Capítulo 6

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"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas."

Sun Tzu.


Dois anos haviam passado em paz e na mais pura felicidade. Eduarda era, para Igor, a mais preciosa das criaturas que ele conheceu e o maior de todos os amores que sentiu. Com ela, o mago esqueceu todas as intempéries e tristezas, voltando a ser uma pessoa alegre e divertida, livre dos pesadelos que o assolavam. Ambos viviam uma grande harmonia e nunca mais houve qualquer tipo de problema na universidade. Estavam sempre juntos, tanto no trabalho quanto na faculdade, e eram inseparáveis. Além disso, a amizade deles com Valdo tornou-se cada vez mais firme, fazendo com que os outros colegas passassem a mudar os seus comportamentos em relação aos homossexuais.

No início do terceiro ano, surgiu na nova turma de calouros um rapaz que, sem motivos, começou a implicar com Igor que não lhe ligava nenhuma, embora isso não aborrecesse o novo colega e sim instigasse. Mesmo quando ele começou a assediar a noiva, Igor permaneceu calmo até ao dia em que Eduarda lhe disse que o sujeito a incomodava. A partir daí, decidiu tomar uma atitude e, nesse dia, foi falar a sós com o colega pedindo-lhe que tivesse um mínimo de educação e respeito, mas tudo o que ouviu foi uma risada de escárnio. Entretanto, essa foi uma risada que o abalou e confundiu.

Ainda tentando evitar um confronto aberto o jovem não reagiu à provocação, mas colocou o dedo em riste, fazendo cara feia como quem dizia: "estás avisado".

Naquele dia ele ficou pensativo, tentando entender o motivo da risada tê-lo afetado tanto e passou bastante tempo matutando sobre isso sem um resultado concreto, especialmente porque isso fê-lo lembrar-se da Cidadela e do Mundo de Cristal que não via desde a morte dos pais.

À noite, sentado na sala da sua casa a ver televisão e aguardando Eduarda que tinha ido tomar banho, começou a pensar em tudo, achando que estava mais do que na hora dela saber a verdade a seu respeito. Não demorou muito e a garota chegou, sentando no seu colo e enlaçando o pescoço do noivo. Beijou-o com doçura e olhou direto nos seus olhos, bem sensual. Depois, sorriu.

– Por que meu amorzinho tá assim tão preocupado? – perguntou, sempre muito alegre. – Se for por causa daquele tolo, esquece que não vale a pena.

– Não, anjo. – Sorriu e abraçou-a, retribuindo o beijo. – Ele me lembrou algo do meu passado que me preocupou um pouco.

– Esse teu passado obscuro que nunca assumes? – Ela riu, levantando-se para soltar da toalha os cabelos, ainda úmidos. – Troca a TV por uma música, amor, que esse jornal tá um horror. O país vai de mal a pior. Esses idiotas não aprenderam com os erros de 2014 e vão repeti-los; incrível!

– Bem – disse ele, obedecendo e colocando uma música suave que a fez puxá-lo para dançar, sorrindo. – Acho que talvez devas saber sobre o meu passado e há algum tempo venho pensando em te explicar umas coisas, mas de vez em quando temo que elas te choquem um pouco, tenho medo de te assustar porque a tua realidade poderá sofrer uma mudança de perspectiva bem grande. Drástica e enorme, na verdade.

– Tá bom. – Eduarda fez um passo final e, com um gesto teatral, beijou-o de novo, rindo. – Mas agora vamos fazer o jantar que eu estou com fome. Tu contas enquanto cozinhamos.

– Tu não tens jeito, né? – Ele riu, feliz. – O que é que desejas comer?

– Lasanha e tu de sobremesa – respondeu, fazendo a cara mais inocente do mundo e provocando uma risada nele. – Adoro lasanha... e tu, claro.

O MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora