Então a voz de Lily interrompeu nosso momento.
- Sr. David, a sua esposa está chamando na sala.
- Se me chamar de senhor mais uma vez, juro que proíbo você de ser amiga da minha filha Lilyan.
Ela sorriu fechando os olhos. E ele foi embora. Sentei me na grama, com Lily sentando-se ao meu lado também, descansei minha cabeça no seu ombro, e ficamos assim até uma empregada nos chamar para o jantar. Após aquilo tudo, umas poucas pessoas foram embora, e Lily também teve que ir e as que ficaram estavam na sala conversando. Varri o local com os olhos a procura do meu pai, mas nada. Parei um garçom que passava.
- Você viu meu pai? - ele me olhou confuso. - O dono da casa, David.
- Oh sim, senhorita. O vi subindo as escadas fazem vinte minutos.
(N/A: Dêem play na música)
Chega de festa pra mim por hoje, pensei. Iria só dar um beijo de boa noite em meu pai, e ir dormir. Passei pelo corredor do meu quarto, e fui em direção ao quarto dos meus pais, ele só podia estar lá. Quando fui chegando perto percebi que a porta estava entre aberta, me aproximei devagar, e quando finalmente pude ver quem estava dentro do quarto, desejei nem ter levantado da cama hoje de manhã.
Ele estava sentado na cama com uma mulher no seu colo, e eles se beijavam. Ele desceu a mão pelas costas dela e passou a mão por baixo de sua blusa, enquanto ela segurava seus cabelos. Era morena. Ele estava traindo minha mãe dentro de casa, na cama em que eles dormem. Meu pai, o único que não era falso, que não mentia. Ele era de verdade pra mim naquela casa cheia de mentiras. Senti meus olhos encherem de lágrimas.
Minha mãe o amava, ela não era uma boa pessoa, era egoísta, rude na maioria das vezes, mas ela o amava. Qualquer pessoa podia ver isso. Eu via como ela ficava devastada após uma briga, ela tentava esconder como se sentia, mas eu passei tempo demais a observando pra saber quando ela estava chateada. Porque ele estava fazendo aquilo com ela? Porque ele estava fazendo aquilo com a gente?
Sai correndo em direção ao meu quarto, não aguentaria ficar ali por mais tempo. Tranquei a porta e deixei meu corpo descer até sentar-me no chão. Reprimi um soluço. Tudo era mentira, todos eles mentiam. É isso o que as pessoas fazem, elas mentem e te magoam, e você não pode fazer nada. Era tudo culpa dela, se ela fosse uma pessoa melhor, se ela pelo menos tentasse nada disso estaria acontecendo. Mas eu estava cansada de chorar em silêncio, não daquela vez. Se a vida me ensinou algo, é que sei aguentar o tranco. Tudo em mim era raiva. Peguei um vaso que ficava na prateleira perto da porta e o atirei contra a parede, vendo os cacos estilhaçarem no chão.
- Mentirosos! - falei entre soluços.
Fui até o banheiro, jogando água em meu rosto. Tirei todo resquício de maquiagem que havia nele. Voltando ao quarto tirei meus saltos e fui até a sacada que dava para o jardim. A parede era irregular, e a queda não seria muito alta. Apoiei-me no mármore e pendurei meu corpo, Um, dois e... quando me dou conta, já fui, me joguei antes de contar até três. Me arrebento rápido, nem dói de tão ligeiro. Mentira, dói de qualquer jeito. Andei apressada, sentindo meus pés na grama molhada. Quando cheguei ao portão, logo abriram para eu passar.
Senti o vento gelado da noite no meu rosto, bagunçando meus cabelos. Inspirei o ar, e o soltei lentamente pela boca. Comecei a andar sem rumo pelas ruas de Hagerstown, e quando vi já estava correndo. Não sei por quanto tempo corri, nem para onde estava indo. Minha visão ficava desfocada devido às lágrimas que insistiam em cair. Esvaziei minha mente. Não pense, não sinta. Respirei e inspirei. Minhas veias começaram a arder, e minhas pernas doíam, mas não parei. Não sabia por que tinha começado a correr, mas de repente me parecia a melhor coisa que já havia experimentado. O vento que batia em meus cabelos, e entrava em meus olhos fazendo-os arder ainda mais. Meus músculos rígidos e doloridos a cada passo. Dobrava em ruas aleatórias, sem me preocupar em me perder.
Era libertador.Tudo era puro silêncio. Estava na autoestrada. Só conseguia ver os bosques ao redor, e uma enorme e solitária pista. Eu estava sozinha, parei de correr. As lágrimas já não caiam mais, me sentia calma, relaxada apesar de tudo em mim doer. Todo o meu corpo doía, tanto por dentro como por fora. Fui até o meio da pista e comecei a andar pelas linhas amarelas, como em uma corda bamba.
Será que ele a amava? Ou talvez ele estivesse só precisando de sexo? Ela podia ter dado em cima dele naquela noite, e ele não resistiu. Ou será que se conheciam a mais tempo? Seria a primeira vez? Minha mente martelava todas aquelas perguntas sem respostas.
Eu gostava muito de ficar sozinha as vezes, a solidão sempre me foi tentadora. Mas agora tudo o que eu queria era que Lily estivesse aqui, ou Tessa, ou Scott, qualquer pessoa. Pra me dizer que tudo iria ficar bem.
— Every tear a waterfall – cantarolei baixinho uma das minhas músicas preferidas. - in the night the stormy night she'll close her eyes….
Então eu vi um farol ao longe, e parei de andar. Era uma moto, e vinha em minha direção. E quanto mais perto ela chegava mas a velocidade diminuía então ela parou ao meu lado. Quem a pilotava era um garoto alto e de olhos verdes. No momento em que aqueles olhos curiosos se cruzaram com os meus eu o reconheci. O filho do prefeito.
Seu olhar continuava me avaliando curiosamente. Minha mente travou. Será que eu tinha corrido tanto ao ponto de ter alucinações? Então ele tirou o capacete, deixando seu cabelo cair bagunçado. Tá bom, ele até que era bonitinho. Inclinei minha cabeça para um lado, olhando sua roupa, agora ele usava uma calça jeans preta colada, vans pretos e uma camiseta branca simples. Quando voltei meu olhar a seu rosto vi que ele estava encarando minhas pernas descaradamente. Me remexi desconfortável, o jeito que ele olhava para o meu corpo, como se eu fosse a coisa mais extraordinária que ele já viu na vida. Então ele sorriu, e finalmente falou:
— Tsc, tsc, tsc – balançou a cabeça negativamente. – Quem partiu seu coração desta vez Melanie?
Não me surpreendia que ele sabia quem eu era, e sim aquela pergunta, era muito invasiva, e íntima. Será que eu estava tão acabada assim? Provavelmente.
— As pessoas geralmente costumam nos decepcionar, não é mesmo? – falei com um sorriso triste olhando para o nada. Senti o choro na minha garganta mais tratei de engolir, chorar na frente de um garoto que acabei de conhecer não era algo que eu gostaria de fazer naquele momento. Ele não falou nada então continuei:
— Eu preferia não ter que lidar com isso. – mordi os lábios.
— Dizem que a melhor maneira pra não ter seu coração partido, é fingir que não tem um.
— E tem funcionado pra você até agora? – questionei.
—O que você acha? – ele me olhou superior.
— Acho que deve ser muito chato, passar a vida guardando todos esse sentimentos dentro de você, fingindo não sentir. Somos apenas humanos, moldados para o amor, essa é nossa glória. – era assim que eu pensava.
— E também nossa tragédia. – ele completou. – Você está bem longe de casa.Como se ele se importasse.
— Eu sei me cuidar.
— Eu posso te deixar.
— Não gosto de caras como você. – ele sorriu.
— Caras como eu? – arqueou as sobrancelhas ainda sorrindo, balançou a cabeça negativamente e colocou o capacete.
Agora só podia ver seus olhos, e eles encaravam os meus lábios, os mordi involuntariamente, era uma mania. Ele soltou o ar pesadamente e deu partida na moto. E eu fiquei lá, encarando o vazio. Seria uma longa caminhada.
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D-O-L-L H-O-U-S-E
Ngẫu nhiênNa pequena cidade de Hagerstown não acontecem coisas muito fora do comum. A cidade é pura luxúria, todos vivem com sorrisos falsos em seus rosto. As pessoas ficam surpresas com a volta inesperada de um mistério ambulante chamado Harry Styles, mais c...