escondido por um enorme par de óculos com lentes muito grossas. Por trás delas, era possível ver dois olhos pretos e pequenos. Suportando os óculos, vinha um nariz adunco e muito desproporcional ao tamanho do rosto ossudo, bem em cima de uma boca de lábios carnudos e dentes cheios de falhas. Avaliou-o de alto a baixo e concluiu que não corria perigo de ser vitimado por alguma coisa.

– Eu te conheço, tchê? – perguntou, franzindo o sobrolho.

– Bah, irmãozinho, mas como não me conheces! – Igor espantou-se com o comentário, preocupado se o amigo estaria sob influência do Samuel. – Tu até ias ser padrinho do meu casamento...

– Escuta, cidadão – disse Valdo, meio irritado –, eu nunca te vi mais gordo ou mais magro, então não tem como ser teu padrinho de casamento, se é que alguma garota vai...

– Sou eu, Valdinho, Igor – interrompeu o amigo. – Estou disfarçado, que droga. Tinha esquecido disso.

– Meu Deus, Igor – disse, abraçando-o cheio de alegria. – Tchê, depois que entraste naquele buraco esquisito, tu nunca mais voltaste e Samuel, ou seja lá aquilo que ele é, retornou e disse que te matou. Céus, cara, como eu chorei, mas não podia fazer nada porque ele me ameaçou feio.

– Onde podemos conversar mais à vontade? – perguntou o amigo, cada vez mais preocupado. – Preciso de informações e ajuda.

– Vamos para o estacionamento – sugeriu Valdo. – O teu carro está lá. Eu cuidei dele para ti, mas usei todo este tempo.

– Não tem problema. – Igor sorriu. – Vamos para lá. A esta hora não deve ter ninguém.

O veículo estava parado debaixo de uma árvore pequena, mas que proporcionava uma sombra razoável. Igor sentou-se no capô e olhou o amigo.

– Queres saber sobre ela, suponho – começou Valdo, sério e apreensivo. – Temo que as notícias não sejam das melhores, Igor.

– O que aconteceu? – perguntou o mago, sentindo o sangue gelar nas veias. – Pelo amor de Deus, homem, fala logo. Ela está bem?

O MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora