CATORZE

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Observo o trânsito a frente através do para-brisa do táxi em total silêncio, tentando parar de pensar nas coisas que o patrão de Louis me disse. Tentando encontrar alguma explicação lúcida para aquela conversa. Mas tudo o que consigo é piorar a situação, pois não consigo pensar em nada a não ser em suas últimas palavras.


Isso eu não posso lhe afirmar. Mas se pudesse diria que você precisa ir adiante e deixá-lo também seguir seus caminhos, foi o que dissera. Para mim são palavras totalmente sem sentido, porque qualquer pessoa que conheça tanto Louis quanto eu, sabe que nenhum dos dois vai a lugar algum sem o outro. Afinal, eu deixei tudo para trás por ele, assim como ele se sacrificou por mim. Meu futuro já estava garantido, mas decidi largá-lo para viver com Louis, e Louis também deixou sua casa por mim.


Eu suspiro, ansioso por chegar em casa e vê-lo. Não vejo a hora de contar para ele os absurdos que seu chefe caduco me contou. Dou uma risada ao lembrar que o senhor até disse que o havia despedido.


No meu bolso, meu celular vibra. Com dificuldade eu o retiro de lá e... a tela está apagada e quando acendo não há registro de mensagens nem chamadas perdidas. De repente me sinto meio apreensivo e estranho. Contorço-me para devolvê-lo ao bolso e quando olho para o espaço vazio ao meu lado no banco, há um papel ao meu lado. Está amassado e quando o pego, percebo se tratar de uma fotografia.


Sinto um mal-estar ao perceber que se trata da fotografia que roubei da casa de Felícia, a mãe da menina aniversariante. Examino as duas crianças na foto. A menina mais velha que usa óculos, e o menino com os olhos de gato...


- Louis? - sussurro, surpreso.


Até parece loucura, mas realmente é Louis na fotografia. Não sei como não havia me dado conta antes, mas os olhos de gato do garoto são idênticos aos de Louis. Meu estômago revira com a sensação sufocante que me domina por alguns segundos. Eu ponho a fotografia virada sobre minha perna, a fim de não vê-la e parar de pensar idiotices... há algo escrito no verso. Um endereço escrito nas letras de Louis...


- Já chegamos, senhor - o motorista me tira do torpor. Eu observo o prédio ao lado.


- Vai ter que esperar mais um pouco, Louis - digo. - Pode me levar a este endereço?


Entrego a fotografia para o homem e ele assente, dando partida em seguida. Todo o percurso até o endereço, seguimos em silêncio. Não ouso nem sequer respirar de forma normal, pois algo em meu peito parece impedir a saída e entrada de ar. Com surpresa, dou-me conta de como estou ansioso e impaciente, de modo que um filete de suor desce pela minha testa, mesmo com o clima frio.


Começo a estalar os dedos e em seguida tiro o cachecol verde do pescoço. Minha garganta está seca. Não quero me ater a essas sensações e sentimentos desagradáveis, mas é como se algo ruim estivesse por vir. Algo que eu não possa evitar. Então eu fecho os olhos e, ouço uma voz me chamando.


- Chegamos, senhor - o motorista repete pelo que parece ser a milionésima vez.


Olho de um lado para o outro, meio aturdido. Depois eu falo:


- Me espere aqui, por favor - digo saindo do carro.


No momento em que ponho meus pés para fora, tenho vontade de entrar no carro e sair daquele lugar. É perturbador o fato de eu ter ido parar na rua da casa de Felícia. E ainda mais perturbador o fato de eu saber que ela e Louis são irmãos.

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