Capítulo 16

514 46 4
                                    

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela."

Albert Einstein.


Surgiram no meio da sala, bem às costas de alguém.

Valdo, que cuidava das plantas e mantinha a casa limpa para o amigo, virou-se ao ouvir um ruido atrás de si. Como não esperava ver Igor e um gavião de tamanho apreciável no ombro surgirem do nada, tomou um grande susto e saltou para trás, soltando um berro involuntário. Ao certificar-se de quem era, abriu um sorriso e correu a abraçá-lo.

– Meu Deus, Igor – disse, aliviado. – Juro que já estava perdendo a esperança que retornasses.

– Foi por pouco, meu caro. – Igor sorriu. – Aquele demônio derrotou-me de novo.

O jovem pegou um copo de água na cozinha enquanto o pássaro colocou-se em um canto, parecendo uma estátua. A frase seguinte do Valdo deixou-o bastante espantado:

– Eu sei – afirmou –, e estava com muito medo do que te podia ter acontecido, ainda mais depois deste tempo todo.

Igor sentou-se no sofá e apontou o outro para Valdo. Olhou o copo por alguns segundos e pediu:

– Que tal contares o que tem acontecido neste período, por favor. Parece que não foi pouco, pelo que vejo.

Valdo olhou para o pássaro, lembrando-se que o amigo nutria um carinho todo especial pelos animais e na faculdade sempre tinha alguns por perto. Ficou imaginando o que teria acontecido nesse meio tempo e onde ele teria arranjado aquele lindo gavião. Quando Igor estalou os dedos, como que para tirá-lo de um transe, começou a contar:

– Desculpa – principiou. – Bem, depois que tu saíste daqui para Santa Catarina aconteceram duas coisas determinantes: primeiro eu tive a certeza que resgataste a Duda porque aquele monstro do Samuel apareceu pra lá de furioso e pior, com a tua cara. Ele queria saber onde tu estavas e até me ameaçou de morte. Uma hora tocou em mim e pensei que ia morrer porque uma coisa gelada subiu pelo meu braço e começou a ficar tudo escuro. A campainha tocou e acho que foi isso que me salvou porque descobri que ele tinha sumido no ar. Quando abri a porta, era ninguém menos que a polícia, que também está atrás de ti. Toda a semana eles aparecem por aqui e não desistem nem a pau. Eu pensei que tinhas resgatado Dudinha, mas, depois disso, conclui que estava enganado.

– Eu tinha, Valdinho, mas aquela engronha conseguiu pegá-la de volta. Passei cinco longos meses preso quase dois mil anos no passado, tentando em vão retornar para o século XXI. – Igor contou toda a história. Mal terminou, tocaram à campainha.

– Deve ser a polícia, cara – disse Valdo. – Toda a semana mais ou menos na mesma hora eles aparecem aqui. Some que eu falo com eles.

– Não posso ficar fugindo, tchê. – Igor levantou-se e abriu a porta, dando de cara com os seus tão conhecidos policiais.

Quando o viram, escancararam a boca, mas não demoraram a reagir: ergueram as armas, apontando para ele, que se virou e retornou para dentro.

– Parado! – gritou o superior.

– Querem fazer o favor de não gritar e entrar. – Igor continuou andando com toda a calma até ao sofá. – Fechem a porta, mas deixem esse maldito cigarro lá fora.

Ainda espantados, eles jogaram fora os cigarros e entraram, mantendo as armas nas mãos.

– Sentem-se – ordenou Igor. – Eu acredito que deviam apresentar um mandato antes de me apontarem uma pistola na minha própria casa. Depois que os senhores disserem seja lá o que for, gostaria de comunicar o rapto da Eduarda Vargas e saber o que pretendem fazer a respeito.

O MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora