South Hagerstown High School

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Sabe quando você acorda de manhã, e já sente que aquele vai ser um péssimo dia?

Tudo começou quando meu doce irmãozinho resolveu que não iria no jantar beneficente que minha mãe iria dar. Ele simplesmente sentou-se na mesa, e disse em alto e bom som que iria ter que sair naquele dia. Nem preciso dizer que Kate surtou. Louis estava realmente querendo uma 3° guerra mundial. E então ela começou um discurso sobre o quanto era necessário que ele estivesse presente, que a família precisava ficar unida. Em minhas palavras, fingir ser unida.

E ela ficou falando sozinha o café da manhã inteiro, enquanto Louis nem se dava ao trabalho de tirar os fones de ouvido, e eu e papai tivemos que suportar aquele sermão ridículo. Realmente não sei o que deu no Louis, ele sempre concordava em ir aos jantares, festas, leilões, tudo o que Kate inventasse para se sentir melhor e útil. Até porque não era sempre que tínhamos esses compromissos familiares. Revirei os olhos pela décima vez naquela manhã.

Eram 07h45min, e Scott ainda não tinha aparecido. Comecei a andar de um lado para o outro na calçada, olhando para os lados, mas nem sinal do seu carro. Isso Melanie, chegue atrasada no primeiro dia de aula, e dará a Kate mais um motivo para brigar com você.

Eu poderia pegar meu carro e ir sozinha, só que tínhamos combinado que hoje ele me buscaria para irmos juntos. Falei ontem a noite com ele. Mas eu não iria ficar aqui esperando por Scott. Ele teria que ter uma desculpa muito convincente. Entrei dentro de casa correndo, recebendo olhares feios dos empregados que com certeza falariam para minha mãe, mas naquele momento não me importei.

Peguei as chaves e desci direto para garagem. Tínhamos cerca de 5 carros. Meu Audi, a Ferrari e a Mercedes do meu pai, o Porsche do meu irmão, e a Lamborghini da mamãe. Adorava meu carro, ele era simplesmente maravilhoso. Entrei e dei partida. A South Hagerstown High School não ficava muito longe da minha casa, mas também não dava para ir a pé. Eu estava ansiosa, e morrendo de saudade das minhas amigas. Realmente esperava que esse fosse um bom ano. E que passasse rápido. Queria o quanto antes ir para faculdade.

...

Quando cheguei na rua da escola, já pude notar a movimentação. Muitos carros estacionados, pais se despedindo dos filhos, calouros conversando entre si, veteranos se reencontrando. Suspirei.

Todo mundo parecia feliz ali. Fui em direção ao estacionamento, meu carro recebia olhares curiosos. Chegando lá estava meio cheio, mas logo encontrei uma boa vaga. Senti meus saltos em contato com o chão e o vento balançar meus cabelos. Levei os dedos a minha testa, para ajeitar minha franja e me dirigi a entrada principal da escola. Seria fácil, tinha que ser.

...

Todos os olhares automaticamente se viravam para mim. Ser Melanie Martinez no primeiro dia de aula na South Hagerstown High School não era algo legal. Não podia descrever a sensação de passar por aquilo, mas se pudesse diria assustador. É como se estivesse em um desfile, onde eu era a modelo principal. E não de uma maneira boa.

Os calouros me olhavam e cochichavam entre si, os veteranos se resumiam a me avaliar com os olhos. Vesti meu melhor sorriso e entrei na selva de pedra. Eu gostava bastante do meu sorriso, meus dentes da frente eram meio separados, já tinha virado uma marca minha. Desde os 10 anos minha mãe me implora para que os corrija com aparelho ou cirurgia, mas nesse quesito eu nunca cedi. Na High School, o estacionamento ficava ao lado da escola, e para você chegar na entrada tinha que sair dele e caminhar pela calçada.

Depois desse pequeno trajeto, via se a primeira entrada, que era meio que um jardim, tinha mesas onde as pessoas almoçavam, e passavam o tempo, algumas árvores, vários bancos, era minha parte preferida da escola. Chegando lá, vi muitos alunos também, esse ano tinha mais pessoas que ano passado, com toda a certeza. Entrei na parte de dentro ainda recebendo olhares, tinha que achar Lily. Não suportava mais aquilo, aquela atenção toda.

Logo consegui vê-la apesar da multidão de pessoas, estava entretida lendo algo com a porta do armário aberta, de longe podia ver o posters de Harry Potter e outras coisas nerd dentro. Lily ficava mais bonita a cada ano. Ela era minha melhor amiga aqui, a única que me entendia de verdade.

- Já pegou nossos horários? - sussurrei em seu ouvido.

Ela se virou abruptamente, com uma mão sob o peito.

- Quer me matar do coração Melanie? - ela questionou - Não vi você chegando, Deus!

Sorri para a morena parada em minha frente e a abracei forte.

- Estava com saudades - falei.

- Eu também

Lily e eu não nos vimos muito nessas férias, foi um período muito corrido para mim, com viagens, jantares, e tudo mais que minha mãe inventava. Sempre tinha que adiar nossos planos.

- Nossos horários?

- Aqui está - ela me entregou o papel. - Está tudo bem, Melanie?

Concordei com a cabeça, observando minha grade de aulas, a próxima seria em 20 minutos.

- Onde está o Scott? - Lily questionou.

- Demorou a perguntar - respondi ainda olhando o papel.

- Fala logo...

Levantei o olhar para encara-la.

- Eu não sei - bufei. - Ele não apareceu para me buscar hoje.

Lily arqueou uma sobrancelha.

- Olha deve estar tudo bem com ele, tenta não pensar muito nisso.

- Você sabe o quanto ele é irresponsável e se de repente ele aprontou alguma e os pais dele...

- Melanie, nenhum pai proibi um filho de ir pra escola. A escola em si já é um castigo. – ri pelo nariz – Ele deve aparecer ainda hoje.

- Tenho aula agora, te vejo no almoço. - dei um beijo estalado em sua bochecha.

Eu estava realmente preocupada com Scott. Pode parecer possessividade, mas ele não vir pra escola justo no primeiro dia de aula era a coisa mais estranha do mundo. Scott adorava atenção, diferente de mim, ele amava ter todos os olhares sob ele. Resolvi listar mentalmente possíveis motivos para ele não vir hoje:

1. Ele perdeu a hora dormindo

Mas não era possível, já que quem o acorda é sua mãe.

2. Ele bateu o carro e morreu.

Não, já estaríamos sabendo.

3. Ele bateu o carro, mas não morreu.

Também estaríamos sabendo.

4. Ele ficou doente.

Provável, mas nem tanto. Ninguém fica doente a ponto de não ir pra escola em uma noite. Nos falamos ontem!

5. Ele fugiu para Índia com uma garota.

Até agora esse parecia o mais provável.

Conferi meu celular, e nada. Nenhuma ligação, nem mensagem, nada. O sinal tocou, e eu apressei meu passo para chegar na classe. O problema daqui é que era muito, muito fácil se perder. A escola tinha quatro andares, campo para jogos, área de piscina, refeitório, auditório, biblioteca, radio, jornal, sala de dança, campo de futebol, entre outros. Meus passos eram rápidos, e os livros em minhas mãos mais um salto de 12 cm não ajudavam na minha locomoção. Os corredores iam ficando vazios, e de repente um corpo de se chocou com o meu, me fazendo cair no chão e derrubar os livros.

Levantei os olhos para a pessoa parada na minha frente, que não mexia um músculo para me ajudar a levantar. Nada bom. Definitivamente nada bom.

D-O-L-L H-O-U-S-EOnde histórias criam vida. Descubra agora