Capítulo 10: Hematofobia

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Havia tantas meninas vestidas de florais que até parecíamos estar em uma floricultura, eram saias floridas com estampas bem pequenas ou com enormes girassóis, eram vestidos longos e curtos das mais variadas cores, os meninos também entraram no clima e a maioria deles estavam com pelo menos uma peça de roupa branca e outra peça colorida, nada de flores além de um colar havaiano que Sabrina comprou para cada um. Falando em Sabrina, eita que menina ousada, aliás ela e a Laurinha vestiam saias de Hula longas e cor de palha, uma blusinha branca, o colar e flores no cabelo, foram bem criativas, quanto a mim estava usando um vestido tomara que caia floral de fundo branco com enormes flores azuis, ele era bem justo na cintura e depois tinha pregas até o joelho, e meu cabelo estava metade preso por um laço vermelho. Já quem chamava muita atenção era Bryan, aliás como sempre, ele tinha entrado mesmo no clima, estava vestindo uma bermuda branca, uma camisa vermelha toda florida, o colar e até nos pés usava chinelos com um raminho de folhas verdes no maior estilo Grécia antiga, esse garoto gostava de se aparecer.
Naquela noite Brayan e eu não trocamos muitos assuntos, somente alguns olhares disfarçados, digo, eu olhava de canto e quando percebia que ele estava olhando de volta eu desviava o olhar, até porque o líder havia liberado o salão para fazermos uma "balada gospel" e eu estava dançando e rindo à toa com as meninas, por fim o toque de recolher soou e somente eu e Sabrina ficamos para guardar a decoração, enquanto todos os meninos e meninas se dirigiam para seus respectivos quartos.
- Mel? - chamou Sabrina.
- Sou eu, rs. - disse rindo de bom humor.
- Nossa esse energético com melancia te fez bem Ein?! - rimos - Mas então, é impressão minha ou você e o Bryan resolveram dar uma trégua? - ela perguntou me encarando.
- Sim, eu fiz ele prometer que se eu decidisse que ele poderia ficar, ele teria que me deixar em paz e manter distância de mim! - falei dando de ombros, sem muito interesse.
- Caramba ein, você é mais difícil do que eu pensava, tá na cara que o garoto te irrita porque gosta de você! - falou rindo.
- Sabrina você está com sono só pode! Não fala besteira. - disse enquanto arrumava as toalhas das mesas na caixa.
- Na verdade estou mesmo! - Disse a garota bocejando. - Mudando de assunto, amanhã é o jantar romântico, a proposta é cada menino convidar uma menina, por isso disponibilizaremos os convites para eles amanhã de manhã, você já tem ideia de quem vai te convidar? - Sabrina perguntou, jogando o verde para colher o maduro.
- Eu não vou participar, vou ficar na decoração e com a apresentação do show de talentos lembra? - Falei virando os olhos.
- Mas isso não te impede de ser convidada, né!? - Disse com sorrisinho nos lábios.
- Sabrina você tá pegando no meu pé hoje, meu Deus, eu não estou afim, não quero ir com ninguém, não quero confundir a minha e nem a cabeça de ninguém, aliás, você está falando tanto mas com quem vai se o seu namorado não veio? - Perguntei tentando tirar o foco de mim.
Sabrina riu do meu nervoso e por fim falou:
- O Vitor vem amanhã para o jantar, conversei com o líder e ele autorizou!
- Certo! - dei de ombros - Bom acabamos, por favor, vamos dormir que eu estou morrendo de sono! - falei bocejando.
Saímos do salão, estava tudo escuro e quieto, deu até um certo medo do escuro, Sabrina e eu estávamos atravessando o campo quando ouvimos risadinhas e passos, nos olhamos assustadas e eu arrastei ela para trás da mureta da piscina. Minutos depois escutamos um rojão bem alto explodindo no céu, meu coração acelerou e eu vi sombras no lado oposto da chácara, em seguida um dos meninos vestido de preto com uma máscara de monstro saiu de trás da árvore, perto do alojamento feminino, e começou a esmurrar a janela de vidro, enquanto se ouvia sons de rojões e as meninas gritavam desesperadas, eu e Sabrina nos olhamos e eu disse:
- Sabrina, isso não vai dar certo! Ele tá esmurrando o vi... - Um estilhaço do vidro quebrando me interrompeu.
