TREZE

17 3 0
                                    


- Olá, Harry – diz o patrão de Louis assim que me vê entrando no café. – Confesso estar um pouco surpreso e curioso com tudo isso. Não esperava que viesse a falar comigo algum dia – ele puxa uma cadeira de uma das mesas e faz um gesto para que eu sente à mesa. Ele senta a minha frente. – Seria grosseria de minha parte perguntar o que nos traz aqui?
Eu contraio os lábios e olho para minhas mãos sobre a mesa, confuso com tudo isso. Fico em silêncio em busca de algo para falar, mas a única reação que tenho é balançar a cabeça em sentido negativo.
- Na verdade, eu não sei bem o motivo – falo sem olhar para o velho. – Louis quem me disse para ligar e...
- Louis? – pergunta e sua voz indica um tom surpreso. – O Louis que trabalhava aqui?
Eu estreito os olhos, ainda mais perdido.
- Como assim trabalhava? Louis foi despedido...?
O senhor balança a cabeça em sinal negativo.  Em sua face há uma expressão de confusão e comoção. Os olhos brilham num tom triste, sem foco. Algo relacionado a sua falta de palavras sugere que as coisas não seguem os caminhos por onde tenho andado.
- Eu jamais o despediria – fala por fim. – Foi a melhor pessoa que trabalhou comigo desde que abri o café. Mas... – ele balançou a cabeça e coçou o queixo coberto por uma barba malfeita e grisalha. – Quando você estava ali – diz apontando para a mesa onde Louis e eu havíamos nos sentado a menos de um dia atrás – ele estava com você, não estava?
Eu dou um sorriso meio sem graça e balanço a cabeça mais por costume do que por necessidade.
- Não é meio óbvio que sim? Afinal, ele pode ser visto... quer dizer, não usa nenhuma capa de invisibilidade. Não que eu saiba.
Agora ele coça sua careca, como se procurando palavras para poder falar. Mas abre a boca seguidas vezes e nada sai. Ponho as mãos entre as pernas e as pressiono, tentando amenizar a sensação gélida e angustiante que sinto se aproximar de mim. De repente percebo que meus pés estão inquietos.
- Não quer que ele vá, não é? – diz suavemente, sua voz rouca.
Junto as sobrancelhas, cada vez mais perdido.
- Não entendo...
- Escute, garoto – ele desvia o olhar e depois fixa-o em mim. – Há coisas que nem sempre são do jeito que queremos ou pensamos. Eu sei que o medo faz com que... com que nos predamos a coisas irreais. Coisas as quais imaginamos...
- Espera, espera – ergo as mãos. – Está falando que estou imaginando tudo isso? Que sou louco?
- Não. Estou tentando dizer que, às vezes temos que aceitar as condições impostas a nós.
Eu sorrio com desdém.
- Tá. E qual condição foi imposta a mim?
O senhor pondera uma resposta e depois diz:
- Isso eu não posso lhe afirmar. Mas se pudesse diria que você precisa ir adiante e deixá-lo também seguir seus caminhos.
Olho fixamente para o senhor sentado numa mesa a minha frente. Examino-o com o olhar mais cruel que tenho e sem me preocupar com o fato de ser grosseiro, antes de dar-lhe as costas, eu digo:
- Vai se danar.

infinityOnde histórias criam vida. Descubra agora