~Capítulo 10~

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No final do corredor entre a sala de estar e a de jantar tem uma sala a muito esquecida, a de música. As melhores lembranças do meu avô são dele em frente ao piano enchendo a casa de alegria, ele sempre tinha um sorriso no rosto quando tocava, lembro que por vezes ficava hipnotizada com a cena e encantada com a forma que suas mãos pareciam mal tocar nas teclas, como se fossem elas que o seguissem e não ele que as apertava. Quando tinha dez anos ele me sentou ao seu lado e com a paciência dos anjos me ensinou a tocar minhas primeiras teclas, desde então era tudo pelo qual eu me dedicava, me apaixonei pelo instrumento antes mesmo de tocá-lo, antes mesmo de ter uma ligação tão profunda.

Agora ele estava ali, largado em meio a sala com um pano branco em cima, esquecido, como um objeto qualquer, chega a doer meu coração ver meu velho amigo, responsável por roubar várias noites de sono e por tantos prêmios, coberto de poeira. Mas ao puxar o pano o revelando eu entendo a necessidade de vovó por trancar a sala, era nítida a imagem dele tocando-o, como se nunca tivesse partido, como se a doença nunca o enfraquecera e como se a qualquer momento pudesse sorrir ao me pegar no flagra espiando-o por entre a brecha da porta.

Meu coração aperta ao passo que meus dedos roçam as teclas sem fazer som algum, sinto tanta falta, não só dele, mas de tocar. De todas as minhas escolhas, de tudo que já aceitei fazer pela minha avó, parar de tocar foi a mais difícil, abandonar a música foi doloroso, foi como abandonar meu avô. Então só me restou a pulseira, se eu a perdesse...

Sento-me em frente a ele ousando apertar suas teclas deixando a melodia calma soar pelo lugar e minhas mãos me lembrarem da sensação maravilhosa que é tocar.

As vezes me pego pensando como teria sido se eu não tivesse parado, se eu tivesse entrado para escola de música, se tivesse seguido esse sonho antes de ter que enterrá-lo tão fundo pretendendo nunca ter existido.

Paro de tocar e enxugo as lágrimas que nem percebi que caiam, é por isso que não devo tocar ou sequer entrar aqui, sempre acabo tendo pensamentos inúteis que me afastam do meu foco.

Levanto e saio trancando a porta, talvez devesse me livrar dessa cópia da chave. E mesmo que diga isso sempre que venho clandestinamente aqui, eu definitivamente deveria me livrar dela.

*~*~*

Vir ao spa foi a melhor decisão que tomei ultimamente! E não falo isso porque meu massagista é um super gato com mãos divinas que me fazem esquecer até meu nome, mas porque eu senti toda a tensão de meses ir embora com poucos toques, agora eu estou desfalecendo aos poucos enquanto as mãos dele passeiam por todo meu corpo.

-Isso é tão bom - murmuro

-Sim - Kenna responde de volta

Foi ideia dela me trazer aqui, disse que eu me sentiria com um novo corpo quando saísse. Apesar de eu amar sempre ir a um vovó costumava me regrar dizendo que passar o dia sem fazer nada, apenas relaxando me tornava uma inútil tendo tanto para fazer. Mas talvez deva rever meus conceitos, ultimamente só tenho tido dor de cabeça.

-Obrigada de novo pelo convite Kenna.

-Imagina - ela vira o rosto na minha direção - Vamos ter um dia de princesas!

Ela senta se enrolando no roupão ao que faço o mesmo apesar de meu desejo ser de gastar minhas horas aqui recebendo essas massagens e quem sabe aproveitando a companhia alheia.

-Como eu queria levar um desses para casa - digo vendo os massagistas saírem -  Imagino que esse tempinho não foi o suficiente para mostrarem o quanto são habilidosos  - comento com malícia ao que ela ri.

- Por uma pequena fortuna por mês isso seria resolvido - pisca - Acredite, você não é a única a querê-los.

- Você Kenna... - provoco ao que ela da de ombros

Romance InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora