Capítulo 7: Sem ar

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Senti as mãos agarrando meus braços e me puxando para cima, logo o vestido rasgou e eu pude me desprender, ele me carregou até a borda da piscina. Minhas vias respiratórias queimavam como se estivessem em chamas, os meus olhos tinham um ardor que não me deixavam enxergar direito, a pessoa que me salvou, não pude identificá-lo no momento, me ajudou a subir as escadas da piscina e logo as mãos da Laurinha me envolveram em uma toalha e ela me acompanhou até o quarto, Laurinha era uma moça morena de cabelos longos e lisos, era alta e magra, sendo ela a braço direito do nosso líder, ultimamente estava me ajudando muito com as minha novas tarefas da diretoria, nos dávamos muito bem, algumas pessoas diziam que nós éramos tão parecidas quanto irmãs, eu gostava dela.
Acordei no dia seguinte com muita fome, olhei no relógio e ainda era bem cedo, porém já escutava a equipe da cozinha preparando o nosso café, me levantei e fui pedir para a senhorinha simpática me dar algo para comer pois sentia minha pressão caindo gradativamente. Aproveitei o tempo extra e fui para o vestiário tomar um banho, coisa que não fiz ontem a noite devido ao "acidente".
A devocional de hoje, assim como a anterior foi uma benção, olhei para os lados e muitos choravam desesperadamente, Bebel estava com a maquiagem toda borrada, ela era vaidosa e não ficava sem maquiagem devido às marcas de espinhas, eu também tinha mas não me importava, ao que me contaram Bebel estava passando por um término de namoro bem conturbado, e o pior é que ela gostava do garoto e estava nítido o sofrimento. Olhei para o outro lado e me assustei, Bryan estava se contorcendo no chão e chorando muito, fiquei com pena do garoto e fui na direção dele colocar as minhas mãos no ombro dele pra orar, quando uma mão me parou, olhei para cima e vi um par de olhos artificiais me encarando, é claro, Pati logo saiu soltando:
- Melissa, querida, deixa o garoto, Deus está limpando ele!
Assenti meio chateada e me afastei, Pati era legal, mas ultimamente estava me irritando com a história de que ela se auto denominou BFF do Bryan, bem que ouvi a Tati e a Laurinha comentando hoje de manhã que a cara do Bryan tendo que fazer massagem no pé da Pati foi demais, segundo elas a menina jogou as pernas no colo do garoto e pediu a massagem na maior cara de pau, como não participei da reuniãozinha de ontem à noite eu ri delas contando.
Graças a Deus o sinal tocou e fomos todos correndo para o almoço, peguei meu prato e preferi comer isolada na mesinha do guarda sol na área da piscina, quando dei por mim ele estava na minha frente e sem dizer uma palavra sentou ao meu lado e começou a comer, permaneci quieta e ele resolveu quebrar o silêncio:
- Oi, meu nome é Gustavo, acho que nem deu tempo de falar com você sobre o ocorrido de ontem - disse o garoto, que eu reconheci sendo o cara que me salvou.
- Olá, sou a Me...- Ele me cortou.
- Melissa eu sei! - Disse sorrindo.
Gustavo era um dos amigos que marcos trouxe para o acampamento, ele era alto, meio forte e tinha pele bronzeada natural, seus cabelos era pretos bem lisinho e o que mais chamava atenção no garoto era o sorriso cercado de uma barba por fazer.
- Gustavo, me desculpa por ontem nem ter te agradecido, eu estava cansada demais e só pensei em fugir daquela situação!- Eu disse com vergonha.
- Tudo bem Mel, posso te chamar assim? - Ele disse me olhando nos olhos, e que olhos.
Ficamos ali comendo e conversando, longe do barulhento refeitório, longe dos olhares curiosos e mais importante, longe do irritante do Bryan. Mas isso durou muito pouco, de longe, na porta do refeitório, pude ver um par de olhos nos observando, estreitei meus olhos e pude reconhecer Bryan, bufei de nervoso e tentei não ficar olhando em direção a ele, voltei prestar a atenção na conversa.
Apenas cinco minutos depois, Bryan estava de pé na nossa frente com o olhar duro em direção do Gustavo, murmurou:
- Mel, posso falar com você? - disse encarando o moço para que ele se tocasse.
- Pode falar! - eu disse me ajeitando na cadeira com a cara de indiferente.
- Será que pode ser em particular? - Bryan pediu.
Gustavo já estava ajeitando nossos pratos vazios e os copos para se levantar, então eu segurei o braço dele e retruquei:
- Gustavo fica, Bryan pode falar eu estou todo ouvidos.
Ele bufou, virou os olhos, virou as costas e saiu andando.
- O que foi isso? - Gustavo perguntou como quem não entendeu.
- Não sei Gu, mas não quero nem saber, já me irritei demais com esse garoto! - eu respondi entortando os olhos.
Voltamos a bater papo, até que o líder chamou todos para começar as gincanas, Gustavo correu em direção ao salão, e eu continuei ali quietinha, como era da organização não participei das equipes, aproveitei para ir arrumar a decoração da festa temática da noite que por acaso era havaiana, me juntei a Sabrina, minha melhor parceira de equipe, no caso a única, ela era uma moça de muita criatividade, bolou tudo praticamente sozinha enquanto eu me esforçava para ajudá-la da melhor forma a colocar a mão na massa, ela era uma jovem alta e magra, das longas madeixas escura e pele branquinha. A tarde passou que nem vimos, enquanto todos se divertiam na hora do lazer, eu e Sabrina terminávamos de montar a mesa de coquetel, estava tudo minuciosamente sendo preparado.
Em determinado momento olhei para frente e meus olhos pararam no lençol esparramado no gramado verdinho, e pude sentir o calafrio que passou por mim quando vi que era Bryan e Bebel deitados um frente ao outro conversando e se encarando, não sei o porque mas me senti mal, na próxima hora tudo o que fiz foi ficar olhando de periferia para o casalzinho deitado, quando me dei conta eu estava pensando alto:
- Muito bom, casalzinho novo, os sofredores do retiro! - falei bufando de raiva.
- Hein?! - soltou Sabrina sem entender.
Continuei olhando para lá e Sabrina olhou na mesma direção e sacudiu sua cabeça parecendo entender:
- Aí Mel eu já vi uma história parecida antes! - falou rindo.
- Como assim? - eu quis saber.
- Ué, você tá ficando dodói, mas calma que dor de cotovelo tem cura! - falou e gargalhou.
Revirei os olhos em reprova e voltei a arrumar as coisas, quando percebi que Bryan estava na minha frente, levei um enorme susto e fiquei mais assustada ainda por não saber o tempo em que ele estava ali e o que poderia ter escutado, mas sei lá, homens não entendem direito então dei de ombros.
- O mandona a gente pode conversar agora? - falou o azedo.
Olhei do lado e Sabrina já estava saindo de dentro do salão, não acreditei que ela tinha me deixado ali sozinha, vou esganar essa menina, pensei. Assenti com a cabeça, me sentei em uma das mesas e fiquei esperando a próxima zoeira que sairia da boca do Bryan.
- É, sobre ontem Mel, eu queria pedir desculpa, não era minha intenção te machucar, era só para ser engraçado como havia apostado com os meninos...-Bryan falou e eu interrompi.
- O que? Vocês não têm cérebro ou o que? Não sabem que a sucção para limpar a piscina para o dia seguinte é ligado à noite? - Falei com muita raiva.
- Mel, não sabíamos e não era intenção te machucar, estou aqui sendo sincero e a pedido do líder, você vai decidir se eu fico ou vou para casa! - Bryan falou de cabeça baixa.
Essas eram as regras do Retiro, quem fizesse qualquer coisa que machucasse o outro, quem decidia se ele seria punido ou não era a "vítima", que era voltar para casa. Eu pensei bem o encarando, fiquei lembrando do que a Mãe dele havia me falado sobre o dinheiro gasto e ser a última esperança dela, se eu mandasse ele para casa, certamente ele jamais apareceria na igreja de tão envergonhado e a mãe enlouqueceria. Em contra partida, ele merecia, alguém tem que parar esse garoto, e as regras eram para todos, o que ele fez poderia ter tirado minha vida se não fosse o Gustavo pular para me salvar. Pensando nesse lado eu decidi.

Sem essa de era uma vez!Onde histórias criam vida. Descubra agora