Capítulo 1.

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Mais um dia nessa sala de aula. Mais um dia com essas mesmas pessoas. Mais um dia estudando geografia. De cara, essa não é a minha matéria favorita. Definitivamente não é. Simplesmente, por motivos um pouco óbvios demais para a minha família e amigos.

Meu nome é Georgia Hayno. Tenho um irmão mais velho, sensacionalmente insuportável e único. Meu irmão se chama Thomas.

Agora peço a atenção de vocês, por favor. E que fique claro que meus pais são bastante criativos, nada plagiadores.

Moramos numa bela cidadezinha chamada Thomasville. Já sabemos de onde surgiu o nome do meu querido irmão, Thomas. Para melhorar a situação, Thomasville é uma pequena cidade localizada no estado americano de Georgia. Meu nome.

Obrigada, pai e mãe, agora os chamarei de Texas e Pensilvânia.

Meus pais nunca foram de parar para pensar e quando perceberam que tinham dois filhos para batizar, incrivelmente tiveram a brilhante ideia de nos "homenagear" nos dando esses nomes. Bom, essa é a versão deles.

Espero que entendam o grande motivo pelo qual eu não gosto de estudar geografia, que é algo, eu confesso, bastante desinteressante.

-Georgia, quero ir ao banheiro. E você precisa ir comigo. Mas eu não vou pedir pro professor. Você pede! -disse quase sussurrando, minha amiga Miriam.

Miriam é uma das minhas melhores amigas desde o fundamental. Fazemos tudo juntas, tanto trabalhos escolares quanto outras coisas que "garotas da nossa idade fazem" (lema que ela sempre usa como desculpa para me transformar numa patricinha, mas como sempre, sem sucesso).

O nosso professor é um perfeccionista e gosta das coisas muito bem organizadas, assim como eu, só que de uma maneira mais exagerada. Com qualquer atraso ele automaticamente se transforma numa fera. Seu nome é Samuel Gonzáles. Sempre rio ao pronunciar seu nome.

Eu me levanto, na tentativa de chamar a atenção de Samuel. Fico em pé aguardando o momento em que ele finalmente me notará. Quando ele então se vira, fica espantado com o fato de eu estar de pé mesmo sem a finalização da aula.

-O que foi, garota? Algum problema? Não entendeu o que expliquei? -disse, soando meio que irritado.

Sem resposta, olho para Miriam que já estava ofegante. Como ela não revida o olhar, somente falo:

-Preciso ir ao banheiro. E a Miriam precisa ir comigo, é urgente! -afirmei.

Com um ar de desapontada, Miriam olha para mim em ato de reprovação. Se ela não quisesse que eu dissesse aquilo, ela mesma poderia ter dito, da maneira que desejasse. E não me pediria favor nenhum.

-Por favor. -quase suplicando, olhei para o professor, torcendo para que ele ao menos cedesse um minuto indo ao banheiro.

-O que diabos duas garotas precisam fazer no banheiro?! Vocês não sabem passar um batom sozinhas? -Minha vontade era de sentar e ficar calada a aula inteira. -Negativo! Não vão uma, nem duas, nem três.

Com um ato surpreendente, Miriam se levanta, e quase chorando, suplica cada vez mais para o professor de geografia. Minha amiga poderia seguir a carreira de atriz, nunca vi ninguém atuar tão bem.

-Só precisamos ir ao banheiro. Não serão nem três minutos. É rápido. Prometo. Por favor, é só uma ida ao banheiro... Somos alunas excelentes, alguns segundos fora de sala não mudarão nossas notas. -Aquilo ecoou pela sala. Por incrível que pareça, Miriam conseguiu autorização e nós duas corremos saltitantes pelo corredor rumo ao banheiro feminino.

Quando chegamos, Miriam para em frente ao espelho e diz "Eu sou uma atriz nata, não sou? Meus dotes surpreendem, meu amor."

Fico bastante intrigada com o fato de ela conseguir tão facilmente a autorização para saída. Coisa que eu demoraria a vida toda naquele ritmo. Mas não pergunto nada, afinal, a Miriam tem superpoderes como ela mesma diz.

Quando estávamos no Jardim, minha amiga costumava ir sempre fantasiada ou de princesa ou de supergarota, o que na época era bem fofo, mas agora é motivo de piada. Talvez seja esse o motivo pela qual ela se acha super poderosa.

Já que estou no banheiro, aproveito e vou numa das cabines. Somente sento, sem vontade alguma de fazer minhas necessidades. Só sento e começo a pensar. Enquanto a Miriam está se maquiando lá fora pra encontrar seu namorado, eu só fico pensando na vida.

Os estudos são complicados. Matérias complicadas. A cada ano um novo tipo de aprendizado, professores novos, ritmos novos a serem seguidos. Uma série de tarefas. Comprometimento e muito mais, coisa que eu não sou, comprometida. Meus trabalhos são feitos sempre de última hora, mas acabam sempre com um resultado satisfatório. Acho que foi por esse motivo que nunca paro de fazer as coisas atrasadas.

Miriam namora um garoto estúpido. Se quer saber, na minha opinião todos os garotos são estúpidos. Quem precisa deles? Mas como minha amiga estava feliz, eu também ficava feliz ao vê-la contente ao lado de Alexander Clark. Seu apelido era Alex, mas eu não considero isso um apelido, afinal, isso já é bastante conhecido. Ele trabalha como caixa numa pequena mercearia para conseguir pagar seus estudos, coisa que eu achava totalmente desnecessária já que seus pais são donos de uma das maiores empresas da região. Miriam simplesmente o idolatra. Onde esse garoto está, minha amiga está atrás, o que eu acho ridículo.

Quando Alex ameaçou se separar de Miriam, ela arrumou um barraco. Provavelmente todos do mundo conseguiram ouvir seus berros e escândalos. O garoto não teve outra opção, a não ceder-se a namorar novamente a minha pobre e inocente colega.

Eles já estão juntos há dois anos, algo que eu acho raro de se acontecer, principalmente quando Miriam está na conversa.

Sou interrompida dos meus pensamentos quando Miriam bate na porta da cabine do banheiro. Aos gritos, ela pede para corrermos, antes que o professor note nossa ausência. Ela abre a porta desesperada e começa a gritar. Problemática. O professor pode não notar nossa ausência, mas com esses berros, ele com certeza sentirá falta de alguma coisa, ou alguém




GeorgiaWhere stories live. Discover now