Capítulo 14

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"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar."

Sun Tzu.


A sala de entrada parecia confortável e havia uma pessoa em uma mesa, talvez uma recepcionista. Ao longo da parede oposta, viam-se poltronas de espera e, na dos fundos, poços dos elevadores movidos por gravidade artificial. Mia fez um sinal desleixado para a recepcionista e levou Igor para uma entrada que estava ao lado dos elevadores, mas no outro extremo da sala onde não era visível de imediato. O corredor largo não parecia longo e terminava em uma espécie de auditório semicircular de dimensões avantajadas. No caminho, o mago notou que ela ficava nervosa e estranhou isso em alguém que sempre esteve calmo. Indagada, a cientista deu um sorriso amarelo.

– Não confie neles – disse, lacônica para depois se encerrar em um mutismo.

Igor foi forçado a dar um sorriso discreto, concluindo que ela estava tão apreensiva por ver os governantes como ficaria um simples mortal na Terra perante as autoridades. Apesar de ser o Guardião Supremo há tão pouco tempo e não havendo a mesma relação de governador para governado que os povos comuns tinham, já sentiu esse comportamento em alguns dos súbditos. O curioso é que Igor notava que isso acorria até com pessoas de consciência limpa.

Chegaram ao objetivo e ele parou para observar o recinto. Tratava-se de uma sala em meia lua e bastante grande, onde caberiam com folga mais de duzentas pessoas, embora não houvesse cadeiras para sentar. O piso era claro e de um material desconhecido, mas que lembrava algum tipo de cerâmica. As pareces brancas emitiam uma luz difusa e o teto tinha um tratamento acústico que aparentava ser perfeito. Igor estava certo de que uma palavra falada em voz normal era ouvida sem esforço em cada canto do salão. Divertido, perguntou-se para que motivo isso, se eles comunicavam-se por telepatia, mas concluiu que também deve ter sido feito para receber povos estrangeiros.

No fundo, em um estrado que ficava talvez um metro e meio acima do solo, estavam sentados sete seres daquele povo, também em semicírculo. Igor já conhecia o suficiente da fisionomia deles para ver que não eram amistosos como a cientista fora, nem um pouco, excepto por um que até sorriu. Igor parou no meio da sala, observando e sendo observado. O governante do centro do grupo fez sinal para que Mia se retirasse.

– Volto para pegá-lo quando me autorizarem – disse ela. Com um murmúrio, continuou. – Tenha cuidado com eles.

– Obrigado, Mia. – Igor despediu-se e virou-se para os sete sujeitos, calado e avançando um pouco mais até ficar a uns cinco metros de distância do palco. Achou que era obrigação deles manifestarem-se primeiro e, por isso, permaneceu em silêncio.

– Não vai dizer nada, senhor? – perguntou o mesmo sujeito que dispensou Mia e que era o mais carrancudo.

– Bem, excelência – começou, encolhendo os ombros e dando um pequeno sorriso cortês –, os senhores chamaram-me. Logo, presumi que deveria aguardar calado para não infringir quaisquer regras de boas maneiras. Peço que me perdoem se com isso ofendi-os.

– Somos de povos diferentes – disse o mais à esquerda, uma pessoa que aparentava calma e bondade –, por isso temos de ser compreensivos de ambas as partes. Seu nome é Igor, não é correto?

– Exato, senhor, e concordo consigo. – O mago simpatizou muito com ele. – Creio que estou perante os governantes deste mundo.

– Sim, somos o conclave de governo – disse outro, agora da extrema direita. – O senhor é uma contradição, Igor, e já gerou, só com a sua presença, alguma discórdia entre nós.

O jovem espantou-se com essa observação porque não entendeu onde eles desejavam chegar com isso, uma vez que nada fez que pudesse ter criado algum tipo de antagonismo. Por alguns segundos parou para rever todos os passos dados desde que abriu a passagem para aquele planeta e concluiu que não havia motivo aparente. Seguindo essa premissa, disse:

O MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora