Capítulo 2: Wonderland

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Desci do carro com as mãos totalmente molhadas de suor, não estava mais aguentando a ansiedade, afinal foram 1 ano e meio de preparativos e escolhas, e agora cá estava eu, entrando no país das maravilhas!
À noite estava quente, mas ventava muito, o estacionamento estava lotado, pessoas caminhavam em direção a uma enorme entrada, onde haviam pequenos anões correndo fazendo com que as pessoas gargalhassem, eram os gêmeos TWEEDLEDEE e TWEEDLEDUM, do clássico Alice no país das maravilhas!
Comecei a me lembrar de como foi a escolha do tema da festa, da degustação de cada prato e bebida, da seleção da banda, do cronograma, tudo foi esquematizado por mim e pela resto da comissão, e mesmo tendo participado de tudo isso permaneci calada por tamanha admiração que estava sentindo no momento, era como se naquele momento eu estivesse caindo no buraco, assim como Alice, e estivesse sentada na poltrona tomando chá com o Chapeleiro Maluco, era surreal.
As condolências da formatura seguiram normalmente durante a noite, eu estava me sentindo realizada, tinha preenchido meu coração a 2 semanas, estava prestes a pegar o tão sonhado canudo e ainda tinha a companhia da minha linda família. Meus amigos estavam sentados nas mesas ao redores e cada um deles tinham um brilho diferente no olhar, uns tinham sentimento de saudade, outros de alegria, outros de admirados e eu? Bom eu sentia todos eles e mais um pouco, nos abraçávamos feito loucos como se nunca mais fossemos nos ver, como se estivéssemos acordando para realidade, e no dia seguinte fossemos nos tornar adultos de ternos e cara fechada, acho que estávamos assustados.
Em seguida, ouvi o cerimonialista chamar para a valsa, segui em direção ao centro do salão acompanhada de meu avô, que é um pé de valsa daqueles, fomos apresentados um a um e iniciamos a dança, meu avô me jogava para lá e para cá, meus pés tremiam com o salto alto e eu estava lutando para me equilibrar, ainda bem que não durou muito, os parceiros foram instruídos a deixarem os formandos, era hora do brinde e eu recebi uma dose de tequila nas mãos, minha cabeça deu um nó!
Ao olhar para aquele copinho nas mãos, senti um calafrio e uma vontade enorme de vira-lo na boca e sair correndo para o lado esquerdo do salão, onde se encontrava os barman's preparando bebidas a base de vodka, estava me lembrando do gosto da bebida e de como ela me deixava louca, se eu bebesse aquela noite seria inesquecível, eu aproveitaria o dobro e valeria cada centavo e cada segundo gasto. Lutei contra mim mesma, olhei fixamente para o teto iluminado do salão e de repente um arrepio passou pelo meu corpo e as minhas mãos involuntariamente viraram a dose de tequila no chão, despertei dos meus pensamentos, com um rapaz segurando os meus braços e me impedindo de beijar o chão, me apoiei nele e me equilibrei, só então notei que o conhecia.
- Mel, minha nossa como está linda, não sabia que já iria se formar, quanto tempo não nos encontramos, Ein?! - falou me olhando fixamente.
- Marcos, eu nem sei o que dizer, eu não esperava te encontrar também, por onde você andou? - Eu disse confusa.
- Bom, eu tive que sumir por uns tempos para apagar algumas enrascadas que me meti, mas agora está tudo bem e pude voltar, o que acha de irmos lá fora tomar um ar? - Disse me puxando.
Assenti com a cabeça e o segui, Marcos foi um cara que eu fui apaixonada por longos 3 anos da minha vida, ele me levava para vários lugares, e foi exatamente ele quem me fez experimentar a maior parte das bebidas que eu conhecia. Eu não estava entendendo nada, porque em uma noite tão importante eu estava passando por tantas provas do passado.
- Mel, eu senti sua falta, eu disse que não queria nada sério na época, mas me arrependo, me sinto sozinho e com tanta saudades desse seu jeitinho meigo e fofa de ser, estou com vontade do seu beijo... - disse me puxando para perto do seu corpo.
- Marcos eu... - Me beijou a força.
Naquele momento me senti sufocada e a única coisa que pensei foi em me afastar e voltar para dentro do salão, e foi o que fiz. Lá dentro a festa rolava solta, o pessoal dançava, ria, bebia e estavam na maior pegação, meus amigos me olharam e acenaram para que eu me juntasse a eles, simplesmente não me sentia a vontade no meio daquilo, não era mais como antes, minhas vontades haviam mudado e eu percebi que já era hora de ir para casa. Fui em direção aos meu familiares, pedi para irmos embora, recolhi as lembranças que tinha ganhado e fomos em direção à saída do salão.
Olhei para trás, e quando percebi lágrimas saltavam dos meus olhos, os sentimentos eram indefinidos, acabou a fase de menininha, querendo ou não começava ali a caminhada, as escolhas, as lutas, as responsabilidades e as incertezas. O que eu esperaria do meu futuro? Qual seria meu próximo passo? Eram perguntas que eu não sabia responder, senti medo, entrei no carro e ao sair da festa me deparei com um outdoor que dizia:

"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado."

Não compreendi como aquilo foi parar ali, mas naquele momento eu descansei e agradeci a Deus por acalmar meu coração.
Deitei minha cabeça no travesseiro e apaguei.

Sem essa de era uma vez!Onde histórias criam vida. Descubra agora