The 1975

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Às vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam. Somos finos como papel. Existimos por acaso.

Quinta feira

O primeiro dia foi o mais fácil. Eu não iria. Aquilo era muito insano, até para mim. Aquela não era eu. Eu estava confusa, mais do que o normal. Tinha sido uma semana muito agitada. A traição de Scott. Nosso término. O beijo. A proposta de Harry. Tudo estava diferente. Minha vida estava uma bagunça.

...

Sexta feira

O segundo dia foi confuso. Todos na escola ainda falavam sobre o término. Os olhares vinham sob mim muito mais intensos que o normal. E era oficial, Sophie Carter estava namorando com Scott. Todas as vezes que ele disse que me amava. Todos aqueles carinhos sem motivo, aquele boa noite preocupado. Aquela saudade depois de um final de semana sem me ver. Tinha sido um longo ano com ele, e havia muitas lembranças. Uma parte mim sempre estaria com ele. Esse é o pior de tudo, quando uma pessoa entra na sua vida e começa a fazer parte dela de alguma maneira, é impossível que a esqueçamos. É impossível olhar para ele e não lembrar de tudo. E mesmo que Lily diga que com o tempo passa que um dia não fará diferença eu sei que não é verdade. Mesmo que eu não tenha me apaixonado, eu meio que aprendi a gostar dele. E agora ele foi embora. Ele mentiu. Estou tão farta das pessoas mentindo para mim. Como se eu não sentisse. Como se fosse algo fácil, não é. Era horrível. Aquela noite foi mais uma das que eu fui dormir chorando. Por tudo, e por todos. Eu me chorei inteira.

...

Sábado

Acordei com o rosto inchado e os olhos vermelhos, mas nada que uma maquiagem resolvesse. Ela sempre resolvia. Camadas de corretivo tiravam minhas olheiras. Lentes de contato escondiam meus olhos vermelhos. Unhas postiças não deixavam aparecer às unhas roídas de ansiedade. Batom vermelho camuflava os lábios cortados, mordidos violentamente em tentativas de abafar os soluços. Perdi a conta de quantas vezes acordei assim, e quantas vezes eu tive que fingir que estava tudo bem. As pessoas nunca notavam. Não notavam o quanto tudo me machucava. Encarei meu reflexo abatido no espelho.

Havia duas mulheres no meu cabelo. Mais duas nas minhas unhas. E outras duas nos meus pés. Meu quarto nunca esteve tão movimentado. Penélope, a morena que escolhia todas as roupas de minha mãe para os eventos estava há horas no meu closet tentando montar algo para esta noite. Ela havia trazido alguns vestidos para mim de sua boutique em Annapolis, mas é claro que eu não havia gostado de nenhum.

— Você fica muito mais bonita com ele assim liso, querida. - a loira que estava esticando meus cabelos falou sorrindo.

— Concordo plenamente.

— Obrigada. - minha voz saiu rouca e estranha.

Perdi-me em pensamentos enquanto as manicures também elogiavam o quanto eu era bonita. Respirei fundo. Eu odiava aquilo. Aquelas pessoas fingindo gostar de mim, todas lutando pela minha atenção. A porta se abriu violentamente mostrando dois homens com incontáveis sacolas nas mãos.

— Finalmente! - Penélope apareceu. — Trouxe as melhores roupas da Vous Aimer Melanie.

— Vai ser impossível você rejeitar uma dessas amor! - um dos homens falou e eu ri pelo nariz.

- PENÉLOPE! - escutei o grito estridente de Kate e a pobre mulher correu para seu quarto.

E o resto da tarde se passou assim, agitada.

...

Eu estava pronta, e estava deslumbrante. Encarei meu reflexo no espelho. Um vestido preto longo estio grego, com um decote em V profundo que deixava meus seios separados. Usava um salto da mesma cor. A maquiagem estava carregada de delineador e rímel. Um batom nude discreto. Meu cabelo estava liso e partido ao meio, caindo sob minhas costas. Eu estava... Bonita. Mas tão diferente de mim. Não queria ir para aquele leilão. E não queria ir para nenhum outro lugar com Harry. Só queria ficar em casa, encolhida na minha cama assistindo um filme qualquer. Ficar longe de tudo o que estava acontecendo. Não queria ter que enfrentar todas aquelas pessoas mais uma vez com um sorriso falso no rosto. Não queria nem sair do meu quarto. Ouvi um barulho na minha porta, alguém pedindo permissão para entrar.

D-O-L-L H-O-U-S-EOnde histórias criam vida. Descubra agora