Mateo acabara de me avisar de um ponche que teria na universidade. Eu não estava nem um pouco interessado. Não queria presenciar gente bêbada sendo babaca, ou ter de aguentar flertes quando não estava com o melhor dos meus humores.
Eu estava na biblioteca, tentando estudar. Meu notebook aberto ao meu lado. Mas mantinha minha cabeça deitada em cima da mesa e suspiros mal-humorados saíam de mim, sem que eu pudesse controlar.
Mateo mandou outra mensagem:
"Cala a boca. Você está parecendo uma criancinha! Você vai, sim. Para de ficar com esse humor de bosta e vem se divertir."
Eu revirei os olhos. Até parece que eu iria conseguir me divertir, agora. Estava com raiva de um tudo, ao mesmo tempo. Minha mãe não estava bem. A quimioterapia estava indo bem, os médicos diziam. Mas o estado em que ela se encontrava dizia exatamente o contrário; tivera que raspar a cabeça. Seu rosto ficava o tempo todo pálido. Ela parecia tão fraca. Além do fato de que vomitava muito.
Não parecia aquela mulher poderosa e metida de antes. Ela parecia outra pessoa.
"Mateo, você sabe que não é só por causa dela. Não é só isso. Não estou no clima."
Ele nem demorou a responder.
"Na verdade, acabei de mudar de ideia. Acho melhor você não vir mesmo."
Franzi a testa, não entendendo.
"Por quê?"
"Ela tá aqui..."
"E daí?"
Mas eu só falei aquilo para parecer que não estava nem aí, quando, na realidade, estava quase bufando. Ela nem gostava de festas e estava lá...
"Bem, acho que é melhor você ficar aí mesmo, fingindo que tá estudando. Falou, até depois"
Eu não respondi. Mas isso não significava que eu estava ok com a resposta dele. Quer dizer, era como se ele estivesse me dispensando porque sabia de algo que achava melhor eu não ver. Ou porque achava que eu e ela fossemos brigar.
Ou eu estava sendo paranoico?
Provavelmente. Mas que culpa tinha eu? Fazia semanas que a gente não se falava. Jas e eu; era um saco.
Era como antes, ela passar por mim e nem olhar na minha cara. E eu sempre olhava para ela. Sempre. Até sentia raiva de mim mesmo, por isso. Afinal de contas, eu também não queria falar com ela. Ainda continuava pensando na nossa briga e não conseguia não ficar com raiva. Não só dela, de verdade.
E talvez eu fosse mesmo um completo babaca. Tinha quase certeza. Acho que eu era mesmo.
Eu menti pra ela. Jas apenas não me contou porque estava com receio. Eu sabia disso. Mas eu ficava tão irritado com fato dela não me contar nada disso. Ela simplesmente me escondia, porque sabia que eu iria dizer algo que a faria mudar de ideia. Ou ela simplesmente não se importava tanto quanto eu.
Estava completamente confuso.
Queria conversar com Jasmine, mas sabia que não dava, agora. E eu também não teria o que dizer. Não quando eu ainda sentia que estava com razão. Quando sentia que ela era injusta comigo. Quando sentia que ela sempre iria esconder coisas de mim.
E aí eu lembrava que estava escondendo algo de Jasmine, também, e me sentia um hipócrita. Tentava me colocar no lugar dela, mas a irritação sempre me dominava nessas horas.
Agora ela estava numa festa, enquanto eu estava pensando nela, feito um idiota. Me lembrei de quando sentia que ela não estava nem aí pra mim, e aquilo me invadiu de uma forma nada boa. Comecei a sentir isso, novamente. Sentir que Jas não ligava pra mim, que o que eu sentia não importava pra ela. Que o fato de ela me esconder coisas, sempre me deixar no escuro, nunca mudaria e que ela não estava nem aí em me deixar dessa forma.

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Yesterdays
Romance"Para fugir do aglomerado de pessoas da faculdade, Jasmine Allen sempre está com os fones nos ouvidos, a menos que esteja acompanhada dos amigos ou durante as aulas. Essa razão, somada ao fato de ela não ser nada social, teve certa contribuição para...