Sabia que não podia falar a verdade para Jasmine sobre onde estava indo. Na verdade, sabia que talvez não fosse uma coisa boa, mas ficar parado e apenas aceitar essa situação, não estava me fazendo bem. Aliás, acho que a ninguém. Por isso, quando entrei na propriedade onde meu pai vivia - bem, era estranho falar desse jeito, mas não parecia certo falar que era casa da minha mãe, no momento -, sabia que não iria acabar bem, mas estava conformado com o que poderia acontecer, porque estava decidido a falar o que queria.
Deixei o meu carro por ali e fui entrando. Perguntei pelo meu pai e me disseram que ele estava em seu escritório. Novidade.
Esperei alguns segundos até tomar coragem para bater na porta.
Ele demorou a atender, claro. Provavelmente pensou que fosse alguém dá casa para lhe dar algum recado.
- Pedi que não fosse incomo... - Ele dissera, com toda sua arrogância jorrando. Mas, ao perceber que era eu, não concluiu. Ficou um tanto sem reação, pêgo de surpresa. - Ah, é você. O que está fazendo aqui?nteceu alguma coisa com sua mãe?
- Não. - Eu disse, seco. - Mas você não precisa fingir que se importa.
Ele suspirou e deu espaço para que eu entrasse em seu escritório.
- Se veio até aqui para discutir, Tyler, eu não tenho tempo para isso.
- Quando você tem tempo para sua família, certo?
Ele estava ficando impaciente, mas tentando se conter.
- Tyler, sinceramente, o que você quer? É algo com sua mãe?
- Sim, é algo com minha mãe. - Comecei. - É o fato de que você sequer foi vê-la ou deu um telefonema. Ou quis que ela sentisse que você se importa com ela.
- Eu estou cuidando dela! - Ele disse, incrédulo. - Estou fazendo mais por ela do que vocês! Ou vocês acham que todo o tratamento e medicamentos são baratos?
Arrogância. Era tudo o que aquele homem tinha em si.
- Você acha que é suficiente?
- E como isso não seria suficiente?
- Que tipo de ser humano é você? - Perguntei. Eu não sabia como estava conseguindo lidar com a situação. Não sabia mesmo. - Você, alguma vez, a amou? Você, alguma vez, sentiu algo por ela?
Eu tinha tanta coisa pra falar, mas eu sempre quis fazer aquela pergunta à ele. Nunca consegui saber se existia amor dentro dele, ou qualquer sentimento que não fosse por si mesmo.
- Você acha mesmo que sou obrigado a responder essa pergunta? - Ele riu. - Tyler, cresça.
- Você não a ama. Nunca amou. Você apenas ama a si mesmo, ninguém mais. - Eu disse, contendo a raiva, a decepção, a mágoa. - Você nunca pensa nela, em como sua ausência a afeta. Em como isso mexerá ainda mais com a cabeça dela. Você não pensa que ela te ama e que ela espera coisas de você. Que ela quer você ao lado dela, apesar de tudo. E que nesse momento... Principalmente, nesse momento, ela precisa de você; mas você acha que pagar médicos, tratamento, mandar pessoas irem fazer as coisas por você... Acha que isso é sua presença pra ela? Que é demonstração de amor? Ou seja lá o que você tem aí dentro. - Soltei -Você é a pessoa mais egoísta que já conheci na vida. Você não sabe como a machuca. Como machuca à seus filhos. E é por isso que todo mundo se afasta de você, porque você não merece nenhum afeto. Mas você não liga, não é mesmo? Você se importa com sua empresa, apenas.
Ele me olhava com raiva. Mas tinha algo em seu olhar dizendo que aquilo o atingira.
- Não vou tomar mais seu tempo, Gregory. - Eu disse, me dirigindo à porta. - Você está muito ocupado, certo?
Eu saí de sua sala sem obter resposta alguma.***
Já fazia algum tempo desde a hora em que falei com Tyler. Ele não me ligou, então imaginei que ainda estava na casa do seu irmão. Enquanto isso, Samanta, Will e eu estávamos organizando as coisas de Will, porque logo ele iria se mudar. Dave estava a caminho. Nós iríamos no apartamento - Sr. Poe já tinha entregado a chave para Will -, para termos uma ideia de onde colocaríamos as coisas dele. Era bem parecido com o nosso, então já tínhamos uma ideia.
O pai de Will iria mandar um caminhão com os móveis que ele teve de guardar na casa dos pais, pelo tempo que ficou conosco. Meu amigo parecia feliz por finalmente voltar a ter seu cantinho e ainda melhor por ser perto da gente. Já estava pensando em fazer uma festinha pra comemorar.
- Vou poder andar pelado pela casa!
- Como se você não fizesse isso aqui. - Disse Sam.
- Ei, eu não faço! No máximo ando de cueca.
- Dá no mesmo, Will.
- Não dá, não.
- Acho bom você fazer duas cópias da chave do seu apartamento. - Eu disse. - Uma pra mim e Sam, já que você tem a chave do nosso.
Sam riu.
- Ih, boboca, eu vou devolver a de vocês.
- Tá vendo, Sam? A gente divide o nosso apê com ele, mas ele não pode fazer o mesmo com o dele!
- Ai, tá! - Ele cedeu. - Vou fazer. Mas é só pra emergências!
- Você sabe que a Mônica dizia isso para os outros, mas eles viviam na casa dela, né? - Sam disse, fazendo referência a Friends, a série.
- Mas eu não sou a Mônica e eu expulso vocês rapidinho!
- Você é muito mal agradecido.
Meu celular vibrou com a notificação de mensagem que havia chegado. Era de Kendall.
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Yesterdays
Romance"Para fugir do aglomerado de pessoas da faculdade, Jasmine Allen sempre está com os fones nos ouvidos, a menos que esteja acompanhada dos amigos ou durante as aulas. Essa razão, somada ao fato de ela não ser nada social, teve certa contribuição para...