Capítulo 9

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"O pensamento é a nossa dignidade. Tratemos, por conseguinte, de pensar bem, pois aí é que está o princípio da moral."

Blaise Pascal.


A Cidadela é a cidade mais bela que eu já vi, erguida no meio de um conjunto enorme de cascatas de águas cristalinas em vários desníveis que desenham infindáveis arco-íris pelos raios do sol na encosta de uma gigantesca cordilheira verdejante. Os edifícios são de diversos tipos de cristal, erguidos pela força da magia há quase dois milênios. É um planeta com quase noventa por cento de água e de clima sempre tropical e ameno, um verdadeiro paraíso. É a sede dos magos, o nosso mundo desde que a maioria dos druidas abandonaram a Terra com as perseguições, em especial as da Igreja e do Império Romano. Era um planeta deserto de vida inteligente, pequeno e agradável, contendo apenas uma cidade.

O nosso Universo é formato por planos, treze planos ao longo das dimensões, como se cada um fosse um pequeno universo do Universo. Quanto menor o número do plano, mais densa e primitiva é a matéria, tornando-se cada vez mais sutil e energética à medida que subimos neles. A Terra faz parte do terceiro plano, enquanto a Cidadela, no Mundo de Cristal, fica no décimo terceiro. Por uma coincidência interessante, sempre que saltamos de um plano para outro, vamos encontrar um mundo semelhante ao nosso em atmosfera e composição, mas nós, magos de primeiro nível, podemos passear entre os planos e também no espaço. Se desejar, por exemplo, eu posso ir a Marte.

Por falar em níveis, os magos são divididos em dez níveis ou graus, sendo o décimo mais fraco e o primeiro mais forte. Apenas os magos e feiticeiras de primeiro nível conseguem atravessar planos e apenas uns poucos, muito poucos, conseguem usar os seus poderes sem auxílio de objetos como um bordão, amuleto ou varinha, por exemplo, que auxiliam na concentração dos feixes de pensamento e das energias subatômicas. Esses são conhecidos como magos superiores. Há outros que até conseguem fazer umas poucas coisas sem os objetos, mas também são minoria e nenhum acima do quarto grau é capaz, pelo menos até hoje.

Para os magos de outros níveis poderem viajar entre mundos, eles usam as cápsulas planares que são feitas de cristais especiais, como rubis ou diamantes, entre outros. Tais objetos são impregnados de energia capaz de abrir portais e a carga deles fica a critério dos estudantes dos últimos anos e do nível um.

Quando tinha dois anos, os meus pais – que como disse eram de quarto nível –, mandaram-me para a Cidadela de forma a receber a melhor das educações possíveis e assim foi.

Os meus poderes cresciam a olhos vistos e eu tinha muita facilidade para aprender quase qualquer coisa que desejasse. Em pouco tempo, descobri que podia fazer muito mais que os outros magos da minha idade, até mesmo os bem mais velhos. Nós magos somos canhotos e só podemos usar os nossos poderes com a mão esquerda, mas eu era uma exceção que assustava todos porque podia usar ambas as mãos com igual destreza e força.

Quando descobriram isso e notaram que aos seis anos eu já tinha tanta ou mais força que um mago adulto de primeiro nível, comecei a ser educado para ser um Guardião da Segurança e da Guerra. Os guardiões são os mais poderosos dos magos na sua área e, além disso, alguns são os líderes, como ministros em um governo normal.

O Guardião da Segurança é um mago especializado na arte da guerra, mas os séculos de paz não contribuíram grande coisa para aperfeiçoar esta arte. Eu tornei-me em tempo recorde um grande guerreiro e não podia ser derrotado por ninguém, nem por mesmo todos os outros guardiães reunidos, mas era novo demais para ser um dos donos da capa vermelha.

O meu Guardião dos Aprendizes – que possui uma capa prateada por fora e vinho por dentro – achou que os meus poderes eram tão grandes que eu deveria receber o aprendizado para a maior quantidade possível de conhecimentos. Por causa disso, eu tinha que trabalhar três vezes mais duro que os meus companheiros, mas gostava de ser o melhor, de ser superior. Bem sei que de certa forma isso era um pouco de soberba, mas eu gostava e muito.

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