O sinal estava tocando, provavelmente era hora de ir até o gramado da chácara para a fogueira, onde aconteceria a vigília, diferente das outras meninas eu estava atrasada, pois como carreguei minhas próprias coisas tive que me contentar com uma cama não muito bem localizada entre duas beliches, o que transformou minha cama em guarda roupas e me fez ficar arrumando aquela bagunça, já era 21:55 e eu não tinha nem tomado banho, já sabia da bronca que eu levaria do líder, mas ainda assim preferi tomar um banho mesmo me atrasando um pouco.
Minutos depois eu escutei agitação do violão e dos louvores lá fora, me arrumei rapidamente e sai em direção à roda, no momento em que cheguei não percebi onde estava entrando e acabei me colocando ao lado de dois meninos já fechando os olhos, o louvor rapidamente saiu da minha boca sem eu notar e meus pensamentos já se encontravam em direção a Deus, não escutei mais nada ao meu redor, é como se eu estivesse me elevando e flutuando no ar, a sensação era tão boa que mal conseguiria explicar os sentimentos, até que alguém sacodiu minha mão e me faz cair sentada, olho ao redor e todos estão sentados escutando o líder falar, eu olho para o lado esquerdo está o Marcos, mas não foi essa mão quem me puxou, olho para o lado direito e vejo o irritante, Bryan estava rindo de cabeça baixa, fiquei vermelha e quente de nervoso, mas respirei fundo e foquei no líder. Minutos depois foi pedido que formássemos duplas com as pessoas ao lado, olhei para Marcos ele segurava as mãos da Tati, saco só me restou o Senhor esquentadinho do lado direito, Bryan segurou minha mão tão forte que me fez gemer de dor, claro que não deixei barato e dei um chute no pé dele, só não esperava ele estar de coturno, o que machucou meu dedão, ele riu.
Deus só poderia estar de brincadeira comigo, eu estava naquele local para ter paz e ter um encontro com ele, não para ficar tendo que fugir das palhaçadas daquele garoto, porque eu fui prometer pra mãe dele que ia dar uma atenção a mais? Ele não precisava, já estava muito bem enturmado. Indignações a parte eu tentei orar, mas só tentei, porque o engraçadinho não parava de fazer gracinhas, alguém deveria conversar com aquele garoto, afinal aquele momento não era uma brincadeira. 30 minutos depois, siiiiiim, 30 longos e intermináveis minutos o líder deu o toque de recolher, soltei as mãos dele e sai correndo para a minha cama, precisava descansar. Apaguei.
Eram 3 horas da manhã quando escutei ruídos em baixo da janela, imediatamente sentei na cama e chamei a Tati:
- Tati?
- hãã, o q? Vai dormi Melissa... - respondeu sonolenta.
- shiiiiiuu, escuta! Corre pegar a garrafa de água, já sei o que nos espera! - eu disse já imaginando o que aconteceria em seguida.
A essa altura as meninas já estavam em um burburinho só, elas estavam todas ansiosas para ver o que iria acontecer, então começamos a ouvir risadinhas e vultos na janela, imediatamente nos colocamos embaixo da janela e quando eu abri o vidro os meninos começaram um batuque e a cantar uma musiquinha ensaiada, fazendo um tipo esquisito de serenata, caímos na risada, e nem precisamos usar a água que eu pedi para Tati pegar. Logo o líder apareceu e mandou todo mundo ir para os alojamentos dormir.
Para azar do meu sono as meninas despertaram e engataram uma conversa até as 5 horas da manhã, até que o silêncio voltou novamente, exatamente 1 hora depois começaram os sinais para que todos levantassem e fossem tomar café, em 15 minutos aconteceria a devocional. Levantei corri para o banheiro, enquanto as meninas ficavam reclamando e lutando na cama para levantar, aproveitei e fiz tudo o que tinha que fazer no único banheiro do enorme quarto super lotado com 15 meninas.
As horas passaram e logo após o almoço seria nossa tarde de lazer, peguei meu prato e fui enfrentar a fila, estava morrendo de fome, até que o engraçadinho irritante furou minha fila na cara de pau e ainda argumentou:
- Você disse para minha mãe que ia cuidar de mim e agora é hora de me alimentar Melissa! - Bryan soltou uma gargalhada.
- Bryan pode ficar na minha frente, mas em silêncio e sem gracinhas porque To sem paciência garoto! - disse me virando de lado para evitar olhar pra ele.
