Capítulo 18

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"Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível."

Sun Tzu.


Uma fenda estreita apareceu no meio do nada em um canto cercado de árvores do parque da Redenção, em Porto Alegre. Do outro lado, via-se uma cidade toda feita de cristais. Sorrateiros, três seres vivos atravessaram-na e a abertura fechou-se logo após. Olharam em volta para certificarem-se de que não havia ninguém para ver o ocorrido e saíram para a rua.

– Tu tens a certeza que ele está aqui, amor? – perguntou Eduarda.

– Não está longe, segundo o detetor – Igor olhou para a noiva e riu. Ela aprendeu a disfarçar-se e tinha a aparência de uma velha toda encarquilhada e corcunda. – Bah, Eduarda, tu estás feia demais. Não podias ter maneirado não?

– Olha só quem fala. – Ela também riu. – E tu pareces um velho pirata com esse papagaio no ombro e o tapa olho.

– Papagaio, papagaio – gritou Gwydion. – "Sinto-me meio ridículo deste jeito, então vejam se dá para descobri-lo logo."

– Igor, onde será que ele pode ter-se enfiado?

– Segundo tu disseste, ele estava no Rio, envolvido com politicagem e em quinze dias voltou para Porto Alegre – comentou o noivo, pensativo. – Será que existe aqui algum evento envolvendo políticos?

– Não é época da Expointer? – perguntou-se Eduarda. – É sim, e agora lembrei que a presidente ia para a abertura da feira.

– Tens razão, amor, mas a feira fica em Esteio e ele está na região central de Porto Alegre – concordou o noivo. – Seria o momento perfeito para esse bastardo assumir a presidente. Pessoalmente, detesto aquela mulher, mas esse demônio seria incomparavelmente pior.

– Vamos ver no Palácio do Piratini ou nos hotéis do centro.

Igor transportou-os para a Praça da Matriz, junto ao monumento Júlio de Castilhos, um local que deveria estar vazio, mas, para seu azar, havia bastante gente ali. Uma mulher viu os três aparecendo do nada e começou a berrar e apontar para o casal. Esquecendo-se que pareciam mendigos, apressaram o passo em direção ao palácio do governador e logo a seguir viram-se cercados por três PMs que os seguraram. A pedido, Gwydion alçou voo e ficou sobrevoando de cima, enquanto o casal era levado para a frente do prédio da Assembleia Legislativa, onde havia algumas viaturas da polícia. Com a posição privilegiada, ambos viram a presidente e o governador entrando na viatura oficial sob uma chuva de vaias da população que assistia. Os dois olharam-se e riram, enquanto desfaziam as algemas. Deram-se as mãos e desapareceram no nada, deixando um bando de policiais muito espantados e também assustados. O salto foi curto, apenas alguns quarteirões para a frente porque ele precisava de orientar Gwydion, que apareceu dois minutos depois. Ainda viram os batedores fazendo escolta, mas isso não os interessava mais.

– Não me parece que o ataque seja aqui na cidade – disse Igor, pensativo. – Amor, cuida de nós que eu vou concentrar-me no cristal localizador.

Mal pegou o detetor, descobriu que a criatura não estava mais lá e sim a cerca de vinte quilômetros dali. O casal deu-se as mãos, olhou para os lados e desapareceu da rua para ressurgir junto a um grupo de árvores, perto da entrada do parque Assis Brasil e já dentro dele. Igor apontou para a frente:

– Ali ficam os balcões de informações, mas é melhor mudarmos de disfarces. Mendigos, aqui, vão chamar a atenção no ato.

– É verdade, amor. – Eduarda apontou uns sujeitos que andavam por ali. – Que tal bancarmos os caubóis? Assim passamos por expositores. Falsificar um crachá é moleza!

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