Capítulo 19

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Quando eu percebi, Oliver estava meio sentado na cadeira e meio caído no chão. Eu nunca vira Tyler tão enraivecido na minha vida. Estava completamente vermelho, gritando com seu pai, por pouco não batendo nele também. Sra. Noel chorava enquanto ajudava Oliver junto de Felícia. E eu não sabia o que fazer diante daquilo tudo. Não sabia se gritava junto com Tyler, se o puxava, se ia ajudar Oliver com as outras, ou se continuava parada.
Sr. Noel saiu de onde estávamos e Tyler foi atrás, ainda gritando com ele. Na mesma hora Felícia me olhou e eu sabia que ela estava me dizendo para ir até eles. E eu fui.
- Agora você está do lado dele, Tyler? - Ouvi Sr. Noel gritar para o filho.
- Você não vê que eu sempre estive?! Que tipo de pai é você? Que faz tudo o que faz? Você ao menos se preocupa com o fato de que você ataca seu próprio filho, na frente de todo mundo, e, principalmente, na frente da sua esposa, que ainda por cima está doente? Que tipo de pessoa você é, pai? Responda! - Tyler gritou mais do que nunca. Tanto, que veias apareceram em seu pescoço e seu rosto todo continuava extremamente vermelho. - Que tipo de pessoa dá em cima da namorada do filho? Que tipo de pessoa sequer dar importância para o que é importante para sua família? Você espera respeito de nós, pai, mas nunca quis que esperássemos que você fosse nos dar o mesmo, não é? Porque, pensando em tudo agora, eu acredito mesmo que você nunca deu!
E sabe o que o Sr. Noel fez? Riu.
- Um piralho que sempre foi mimado me dizendo essas coisas, faça-me o favor!
- Eu tive esperança que o senhor fosse mudar. Tive mesmo. - Tyler disse, baixo. - Quando mamãe adoeceu, pensei que você fosse se tocar... No entanto, nem isso você foi capaz de fazer.
- Eu estou a par de todos os tratamentos possíveis que sua mãe pode ter! Estou sempre lhe dando tudo o que precisa! O que mais você quer que eu faça? Eu não sou médico! E sequer sei a cura para o câncer!
Eu quis chorar.
- Eu odeio você! - Tyler gritou e quase foi pra cima dele, mas eu impedi. - Odeio você com todas as minhas forças! Você não merece minha mãe! E eu não vou descansar até tirá-la dessa casa, de perto de você!
Tyler deu as costas ao seu pai, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos. Voltamos para onde os outros estavam e alguém trouxera uma bolsa de gelo para colocar em cima do roxo que se formara no rosto de Oliver.
- Não devia se desgastar com ele. - Oliver disse, olhando para Tyler. - Não vale a pena, irmão. - Suspirou.
- Eu só... Não aguento mais. - Tyler disse. - E muito menos ficar calado diante de tudo isso. Ele passou dos limites, Oli. E há muito tempo.
Eu me aproximei da Sra. Noel, que estava sentada, ao lado do filho mais velho.
- Você está bem? - Perguntei.
- Não poderia estar pior. - Ela disse, fungando.
- Mãe... - Oliver disse, a abraçando. - Me perdoa.
- Perdoar você? - Ela perguntou, enquanto chorava no ombro dele. - Mas você não precisa ser perdoado, querido. Meu desgosto está longe de ser com você.
- Vamos dormir comigo, hoje, mãe. - Oliver pediu. - Vai ser ótimo, não acha? Por favor.
- Ah, meu filho... Você sabe que não é assim...
- Mãe... - Tyler disse, tomando meu lugar perto dela, assim que eu dei espaço para ele. - Tenho certeza que irá ser bom pra senhora. Prometo ir tomar café com vocês!
Ela riu. Oliver limpou as lágrimas da mãe.
- Vamos, mãe... É um ambiente muito melhor pra você.
Ela finalmente assentiu.
- Certo, então. - Ela disse, se levantando da cadeira. - Vou só...
Ouvimos um som alto de porta batendo. Não muito depois, ouvimos um carro saindo veloz.
- Vou só arrumar algumas mudas de roupa. - Ela disse, perdendo o sorriso e suspirando.
Felícia a acompanhou até o começo das escadas, mas logo voltou até nós.
Me aproximei de Tyler e acariciei seu rosto. Sua expressão tensa, seus olhos feridos.
- Meu amor... - Envolvi sua cintura com meus braços. - Me dói te ver assim.
Ele também me abraçou. Forte.
- Desculpa por tudo isso. - Suspirou. - Prometi pra você que não seria nada demais e no entanto...
- Você o enfrentou. - Sussurrei para ele. - Você conseguiu. Mostrou pro seu irmão, como queria. Mesmo que ele já soubesse, desde sempre, de que lado você estava.
- Eu só queria tanto não ter precisado... Nunca precisar...
Coloquei minha cabeça em seu peito, a fim de ouvir as batidas de seu coração. E elas estavam rápidas.
- Eu sei... - Apertei-o em meus braços. - Sinto muito, meu amor.
Ele pegou, delicadamente, meu rosto em suas mãos e olhou fundo em meus olhos.
- Eu adoro quando você me chama assim. De meu amor. - Dei um sorriso tímido para ele. - Eu nem sei o que faria se você não estivesse aqui...
- Mas eu estou e é isso que importa.
- Sim.
Encostei meus lábios nos seus, num beijo cheio de sentimentos.
- Pode dormir comigo hoje? - Pediu. - Não quero ficar sozinho.
- Claro... - Assenti. - Já estava pensando nisso.
- Obrigado.
- Não há de quê.
Fez carinho em meu rosto. Ainda estava longe, enquanto fazia isso. Seus olhos continuavam transmitindo a mesma dor. Eu queria poder tirá-la dele, mas sabia que não era simples assim. Tyler e Oliver deviam guardar tanta coisa dentro de si. Ainda mais Sra. Noel, que estava passando por momentos bastante difíceis. E eu pensando, no começo desta noite, que ela seria o meu maior desafio... Ledo engano.

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