Infelizmente não tinha mais lugar e tive que sentar ao lado de Bryan, nem preciso comentar que o garoto me irritou o almoço todo, e o pior é que eu não entendo o motivo, não fiz nada demais, será que ele ainda estava zangado pelo celular? Poxa, o líder devolveu para ele assim que chegamos no acampamento ontem.
Como ainda estava cansada, fui deitar no sofá que havia na varanda, enquanto o pessoal se divertia no campo e na piscina, fiquei observando, até que meus olhos encontraram Bryan, quando dei por mim minha mente estava analisando a aparência dele, e mesmo eu não gostando cheguei à conclusão que ele era um moço bonito e seria mais se não fosse a chatice, não estava entendendo nada, mas parecia que eu gostava das provocações dele e quando ele me deixava em paz eu sentia falta, porém, jamais admitiria isso para alguém, além do mais eu já havia escutado que ele estava interessado na Bebel, a garota que tinha terminado um namoro de anos há uns 15 dias, quem sabe não desse certo, Bebel é uma moça muito bonita e eles poderiam formar um casal legal.
Estava tão cansada que acabei dormindo, acordei com um grupo de meninos em cima de mim e quando eu abri os olhos senti meus olhos queimar e arder, olhei no reflexo do celular e eu estava totalmente pintada com batom e a ardência era pela pasta de dente, não suportei e gritei raivosa quando um dos meninos disse que tinha sido ideia de Bryan:
- Bryaaaaaaaaaaaaaaan, é melhor você correr muito porque eu vou te pegar garoto!
Sai correndo atrás do menino, ele era bem rápido, mas aconteceu algo inesperado, ele tropeçou e caiu na piscina e eu não consegui frear antes e acabei caindo por cima dele, embaixo da água nos enroscamos e foi uma tal de braçada e pernada para voltar à superfície, até que conseguimos e nos encaramos por uns minutos, e eu não acreditava no que estava acontecendo, me perdi nos olhos dele, a não isso não estava acontecendo, tentei dizer isso pra mim mesmo enquanto tentava para de olhar nos olhos dele, até que ele quebrou o silêncio numa gargalhada enorme e disse:
- Você está parecendo um panda! - E ria sem parar.
- Como é que é? - Perguntei sem entender.
Até que a Tati, que estava no meio da galera em volta da piscina assistindo a cena gritou:
- Mel, seu rímel está todo borrado!
Imediatamente a raiva voltou e eu joguei água nele, me virei e fui para o alojamento chorar, pensei várias vezes em pedir para ir para casa, eu não estava lá para passar raiva, queria ficar em paz e curtir com os meus amigos da igreja.
À noite chegou, e era culto temático, mais especificamente de gala, aproveitei o vestido da formatura e fui me arrumar. Estava tudo tão lindo, realmente a equipe de decoração arrasou, as mesas estavam magníficas e o jantar estava em um cheiro maravilhoso, quando ia me levantar para ir na fila uma mão me deteve:
- Mel, posso falar com você um minuto? - Era Bryan, estava com os olhos baixos e com cara de triste.
- Olha Bryan, eu não To afim de falar com você, então que seja rápido porque estou com fome! - Respondi sem emoção.
Ele assentiu e fomos pra área da piscina, Bryan se sentou na espreguiçadeira e eu sentei ao lado. Então ele começou a falar:
- Me desculpa por hoje Mel, eu acho que passei dos limites com você, não achei que te faria chorar, sério estou arrependido! - Disse com a voz baixa.
- Tá tudo bem... - estava dizendo quando Bryan me puxou para um abraço.
Meio confusa o abracei de volta e quando menos esperava ele me lançou na água, comecei a gritar desesperada, já que meu vestido enroscou no ralo de sucção da piscina e a única coisa que eu conseguia manter para fora da água era meu rosto, até que alguém pulou na água e me pegou, nesse momento meu vestido já estava todo rasgado e eu estava chorando muito pelo susto. Bryan olhava assustado também.
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Sem essa de era uma vez!
SpiritualOlá, meu nome é Melissa, e minha história começa no dia em que eu morri, não, não é o meu espírito que escreve para vocês, sou eu mesma eu quis dizer morri para o mundo, e acho que foi só por isso que eu consegui chutar o balde e superar esse conto...