- Que bruxaria é essa Melissa! - ela me olhou como se eu tivesse previsto.
Saímos correndo em direção ao alojamento e as meninas saíram para fora com as caras assustadas, a mão do engraçadinho de mascara estavam ensanguentadas e por hora ficamos com medo de ter cortado alguma veia importante, pois o sangue esguichava e escorria pelo braço do garoto. Quando o menino tirou a mascara com a outra mão, Sabrina quase teve um treco, era o irmão dela e partir daí eu não lembro de mais nada, porque eu sempre fui "hematofóbica" e desmaiei quando cheguei perto do garoto.
Acordei, olhei em volta e não reconheci onde eu estava, só depois percebi que estava no quarto do líder e da líder, ela estava sentada do meu lado tentando me acordar com cheiro de álcool, deu certo, Flávia era uma pessoa muito legal e gostava de trabalhar com os jovens junto com o Julio, seu marido e líder de jovens, ela era atenciosa e ajudava em tudo. Eu tossia muito e minha cabeça estava doendo demais, mas consegui me lembrar o porque desmaiei e perguntei preocupada:
- Flávia, o que aconteceu?
- Você desmaiou, ué! - Flávia respondeu como se fosse óbvio.
Eu ri internamente falando um enorme "avaaaaaaa", mas ela era tão gente boa que nem deixei meu lado brincalhona rir dela, afinal ela estava cuidando de mim.
- Sim, eu sei, mas queria saber como o Téo está? - expliquei melhor.
- Ahh sim, ele foi com o Julio e a Sabrina para o hospital, parece que o corte foi grande e precisava dar pontos, mas acho que não cortou nenhuma veia porque logo parou de sangrar, e ele ainda estava de pé! - Flávia explicou-me.
Assenti com a cabeça e Flávia me ajudou a levantar, pelo jeito aquela noite ia ser longa e eu precisava descansar, afinal amanhã é o último dia nesse lugar, e eu já estava com saudades, apesar de todos os acontecimentos, retiro espiritual é um lugar maravilhoso, é uma oportunidade da gente esquecer o mundo lá fora e olhar diretamente para Deus, nos permite esquecer dos problemas, das dores, das responsabilidades e nos dedicar somente para Deus, era meu primeiro retiro e eu estava maravilhada com as experiências, calcei meus sapatos, agradeci a Flávia e segui para o alojamento. No meio do caminho alguém segurou meu braço, olhei assustada para trás, era ele:
- Oi Mel, será que podemos conversar? - Bryan estava lá de pé, de pijama, grandes olheiras e os cabelos totalmente rebeldes.
- Agora? Olha hora, só temos 2 horas de sono! - Eu respondi sem olhar nos olhos dele.
- Por favor, prometo ser rápido, não vai passar de 10 minutos! - pediu juntando as mãos.
- Ok garoto! Seja rápido, estou cansada. - falei me esborrachando no sofá do hall que havia em frente do alojamento.
Não havia ninguém para fora, estava tudo silencioso, eu sabia que não poderia ficar ali, aquela hora acompanhada do sexo oposto, mas eu queria escutar o que ele ia me dizer.
- Mel, eu queria te dizer que me ajudou demais te contar as coisas aquele dia, eu precisava colocar para fora os meus sentimentos e me abrir com você tirou meu sufoco! - Bryan disse se sentando perto dos meus pés.
Eu abri um sorriso bobo, conversamos mais um pouco e apaguei, dormi ali mesmo, no relento, com os pés no colo de Bryan me encolhendo de frio.

Sem essa de era uma vez!Onde histórias criam vida. Descubra agora